Revolucionária, poeta, jornalista, feminista. Louise Michel lutou nas barricadas da Comuna de Paris, que, em 1871, se tornou a primeira experiência de um governo operário.
A história dessa socialista/anarquista está em “Pour Louise, A Desejada Virtude da Resistência”, peça fruto de sete anos de pesquisa da atriz Beatriz Tragtenberg. O texto é baseado nos escritos da militante, que descreve e faz um balanço daquele momento de revolta.
Ao TUTAMÉIA, Tragtenberg falou de sua admiração pela coragem, determinação e ousadia de Louise. Tratou da trajetória praticamente desconhecida da revolucionária. E enfatizou a palavra resistência –central para entender a personagem, a Comuna de Paris e os dias de hoje.
Louise Michel (1830-1905), filha de uma empregada doméstica e de um latifundiário, teve refinada educação humanista, lendo desde cedo Voltaire, Victor Hugo, Molière. Republicana, criou uma escola inovadora e foi perseguida pela aristocracia. Foi para a cadeia várias vezes.
Na Comuna, se destacou na frente de batalha. Com a derrota do movimento, foi exilada na Caledônia, onde ficou presa por sete anos. Quando morreu, aos 75 anos, fazia palestras defendendo o anarquismo.
A Comuna de Paris, inspirada nas ideias socialistas, construiu o primeiro governo popular que se tem notícia. Eram tempos de superexploração dos trabalhadores, que tinham jornadas de até 16 horas, com mulheres e crianças nas fábricas. Sem garantias, vivendo em condições precaríssimas, passavam fome e sofriam ataques de doenças variadas.
A situação dantesca foi relatada em profundidade nas obras de Karl Marx e na literatura de Victor Hugo. Alguns saudosos da aristocracia e temerosos da democracia parecem querer repeti-la em pleno século 21. No século 19, a insurreição proletária estourou em 18 de março de 1871 e foi esmagada em 28 de maio do mesmo ano.
Nesse curto período, definiu a separação entre igreja e estado, o ensino público para todos, o salário mínimo, a administração das fábricas pelos próprios operários, o fim da pena de morte. Uma série de outras medidas provocou melhorias para a população, como o controle dos preços dos alimentos e salários iguais para mulheres e homens.
A repressão foi brutal. Durante a Comuna, barricadas dificultaram a ação das forças militares contrarrevolucionárias. Os belos bulevares de Paris foram construídos depois –justamente para permitir a entrada rápida de tropas. Os governos seguintes agiram também urbanisticamente para tentar evitar próximas revoltas. Nem sempre conseguiram. Neste ano, se comemora o 50º aniversário do Maio de 68.
Dirigida por Luciana Lyra (acima com Beatriz), “Pour Louise” fala de revolução e de resistência. Torcemos para que sua curta temporada em São Paulo, neste turbulento abril, possa se repetir em breve.
Está em cartaz onde?
Já terminou a temporada. Mas, pelo que me disseram, vai voltar.