Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Hoje lhes trago o novo CD do pianista, compositor e arranjador Antonio Adolfo. Com Octet and Originais (AAM Music), ele se deu o direito de gravar dez músicas de sua autoria, sendo que duas são inéditas – nada mais salutar para quem gosta do trabalho de AA do que ter um disco com temas que são referência em sua carreira.
Vejam só os grandes instrumentistas que estão com ele e seu piano ao longo de dez arranjos criados por sua sabedoria: Ricardo Silveira (guitarra), Rafael Barata (batera), Jorge Helder (baixo), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Rafael Rocha (trombone), Danilo Sinna (sax alto) e Marcelo Martins (sax tenor e flauta).
A tampa abre com “Heart of Brasil”. O octeto se expõe total: sopros, baixo, batera e guitarra alavancam o arranjo com extraordinárias interpretações. O tema tem em si a impressão digital do talento de Antonio Adolfo: melodia instigante, harmonia com jazz na veia e arranjo que carrega nos acordes a sutileza de um momento consagrador desse grande músico que é nosso, mas é também de todo o mundo.
O som rola: o naipe de sopros se encarrega de exacerbar o suingue; a cozinha multiplica o impacto de uma composição arrebatadora; o trombone desponta para arrasar num improviso exaltação, enquanto o piano se junta a ele e ao octeto para logo assumir o improviso da música – bom gosto a toda prova. Tudo segue com a batera e o baixo puxando o bonde do orgulho musical. O piano volta a improvisar. A guitarra pontua. Logo os sopros voltam ao proscênio… e a certeza de que tudo está só começando aguça os ouvidos do ouvinte.
A seguir, uma das inéditas do álbum: “Boogie Baião”. O contrabaixo e os sopros iniciam a levada do boogie, acrescida, como explicou Antonio Adolfo, de um “hibridismo modal da música nordestina”, que mesmo não sendo um típico baião, é um tremendo achado! Baixo e flugelhorn criam um desenho mágico com a melodia – um barato! –, um traçado com notas graves que, ao voltar ao arranjo ao longo do tema, dá cada vez mais gosto ouvir. Vem o improviso do sax tenor. O tal desenho volta, agora acrescido de notas da guitarra. Eis que o piano assume o protagonismo do arranjo! O desenho volta. A guitarra improvisa, com os sopros e a batera arranjando a cama para lhe trazer conforto em sua missão de se fazer imprescindível. O naipe de sopros brilha novamente até, após um acorde, entregar ao baixo o poder de também arrasar. O final vem abrasador.
Como os grandes gênios, Antonio Adolfo é quase indiferente aos elogios consagradores que vêm do mundo todo. Sua humildade é reflexo da sabedoria de músico pioneiro que abriu aos músicos brasileiros o caminho do disco independente, ao lançar o LP “Feito em Casa”, em 1977. Surge em igual medida de sua trajetória como educador, tendo criado em 1985 uma escola de música no Rio de Janeiro, o Centro Musical Antonio Adolfo, existente até hoje. Em resumo, o cara é um herói brasileiro que deveria ser reverenciado por todos que amamos a boa música.
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