Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Hoje falaremos do álbum Vitor Ramil (músicas) Mantra Concreto Paulo Leminski (poemas) (Satolep Music). Ao selecionar primorosamente alguns poemas de Paulo Leminski (1944/1989), cobrindo-os de música, a sina desbravadora de Vitor novamente aflorou. Eis algumas delas.
“De Repente” (Vitor Ramil e Paulo Leminski): o synth bass (Edu Martins) pulsa intenso. O violão de aço de Vitor marca o tempo com poucos acordes que se repetem. E vem a percussão (Alexandre Fonseca). Com ela, a voz de Leminski: “(…) Tenho a impressão/ Que já disse tudo./ E tudo foi tão de repente/ (…) A música é o destino natural do ser humano (…)”. A surpresa do inusitado devolve as palavras do poeta à realidade com pujança plena.
“Amar Você” (Ramil e Leminski): a tabla (Alexandre Fonseca) vem com o violão de Vitor, que canta: “Amar você é coisa de minutos/ A morte é menos que teu beijo (…)”. A percussão (Alexandre Fonseca) é delicada, consistente. A tabla protagoniza o arranjo. Com ela, a poesia ganha ainda mais significações.
“Profissão de Febre” (Ramil e Leminski): o violão de Vitor dedilha notas, enquanto aguarda que ele cante: “Quando chove,/ Eu chovo/ Eu faço,/ De noite,/ Anoiteço (…)”. A melodia que emoldura o propósito dos versos na canção é linda! Ainda mais por estar acompanhada de um baixo acústico com arco (Edu Martins).
“Será Quase” (Ramil e Leminski): a kalimba (Santiago Vazquez) e o violão de Vitor iniciam. Ele canta suave: “Um dia sobre nós também/ Vai cair o esquecimento/ Como a chuva no telhado/ E sermos esquecidos/ Será quase a felicidade”. Num belo intermezzo, a kalimba sola com um toque mágico.
“Uma Carta Uma Brasa Através” (Ramil e Leminski): violão (Vitor Ramil), synth bass (Edu Martins) e percussão (Alexandre Fonseca) iniciam. Vitor canta bonito: “(…) Uma sílaba/ Um soluço/ Um sim/ Um não/ Um ai/ Sinais dizendo nós/ Quando não estamos mais”.
“Minifesto” (VR e PL): Vitor entoa: “(…) Viva e morra este dia/ Metal, vil,/ Surdo, cego e mudo. (…)”. A batera e a percussão (Alexandre Fonseca), somadas à guitarra de Toninho Horta, o acompanham com firme precisão. A guitarra improvisa. Vitor volta; Toninho vem. Ouve-se a voz de Leminski repetindo uma palavra em loop… meu Deus!
“Caricatura” (VR e PL): o violão de Vitor e a percussão (Alexandre Fonseca) antecedem a entrada do cantor – a cada música ele canta sempre melhor; agudos e falsetes afinados que só: “(…) Tudo, tudo, tudo,/ Não passa de caricatura/ De você, minha amargura/ De ver que viver não tem cura”. Sampleados da BBC, tímpanos, bumbo e pratos sinfônicos ajuntam-se ao synth bass (Edu Martins) e criam a sintonia perfeita com a poesia musicada.
Vitor Ramil buscou em Paulo Leminski o conteúdo para a criação consagradora de Mantra Concreto. Ser ouvida é o ofício desta obra existencial que aqui cumpre o sagrado papel de assim ser.
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ouvir o álbum: