Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Os Sonhos e os Sons – Daniela Neris interpreta Alvaro Barcelos (independente) é o álbum que reúne quinze compositores gaúchos a um só poeta, o também gaúcho Alvaro Barcelos.

A cantora Daniela é afinada e sincera, encaixando-se perfeitamente às melodias dos parceiros de Alvaro. Ela canta luminosamente, amparada que está por arranjos quase minimalistas, em que se destacam, aqui e ali, apenas um piano ou um violino, por exemplo. Segura, ela se entrega aos versos que, mesmo escritos em épocas distintas, têm um fio de força interligando-os à vida.

Eis alguns.

            “Entre Fintas e Canções” (Pery Souza* e Alvaro Barcellos)

“Éramos nós com o tom e a voz/ Éramos nós a tocar violões/ Éramos nós com tantas ideias/ Éramos nós com os sonhos e os sons (…)”.

            “Barroco” (Renato Machado e AB)

“Pra proteger a aldeia/ Arvoredos e paisagens/ Me disfarço entre as areias/ E o rio em suas imagens (…)”.

            “Nas Águas Desse Rio” (Lyber Bermudez e AB)

“Mergulho assim nesse rio/ De suas águas me alimento/ Conheço as suas             paisagens/ Imagens sombras e ventos/ (…) Onde minha voz não se cala (…)”.

            “Prata Lunar” (Raul Ellwanger e AB)                                                                                 

“(…) E em nome de um mundo bem melhor/ No tumulto das gentes/ (…) Eu que em tanta ocasião/ Vivo à margem de tudo (…)”.

            “Outras Viagens” (Pedro Munhoz e AB)                                                                                                      

“(…) Nessas andanças e sonhos meus/ Vi muita coisa nas longas viagens/ E vi matanças e danças e guerras/ Caminhos cegos desertos miragens/ Miséria e seca que o horizonte encerra (…)”.

            “Nas Tramas do Mago” (Paulo Timm e AB)                                                                       

“Circulo entre as histórias/ Ambientes personagens/ Revisito os lugares/   Experimento viagens (…)”.

            “Ruína” (Helio Ramirez e AB)                                                                                                                                                                     “(…) Tu que andas por aí impunemente/ Tu que para triunfar entras na dança/ Tu que pisas as mulheres e suas flores/ Tu que sempre machucaste a esperança/ (…) É bom que saibas/ Teu mundo há de ruir.”.

Após final tão belo, é quase impossível esquecer a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, rincão dos músicos aqui citados; muito menos olvidar a resiliência com que os gaúchos vêm enfrentando o luto, reerguendo suas vidas e cantando à sua terra.

 

Nossos protetores nunca desistem de nós

 

*Quando ainda escrevia este texto, eu soube do falecimento do Pery. Muito triste! Descanse em paz. Minha solidariedade aos seus queridos.

 

Ouça o álbum:

https://open.spotify.com/album/5AMTgKNQHeI7LA4nGfnpwr?si=DCIXXkv9Shep3Hd87KP1Ug