Escolher tênis, examinar calçados de corrida, testá-los, compará-los –eis algumas das obsessões de quem gosta de correr; ou pelo menos, obsessão deste blogueiro.
Desde que comecei a correr sou vidrado em guias de tênis e outros serviços de análises comparativas desses calçados que, supostamente, ajudam o atleta a desempenhar bem seu hobby.
Estudos científicos demonstram que o tipo de calçado –desenhado para quem pisa com o pé mais inclinado para dentro ou para fora, por exemplo)—pouco ou nada tem a ver com a proteção contra lesão.
Também não afetam a performance. As pesquisas independentes concluem, de modo geral, que o bom tênis é aquele que cabe, em que o corredor se sinta confortável e protegido.
Exatamente por causa da busca de conforto em primeiro lugar é que nunca me dei bem com os tênis da Saucony, apesar de sempre ter visto resenhas elogiosas daqueles calçados e de, em geral, gostar do design deles e das cores escolhidas.
Conheci os calçados da empresa no início deste século, em viagem a trabalho aos Estados Unidos, aproveitada para participar de alguma corrida legal da qual nem me lembro direito.
Já tinha lido bastante sobre a empresa, cujas origens remontam ao final do século 19 –a primeira fábrica da companhia começou a funcionar na Pensilvânia em 1898.
Depois de ler tantas resenhas, cheguei seco para experimentar os modelos supostamente indicados para meu tipo de pé e de passada.
Fracasso total!
Os calçados eram lindos, de alta tecnologia para a época (estamos falando de mais de 15 anos atrás), mas finos e baixos, apertando demais na largura e no peito do pé.
Não tinha jeito. Ao longo dos anos, vez que outra experimentei algum novo modelo da Saucony, com a mesma decepção. Parece que aquele design estava inoculado nos projetos da empresa de forma permanente –sensação semelhante à que tenho em relação aos calçados da Adidas, que costuma achar lindos, mas não entram no meu pé…
Bueno, agora os calçados da Saucony passam a ser vendidos oficialmente no Brasil. No lançamento, a BR Sports traz sete modelos de tênis de corrida, com preços variando de R$ 599 a R$ 999.
Eu testei um dos modelos da faixa de R$ 599, o Everun Ride 9, que se revelou uma grata surpresa.
A primeira surpresa é que meu pé entrou no tênis sem sofrimento, nada de apertume no dedo mínimo. Também estava normal na altura. No comprimento, poderia estar mais confortável no pé esquerdo, que é um tantinho maior do que o direito, mas não chegava a incomodar. Em resumo, podiam ser calçados e usados pelo menos em uma caminhada.
Foi o que fiz no primeiro dia de teste: uma caminhada de uns dez quilômetros, sem usar nenhuma das órteses que tenho (são duas, que uso alternadamente: uma palmilha de pé inteiro e outra que é apenas um ponto metatarsial).
O calçado se saiu bem. A primeira impressão em relação ao comprimento se confirmou: ele de fato era o tamanho que costumo usar, mas, em geral, os calçados das marcas que uso ficam um pouquinho mais folgados na ponta do pé esquerdo. Mesmo assim, não posso dizer que estava apertado nem mesmo que estava justo; a folga é um pouco menor do que a apresentada nos meus tênis de costume.
Desde então, já corri e caminhei com ele cerca de cem quilômetros. Na maior parte dos treinos, usei a palmilha de silicone de pé inteiro e mesmo assim não ficou apertado. Na altura também não deu a folga de que gosto, ficou mais justo, mas aguentou bem a palmilha e o pé sem provocar desconforto, mesmo em treinos que duraram mais de duas horas em tempo quente.
Do ponto de vista de amortecimento e de altura do solado, o Ride 9 é bastante bom, não deixa nada a desejar em relação aos modelos que costumo usar. A gente sente o amortecimento, mas não afunda o pé na borracha, há uma boa estrutura de sustentação mesmo para corredores mais pesados, como eu.
A característica do Ride 9 de que mais gostei foi o amortecimento especial na parte da frente do pé, algo que aumenta bastante o conforto da passada. Esse é um recurso antigo (um Dyad 4, da Brooks, que comprei em 2007, já apresentava essa ótima particularidade), mas que apenas mais recentemente tem se espalhado por um maior número de modelos, usado mais amplamente por diversas marcas.
No caso do Ride 9, é muito bem usado.
Em relação à qualidade dos componentes, até agora não tenho do que reclamar. A sola não mostra desgaste significativo, e o cabedal mantém aparência de solidez.
Gostei da cor, um azul de tom afirmativo. Gosto de calçados espalhafatosos, coisa que o Ride 9 não é, mas também me dou bem com os mais sóbrios, desde que as cores sejam em tom forte –só não aprecio o pastel, a cor-de-burro-quando-foge…
Resumindo: é um calçado de boa qualidade, que deve agradar mesmo a corredores mais pesados. Quem tem pé mais largo e/ou alto talvez prefira usar tamanho um número maior do que o costumeiro; para mim, o 11,5 funcionou bem, como normalmente acontece. Não deu toda a folga que prefiro, mas não ficou apertado.
Já o preço é mais complicado.
Os preços de tênis de corrida estão altos no Brasil, mas a Saucony chega com modelos superapreciados, na minha avaliação.
Preço inicial de R$ 599, para uma marca que é pouco conhecida no mercado brasileiro, parece algo exagerado. Ainda mais que calçados de qualidade já comprovada e com longo tempo de mercado têm preço de lista mais baixo (o Cumulus 19, da Asics, por exemplo, é encontrado por cem reais a menos).
Nos Estados Unidos, Ride 9 e Cumulus têm o mesmo preço de lista, US$ 120. Agora, a Saucony está com promoção oficial em seu dite oferecendo o calçado por US$ 90 (R$ 281,50 na hora em que escrevo este texto)
Fica difícil entender como a empresa espera conquistar adeptos com essa política de preço, mas imagino que eles tenham feito suas pesquisas de mercado. E, claro, trabalham com o fascínio que a marca pode ter, mas não sendo tão conhecida por estas plagas.
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