O economista João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST –Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra– recebeu na última segunda-feira (10.12) o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, oferecido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Foi indicado pela deputada estadual Márcia Lia, como um reconhecimento à sua luta em defesa da terra, da reforma agrária e da agricultura familiar ao longo dos últimos 40 anos

Com problemas de saúde, Stedile não compareceu à sessão solene da Assembleia neste Dia Internacional dos Direitos Humanos. Foi representado por Ana Cha, que leu seu discurso de agradecimento, publicado a seguir na íntegra.

SOMOS HERDEIROS DA LUTA DE SANTO DIAS

A indicação da  Deputada Marcia Lia, para recebermos em nome da Assembleia Legislativa e do povo de São paulo essa homenagem  muito nos orgulha e nos enche de responsabilidades.

Sabemos que a premiação não é pessoal, mas é o reconhecimento desta casa a todos militantes do MST que, ao longo de tantos anos, fazemos a luta pelos direitos humanos, para que nosso povo do interior, os mais pobres, tenham direito a educação, terra, trabalho, alimentação saudável,  moradia e vida digna.

Mais do que estatísticas de reforma agrária e número de hectares recuperados do latifúndio, nosso movimento luta para que todos brasileiros tenham os mesmos direitos e deveres, e tenhamos todos uma vida boa, sem exploradores e explorados.

Infelizmente a mesma elite oligárquica que nos impôs 400 anos de escravidão segue protegendo, com todas as armas possíveis, a apropriação privada  dos bens da natureza. Como se somente essa minoria da sociedade pudesse usufruí-la.

Por causa disto, muitos de nossos companheiros/as são perseguidos, amargam prisões e até pagam com a vida.    Como aconteceu no sábado (8.12) na Paraíba, em que pistoleiros a mando do latifúndio assassinaram mais dois militantes do MST. E desde a chamada redemocratização política do pais, já foram assassinados mais de 1.500 trabalhadores rurais que lutavam por seus direitos. E menos de 10% dos mandantes foram julgados pelo poder judiciário.

Vivemos tempos difíceis na política, em que o discurso do ódio e do estímulo à violência prevaleceram, propagando mentiras de todo tipo, repetidas com poderosos computadores para manipular a boa fé das pessoas.  

Mas tudo nessa vida tem suas contradições.  “As mentiras têm pernas curtas”, apreendemos desde criança.

E os governos que não ajudarem a resolver os verdadeiros problemas do povo  serão por ele derrotados, dia mais dia menos.

Que o espírito e o legado de Santo Dias nos ajude a enfrentar os tempos que virão.    De nossa parte, e de toda militância do MST honraremos esta distinção e saberemos seguir o exemplo de Santo Dias,  um operário que não temeu a ditadura nem a força das armas, para defender os direitos dos trabalhadores na luta por melhores salários e condições de vida.

Muito obrigado!

SAIBA MAIS SOBRE JOÃO PEDRO STEDILE

Gaúcho filho de uma confeiteira e de um caminhoneiro, João Pedro Stédile foi seminarista para poder estudar –-é formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com pós-graduação pela Universidade Nacional Autônoma do México. Escreveu livros sobre a questão agrária, a luta de classes e socialismo, como “Brava Gente: a Trajetória do MST e a Luta pela Terra no Brasil”, “Classes Sociais em Mudança e a Luta pelo Socialismo” e “A Questão Agrária no Brasil – Debate Tradicional, O Debate na Esquerda e Programas de Reforma Agrária”.

Stédile também foi assessor da Pastoral da Terra, milita pela reforma agrária pelo MST e pela Via Campesina desde 1979 e recebeu a Medalha Mérito Legislativo por indicação do deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ), em reconhecimento à sua luta pela terra e pelo uso que tem feito dela. É militante petista, ativista, escritor e um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), do qual é dirigente nacional.

SAIBA MAIS SOBRE SANTO DIAS

O metalúrgico e ativista Santo Dias enfrentou em toda a sua história demissões como represália à luta por melhores condições de trabalho e reivindicação salarial e, em 30 de outubro de 1979, foi morto pela Polícia Militar em frente a uma fábrica em Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, por liderar um dos maiores movimentos grevistas da Capital.

Com bases na Igreja Católicas, participou intensamente do Movimento Contra a Carestia e esteve no Comitê Brasileiro pela Anistia em São Paulo. Na Catedral da Sé, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns concelebrou com outros bispos uma missa de corpo presente, antes de o enterro seguir para o cemitério do Campo Grande, na zona sul de São Paulo.