Augusto de Campos, Chico Buarque, Raduan Nassar, Aldir Blanc, Alice Ruiz, Chico César, Frei Betto, Laerte, Chacal e Andréa Del Fuego –todos eles e mais quase oitenta poetas, contistas, romancistas, cartunistas estão juntos, com o vigor de suas criações literárias, no livro-manifesto “Lula Livre / Lula Livro”.
O objetivo da publicação é “criar mais um fato de repercussão, a partir da tomada de posição dos escritores, poetas e cartunistas, para engrossar os movimentos nacionais e internacionais contra a farsa da prisão do ex-presidente –e o golpe antidemocrático que representa a sua exclusão do processo eleitoral de 2018”, dizem os organizadores da obra, Marcelino Freire e Ademir Assunção.
Assunção, poeta e jornalista, contou ao TUTAMÉIA que o livro começou a nascer quando ele visitou a Vigília Lula Livre, em Curitiba, e ficou emocionado com o povo que estava lá para prestar solidariedade ao presidente preso na sede da Polícia Federal.
“Eram trabalhadores, bancários, donas de casa, crianças levadas por suas famílias, agricultores, eram pessoas não necessariamente envolvidas com a militância. Estavam lá quase quem em agradecimento às conquistas e às coisas que foram feitas durante o governo Lula.”
“E eu?”, perguntou-se ele, questionando a si mesmo sobre o que poderia fazer para também expor suas preocupações, para se somar a esse movimento democrático.
Não havia melhor maneira do que com seu próprio trabalho. Pensando assim, foi procurar Marcelino Freire, que também se entusiasmou com a ideia.
Como dois quixotes, saíram para tentar produzir o livro, buscando primeiro o conteúdo: mandaram mais de cem mensagens para amigos escritores, conhecidos ou nem tanto, apresentando o projeto (saiba mais na entrevista; basta clicar no vídeo acima).
Expuseram aos colegas o que está escrito na apresentação do livro-manifesto:
“O propósito deste livro é o de unir as vozes destes autores aos movimentos nacionais –e até mesmo internacionais– contra a farsa da prisão do ex-Presidente Lula e contra a continuidade do golpe antidemocrático representado por sua exclusão do processo eleitoral de 2018.
“Pelo fim da prisão política de Luiz Inácio Lula da Silva; pelo direito de os eleitores votarem –ou não– em sua candidatura para a Presidência da República; pelo retorno do Brasil à normalidade democrática, é que se deve a existência deste LulaLivro.”
As contribuições começaram a pipocar e logo havia material para produzir o volume de 184 páginas, todo feito em modo colaborativo e voluntário –até mesmo a cotização para a impressão da tiragem inicial, de duzentos exemplares.
Eles estão sendo distribuídos gratuitamente. Dois dias depois de saírem da gráfica, um exemplar já estava nas mãos do presidente Lula, que mandou de volta recado de próprio punho. Também chegou a artistas, escritores e entidades, que devem ajudar a divulgar o projeto.
A Fundação Perseu Abramo, do PT, providenciou a impressão de dois mil exemplares, que serão distribuídos gratuitamente. Sindicatos, movimentos populares, escolas e associações também poderão imprimir o volume sem nenhum pagamento de direitos autorais.
A ideia, contou Ademir Assunção ao TUTAMÉIA, é que os livros cheguem ao público gratuitamente ou custando o mínimo possível, apenas para pagar os custos ou fazer uma pequena arrecadação –os organizadores impõem como teto máximo, em caso de cobrança, o preço de R$ 15.
De qualquer forma, qualquer pessoa pode baixar o livro em seu celular ou computador –o arquivo de texto e imagens, arrumado direitinho e com boa apresentação, está disponível para download gratuito –CLIQUE AQUI para ter acesso ao arquivo.
Quem quiser se comunicar com os organizadores do “Lulalivre/Lulalivro” pode fazê-lo por e-mail lulalivrelulalivro@gmail.com ou por mensagem via redes sociais, pela página Lula livre – lula livro.
Para encerrar, publicamos a seguir a íntegra do texto de apresentação do livro-manifesto, que é assinado pelos organizadores: Marcelino Freire e nosso entrevistado, Ademir Assunção.
LULA LIVRE / LULA LIVRO
“Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.”
Camões
Joseph K., o conhecidíssimo personagem de Franz Kafka, se vê enredado em um processo judicial cujas origens desconhece e cujo desenrolar vai se tornando cada vez mais obscuro, sórdido e absurdo.
O processo que assistimos no Brasil contemporâneo, contra uma figura pública central da história política dos últimos 40 anos, guarda semelhanças e dessemelhanças com o enredo kafkiano: se o seu desenrolar expõe uma lógica absurda, suas origens e fins são muito delineáveis.
Travestido com togas cheias de furos e remendos, simulação grosseira dos ritos legais que deveriam nortear a Justiça (com J maiúsculo), ele obedece a princípios e a um calendário com objetivo calculado: eliminar da disputa presidencial de 2018 o candidato com mais chances de vitória.
