“Geraldo Alckimin é um golpista. É o candidato da avenida Paulista, dos bancos, da Globo, do sistema podre”. As definições são da senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em entrevista ao TUTAMÉIA.

Para ela, “o PMDB [hoje MDB] foi o instrumento que o PSDB usou para dar o golpe. Quem bolou tudo para desmontar o Brasil foi o PSDB. Eles é que tem capacidade intelectual para isso. O projeto nacional do PSDB é o do estado mínimo. É ter desempregado para ter força de trabalho mais barata e concentração de riqueza”.

Na sua visão, o autodenominado “centrão” –que articula aliança com Alckmin—“não é centrão; é a direita política do país”. E Jair Bolsonaro “representa a direita fascista”. Sobre a ascensão deste personagem no cenário político brasileiro, Gleisi afirma:

“Ele é resultado do PSDB, da pregação de intolerância dele”. Segundo ela, os tucanos, depois de perderem quatro eleições para o PT, estimularam o discurso do ódio de classe. “Aécio abre as portas do inferno para Bolsonaro existir. Termina a eleição e começa a desestabilização da Dilma, com uma pauta xenofóbica, machista, de ódio aos mais pobres, de ódio ao PT. É uma coisa medonha”.

No entanto, diz, “quem se beneficia da tirada do armário desse pessoal de extrema direita não são eles, é o Bolsonaro, que é mais radical. Eles deram espaço para Bolsonaro. Infelizmente, tem um percentual da população que pensa assim”.

CONTORCIONISMO VERBAL

entrevista de Gleisi ao TUTAMÉIA aconteceu um dia após a divulgação do apoio (ainda não selado) entre o autointitulado “centrão” e Alckmin e horas depois da convenção do PDT que sagrou Ciro Gomes como candidato do partido à Presidência.

Se confirmada, a aliança formada por Alckmin resultará em uma fatia de 40% do horário político na TV. Qual será o impacto desse arranjo na campanha eleitoral? Levará Josué Alencar (filho de José Alencar, vice de Lula) para a sua vice? Alckmin, finalmente, estará entrando com força no jogo eleitoral?

A presidente do PT responde. Primeiro contesta a informação sobre Josué:

“Não sei se ele vai ser o vice. Ele não confirmou. Ele falou para nós, que, se ele fosse para ser vice de alguém, ele seria do Lula, ao modelo do pai. Não sei a posição dele”.

Sobre a aliança de Alckmin:

“Alckmin é direita. Ele vai ter que fazer um malabarismo para esconder as suas propostas. Ele vai tentar enganar o povo. Ele vai fazer um contorcionismo verbal. Acho que ele não vai se dar bem. Ele vai ter que gastar muito tempo explicando a aliança com o Temer e a destruição do Brasil”. Gleisi cita a reforma trabalhista, a da previdência, o desmonte da Petrobrás –temas que, segundo ela, prejudicam o tucano. “E vai ter que justificar essa aliança com todos esses partidos”, emenda.

Sobre Ciro:

“O Ciro se perdeu um pouco nesse processo da negociação com esses partidos de centro. Tinha um posicionamento muito firme na economia, participou com a gente do governo. Lula sempre o respeitou, e nós continuamos respeitando. Nesse afã de fazer a sua aliança, ele se perdeu um pouco e fez um aceno para um setor e para um programa que achei que nunca teriam interlocução com ele”.

Na cerimônia de lançamento no PDT, na sexta, 20/7, Ciro elogiou Lula. “Saúdo, é bom que ele tenha feito, externar solidariedade. A gente sentiu falta disso”.

 

CARAS SEM PUDOR

Gleisi discorre sobre a interferência de interesses estrangeiros no golpe. Fala do “sopro progressista na América Latina”, da articulação na região, da formação dos Brics e de seu banco, de alianças militares no continente, de associações com a África e com os países árabes. Lembra da descoberta do Pré-Sal e da sabida espionagem norte-americana no país.

“Lógico que as grandes petroleiras articularam; não queriam que o Brasil tivesse o Pré-Sal explorado do jeito que foi com o marco regulatório. Não tenho dúvida de que houve essa articulação. O governo americano, o departamento de Estado entrou. O pessoal diz que vemos fantasma. Isso é relação comercial, interesse de grana. Os caras estavam vendo que iriam perder. Então, não tem pudor, entra mesmo. Os caras agem assim em todos os lugares. Para eles não tem barreira. Suas empresas vão ganhar menos? De jeito nenhum. É o capitalismo na sua face mais cruel”.

Nesse movimento, houve apoio interno. “Aproveitam a luta de classes dentro da sociedade. Infelizmente a elite brasileira é muito atrasada. Tem uma visão de exploração muito grande, é escravocrata. Basta ver a reforma trabalhista que fizeram. Há preconceito e intolerância de classe social. Nunca tivemos tão clara a diferenciação de classe”.

