“A Semana de Arte Moderna de 1922 é um marco em defesa do modernismo. É o lançamento de uma plataforma. É uma detonadora de ideias. Ela não significa o começo. O Rio já tinha tido várias manifestações modernas, assim como São Paulo e em outros lugares. Mas a Semana é essa plataforma de ideias muito diversificada. Não só artes visuais, mas também na música, na literatura, na arquitetura, no design. A Semana tinha uma plataforma múlti”.

É o que afirma o jornalista e crítico de arte Fabio Cypriano ao TUTAMÉIA. Professor livre-docente em Arte e Comunicação na PUC de São Paulo, ele é um dos autores de “Modernismos, 1922-2022”, organizado por Gênese Andrade, lançamento da Companhia das Letras.

Nesta entrevista (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV), Cypriano fala do contexto da Semana, que completa cem anos neste fevereiro. Trata dos seus principais personagens, de suas obras, dos embates políticos em torno da importância do evento e, principalmente, discorre sobre os seus desdobramentos.

MECENAS, PROJETO CIVILIZADOR E MARKETING

“A cidade de São Paulo vai gerar muitas contradições. Vai ser esse caldeirão onde será possível se criar um manifesto em defesa de uma atualização, de uma repaginação da própria cidade e da cultura brasileira. É um momento muito efervescente”, afirma.

Cypriano ressalta que um dos frutos da Semana é a criação da Bienal.

“Ciccillo Matarazzo, que criou a Bienal, criou também o Estúdio Vera Cruz e o Teatro Brasileiro de Comédia. Existia aí um projeto civilizador, para o bem ou para o mal, mas que é muito diferente do que existiria como projeto civilizador das elites atuais. Não vejo nada semelhante ao que Ciccillo fez lá nos anos 1950”, observa o professor.

Ele continua:

“O novo mecenato são essas grandes empresas. Só que elas usam muito do marketing e do nome delas para se utilizar da cultura como algo que vai fazer propaganda deles mesmos. Não há nomes como nos anos 1920 e 1950, de Ciccillo e Chatô. Hoje são as corporações que fazem algum tipo de marketing, mas pouco deixam de legado”.

NOVO SALTO QUALITATIVO

Na avaliação de Cypriano, o Brasil vive hoje um momento bipolar:

“Por um lado, há toda essa perseguição em relação à cultura. Ao mesmo tempo, a gente tem a Pabllo Vittar, que é uma das trans mais seguidas no mundo inteiro. A polarização é extrema. Tem muita gente fazendo coisas muito legais, na arte também”.

Na sua visão, isso provoca renovação no próprio mercado.

“A ideia de inclusão, que talvez fosse o cerne da Semana de 22, de incluir novas estéticas, a gente vai passar agora. Estamos passando por um período de renovação estética. Muita gente produzindo muita coisa legal. Como a gente passou nos anos 1960, com o Cinema Novo, Tropicalismo. Foi um momento de renovação. E eu gostaria de acreditar que a gente está agora passando por uma nova fase. Quando a gente se livrar desse pesadelo, que é esse presidente, isso vai florescer de uma maneira muito mais contundente. Depois que atravessarmos essa escuridão, quem sabe a gente vai ter outros saltos qualitativos como a Semana buscou em 1922”.