Orquestrado sob o pretexto de combate à corrupção – combate sempre bem-vindo e necessário – sua utilização camufla, porém, objetivos maiores: barrar as mudanças significativas que estavam em curso no país – muitas delas resultantes de demandas seculares –, principalmente a mais significativa, mas não a única: a retirada de 36 milhões de brasileiros do cinturão de miséria, através de políticas, programas e investimentos sociais reconhecidos e valorizados internacionalmente.
Como já visto em outros momentos da história recente, sob os mesmos pretextos e com métodos semelhantes, o que se concretiza é um golpe contra os interesses da maioria da população, para manter os privilégios de uma minoria.
Basta verificar que, logo após a consolidação da primeira etapa do golpe, uma das medidas aprovadas pelo Congresso Nacional foi a reforma trabalhista, que retira direitos históricos dos trabalhadores e agudiza ainda mais a crônica desigualdade socioeconômica brasileira.
É nesse contexto que surge este livro-manifesto. Mais do que um documento literário, o que se pretende é um documento claramente político, com as armas que os autores utilizam em seu fazer criativo: poemas, contos, crônicas, ensaios e cartuns.
Os 86 poetas, prosadores e cartunistas aqui reunidos – de todas as regiões do país – atenderam ao chamado, na urgência dos fatos em curso no Brasil, para manifestar seu inconformismo com a prisão política do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Em um prazo curto, de poucas semanas, autores “que consideram a prisão de Lula uma aberração jurídica-política-midiática, com o objetivo maior de tirá-lo das eleições presidenciais deste ano, no tapetão, na cara-dura”, conforme consignado no texto-convite enviado a cada um deles, fizeram questão de levantar a voz e enviar suas colaborações inéditas em livro.
O título é uma clara tomada de posição de todos os autores pela liberdade de Lula, mas a temática dos poemas, contos, crônicas e cartuns vai além: em rápidas pinceladas, determinadas pela urgência da iniciativa, procura manifestar o descontentamento com as mazelas de um país massacrado pela histórica e brutal desigualdade socioeconômica, e pelo retrocesso social, político, cultural e mental representado pelo golpe de 2016, quando a presidente Dilma Rousseff, eleita por 54.501.118 brasileiros, foi destituída através de uma manobra orquestrada por setores políticos, jurídicos e midiáticos, a pretexto de prosaicas e já esquecidas “pedaladas fiscais”.
O ódio abertamente fomentado na população por grande parte dos meios de comunicação de massa, o cinismo de acusações generalizadas, muitas vezes disparadas por notórios personagens aviltantes, e o escárnio com as regras do jogo democrático, manipuladas ao bel prazer de interesses obscuros, repetiram uma liturgia já vista em outros momentos históricos do Brasil, posta em prática sempre que se procura uma ordenação mais justa na vida social e econômica do país.
O propósito deste livro, portanto, é o de unir as vozes destes autores aos movimentos nacionais – e até mesmo internacionais – contra a farsa da prisão do ex-Presidente Lula, e contra a continuidade do golpe anti-democrático representado por sua exclusão do processo eleitoral de 2018.
Pelo fim da prisão política de Luiz Inácio Lula da Silva; pelo direito dos eleitores votarem – ou não – em sua candidatura para a Presidência da República; pelo retorno do Brasil à normalidade democrática, é que se deve a existência deste Lula Livro.
LISTA COMPLETA DOS AUTORES
ademir assunção * ademir demarchi * adriane garcia * afonso henriques neto * alberto lins caldas * aldir blanc * alice ruiz * andréa del fuego * antonio thadeu wojciechowski * artur gomes * augusto de campos * augusto guimaraens cavalcanti * beatriz azevedo * bernardo vilhena * binho * caco galhardo * carlos moreira * carlos rennó * celso borges * chacal * chico buarque * chico césar * claudio daniel * diana junkes * douglas diegues * edmilson de almeida pereira * edvaldo santana * eltânia andré * eric nepomuceno * evandro affonso ferreira * fabio giorgio * fabrício marques * fernando abreu * ferréz * frei betto * gero camilo * gil jorge * glauco mattoso * jessé andarilho * jorge ialanji filholini * josely vianna baptista * jotabê medeiros * juvenal pereira * karen debértolis * laerte * lau siqueira * linaldo guedes * lucas afonso * luciana hidalgo * luiz roberto guedes * manoel herzog * marcelino freire * márcia barbieri * márcia denser * maurício arruda mendonça * noemi jaffe * patrícia valim * paulinho assunção * paulo césar de carvalho * paulo de toledo * paulo lins * paulo moreira * paulo stocker * pedro carrano * raduan nassar * raimundo carrero * ricardo aleixo * ricardo silvestrin * roberta estrela d’alva * rodrigo garcia lopes * ronaldo cagiano * rubens jardim * sandro saraiva * sebastião nunes * seraphim pietroforte * sérgio fantini * sérgio vaz * sidney rocha * susanna busato * tarso de melo * teo adorno * vanderley mendonça * waldo motta * wellington soares * wilson alves bezerra * xico sá
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