CORRUPÇÃO INERENTE AO CAPITALISMO

E qual o papel da questão da corrupção nesse quadro todo?

Fala Gleisi: “Cometemos erros nos nossos governos. Um dos maiores erros que cometemos foi não ter enfrentado o debate e o próprio congresso nacional para fazer a reforma política. Nós aceitamos fazer a disputa eleitoral, o jogo eleitoral nas mesmas regras que estavam colocadas desde sempre. Não sei se teríamos conseguido mudar, porque depende de correlação de forças. Talvez se a gente tivesse insistido mais, enfrentado uma parte, a gente teria avançado. Todas as questões de corrupção estão ligadas ao financiamento da ação política, política eleitoral principalmente. Isso foi colando. A direita é muito boa nisso. Ela pratica corrupção o tempo inteiro”.

E segue: “O sistema capitalista, na sua essência, tem a corrupção como um mecanismo de sobrevivência. É inerente a ele. Mas, quando eles têm que combater um inimigo, fazem o discurso da moralidade e colocam na esquerda a corrupção. Foi assim com Getúlio, JK, na Alemanha de Hitler. Fizeram isso. E nós não enfrentamos esse debate publicamente. Ficamos acuados. Agora estamos fazendo [o debate] e mostrando qual é a diferença”.

Ela cita os casos de corrupção no governo, as malas de dinheiro. “Já era para Temer ter sido cassado. Mas eles são condescendentes, o pessoal que protestou é condescendente. Conosco não. Há uma luta de classes que está muito aberta no Brasil, com muito ódio e preconceito de uma parte da população que é mais elitista”.

LULA LIVRE GANHA NO PRIMEIRO TURNO

Gleisi declara que setores da sociedade têm medo da vitória de Lula. “É o horror. Usam qualquer instrumento para que Lula fique preso”. Na sua avaliação, “Lula solto hoje, continuando a fazer caravanas, como estava fazendo, falando com o povo, ia ganhar no primeiro turno. Não tinha segundo turno da eleição. Preso, fica essa coisa do ataque especulativo à candidatura”.

Mesmo assim, ela ressalta a base fiel de Lula: “Ele continua com 30%, 33% [das intenções de voto]. Ele tem mais que a soma dos outros candidatos e mais do que o dobro do segundo lugar. Vamos registrá-lo como candidato. Lula tem direito a ser registrado. A Constituição lhe garante o direito de se registrar”.

A presidente do PT fala da marcha que está programada para chegar a Brasília no dia do registro da candidatura, 15 de agosto. Trata de variadas iniciativas de movimentos populares, de intelectuais no Brasil e no exterior, de artistas em defesa da candidatura Lula. E também aborda a batalha jurídica.

Nesse terreno, ela cita levantamento em curso apontando que, na eleição municipal passada, 145 prefeitos disputaram a eleição sem registro, com registro indeferido, ganharam o pleito e mais de 70% assumiram o cargo de prefeito. É um argumento a ser usado pela defesa de Lula.

Gleisi discorre sobre a batalha com o juiz Sérgio Moro e no TRF-4. Lembra de negativas, indeferimentos, demoras. E trata do domingo 8 de julho, quando, segundo ela, ficou escancarado o processo de perseguição em relação a Lula.

Ela ressalta as ligações paranaenses de muitos personagens desse enredo jurídico e político: “É uma coisa maluca. Parece que tem uma organização mesmo nisso. A gente fica enredado com esses personagens e não consegue dar vazão a um processo que cumpra o processo legal. Que é o que se quer para o Lula, nem mais nem menos”.

DEMOCRACIA SOB RISCO

Ela identifica “dois pesos e duas medidas” em setores do judiciário. “É um processo político. Tomaram um lado. Um lado da luta de classes da sociedade brasileira. Defendem um determinado lado econômico contra o que representa a maioria do povo”.

Se Lula não concorrer, Gleisi afirma que o processo eleitoral “corre risco de não ser legitimado. A democracia que eles ajudaram a pactuar lá em 1988 e que enchia a boca do Fernando Henrique, essa democracia formal e de baixa intensidade vai correr o risco”. E quem são eles? “O PSDB, essa gente que externa a voz do mercado, do sistema financeiro, da elite. Fico espantada de ver as entrevistas dele [FHC]. Será que ele não sente vergonha internacional? Devia sentir vergonha. Eles só consideravam a democracia quando eles estavam no poder”.

Gleisi fala nesta entrevista (íntegra no vídeo acima) da terrível situação econômica do país e dos mais pobres em especial. Condena a venda da Embraer e das áreas do Pré-Sal. Trata da reunião do Foro de São Paulo e comenta a situação na Nicarágua.