Com o auditório Vladimir Herzog lotado, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo realizou na noite desta terça-feira, 23.10, ato para denunciar o avanço do fascismo no país, representado pela candidatura Bolsonaro, e manifestar sua posição em defesa da democracia, dos direitos dos trabalhadores e da soberania nacional.

Em seu pronunciamento, lendo documento oficial da entidade, o presidente do Sindicato, Paulo Zocchi, afirmou:

“No atual momento, vemos a candidatura de Fernando Haddad como forma de defender a democracia no Brasil. As posições já consolidadas em nossa entidade – pela revogação da reforma trabalhista e das demais medidas de Temer, como a PEC do Teto (que destrói os serviços públicos) e a entrega do pré-sal às multinacionais – se identificam com compromissos assumidos pela candidatura Haddad. Também acreditamos, como o candidato afirmou, que “sem democracia não há direitos”.

Rose Nogueira, jornalista que foi presa e torturada durante a ditadura militar, fala no auditório Vladimir Herzog (fotos Jornalistas Livres)

Falando no ato, a copresidenta do TUTAMÉIA, Eleonora de Lucena, denunciou: “O que está em jogo, desde o golpe de 2016, é a tentativa de jogar o país no caos, é a destruição do país, de nossas riquezas, de nossa população” (veja a íntegra do depoimento no alto da página).

Também apontou a responsabilidade dos grandes órgãos de informação do país, que “resolveram servir a interesses contrários aos interesses nacionais e, como isso, interditaram o debate público”.

Apesar disso, concluiu, “há resistência, e este ato é uma demonstração disso. A própria razão de ser de nossa profissão está no centro da disputa neste momento. E os jornalistas afirmam que têm lado, o lado da democracia, o lado do Brasil, o lado do povo”.

O professor de jornalismo Laurindo “Lalo” Leal Filho afirmou que “estamos em um estado de exceção. O fascismo começa a brotar em nossa sociedade”. Para ele, o origem dessa escalada de tirania está no golpe de 2016, em que hove participação da mídia: “A Rede Globo de Televisão tirou o futebol do ar, no domingo, para convocar multidões para derrubar uma presidenta eleita” (veja a seguir o depoimento completo).

Presa política durante a ditadura militar, vítima de torturas que acabaram por impedir que ela pudesse ter filhos, a jornalista Rose Nogueira deu um emocionado depoimento. Afirmou: “Na hora em que alguém fala que defende a tortura, não acredito que o Brasil possa ouvir isso com serenidade”.

Lembrou: “Temos direito à resistência”, e conclamou os democratas e patriotas, os jornalistas a criarem uma frende democrática contra a tirania (veja abaixo a participação de Rose).

 

Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

Confira a seguir o texto da posição oficial do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

Em 28 de outubro, o povo brasileiro se verá diante de uma escolha decisiva para o futuro do país. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, entidade que tem o compromisso com a luta democrática inscrito em seu DNA, se vê na obrigação cívica, neste momento, de se colocar de forma clara frente à sociedade.

No cenário eleitoral, apresentam-se duas propostas antagônicas, expressando um embate entre a volta do autoritarismo e a valorização da democracia. Jair Bolsonaro, defensor declarado da ditadura militar e da tortura, lidera as pesquisas eleitorais à Presidência da República. As novas gerações têm de saber que a tortura – além de ser um ato hediondo e de uma covardia sem limites – é um crime imprescritível para o direito internacional, e sua defesa é uma vergonhosa demonstração de barbárie frente ao mundo civilizado.

Para adotar nossa posição coletiva, partimos da dura experiência dos jornalistas de resistência à ditadura militar, contra a censura, a proibição a toda crítica política, o esmagamento da liberdade de imprensa. Sob as instituições do regime militar, os opositores – incluindo vários jornalistas – foram perseguidos, presos, torturados e mortos. Este Sindicato levantou-se a partir do bárbaro assassinato sob tortura do jornalista Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, para denunciar o terrível crime do regime, que permanece impune até hoje.

Em defesa da democracia no Brasil, é preciso derrotar o que Bolsonaro representa!

Como Sindicato, cuja função básica é a defesa dos direitos trabalhistas de nossa categoria profissional, temos ainda mais razões para combater as posições de Bolsonaro, apoiador da reforma trabalhista – que precariza brutalmente as relações de trabalho no Brasil, com a terceirização irrestrita, o trabalho intermitente e a generalização do banco de horas – e de sua ampliação. De sua campanha, vazam propostas como o fim do 13º salário e do pagamento de 30% nas férias, entrega total do patrimônio público (privatização da Petrobras e do BB), nova Constituição feita por “notáveis” não eleitos, além de um desrespeito visceral aos direitos humanos e ao combate à pobreza e à desigualdade social. Já tivemos oportunidade de combater suas notórias declarações de discriminação e contrárias a direitos das mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTI+.

Como jornalistas, nos preocupa a disseminação em série de fake news em rede social usada como estratégia da campanha bolsonarista e a própria incitação à violência, que tem se espraiado socialmente e atingido inclusive diversos profissionais de imprensa.

Em suma, os compromissos de nossa entidade com a sua própria história, com os interesses diretos de nossos representados e com as liberdades democráticas nos fazem rejeitar de forma cabal a possibilidade de ascensão do capitão reformado à Presidência da República.

No atual momento, vemos a candidatura de Fernando Haddad como forma de defender a democracia no Brasil. As posições já consolidadas em nossa entidade – pela revogação da reforma trabalhista e das demais medidas de Temer, como a PEC do Teto (que destrói os serviços públicos) e a entrega do pré-sal às multinacionais – se identificam com compromissos assumidos pela candidatura Haddad. Também acreditamos, como o candidato afirmou, que “sem democracia não há direitos”.

Na adoção desta posição, somamo-nos à CUT, central sindical à qual somos filiados há mais de 30 anos, e que desde o seu nascimento se notabiliza pela combatividade incansável em defesa dos direitos dos trabalhadores brasileiros. Reafirmamos também a nossa independência frente a qualquer partido e governo, e o nosso compromisso inquebrantável com a representação e a defesa dos jornalistas de São Paulo em todas as situações.

Por tudo isso, como expressão de nossa linha de ação sindical neste momento de definição crucial para o país, nosso Sindicato vê grande identificação entre a candidatura Haddad e as propostas de interesse dos jornalistas, e apresenta com clareza e transparência sua posição para o debate democrático à nossa categoria e a toda a sociedade brasileira.

São Paulo, 11 de outubro de 2018

Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo