“Esse contrato da base de Alcântara é um passo para a instalação de uma base norte-americana no Brasil. Não tem nada a ver com mandar satélites mais baratos. Isso é uma bobajada”.

A avaliação é do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto em entrevista ao TUTAMÉIA. Para ele, não há interesse dos EUA de construir no Brasil uma base de lançamentos para competir com as suas em solo estadunidense.

“O objetivo é ter uma base americana, fazer uma pista de pouso para grandes aviões militares. Isso é muito grave”, diz sobre a base de lançamento de Alcântara, no Maranhão (foto abaixo).

Ele espera que o Congresso rejeite o contrato, como já o fez numa tentativa anterior de arranjo semelhante, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Naquela época, os parlamentares vetaram o acerto com os EUA, classificando-o como um atentado à soberania nacional.

Samuel lembra da decisão histórica de Getúlio Vargas, que não permitiu a manutenção de bases norte-americanas depois da Segunda Guerra Mundial, como era desejo dos EUA. Durante o conflito, em troca do financiamento para a construção da primeira siderúrgica nacional, a CSN, Getúlio permitiu a instalação de bases dos EUA, importantes para o confronto com os nazistas. Depois, disse não, proibindo a presença de soldados norte-americanos no território nacional.

Alto Representante Geral do Mercosul (2011-2012), ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (2009-2020), Samuel é autor de clássicos sobre política externa como “Quinhentos Anos de Periferia” (UFRGS/Contraponto, 1999) e “Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes” (Contraponto, 2006).

Nesta entrevista ao TUTAMÉIA (confira no vídeo acima), conversamos com Samuel sobre a prisão de Temer e a Lava Jato, a atual posição dos militares e a submissão sem precedentes do governo Bolsonaro aos Estados Unidos.