“Para mim, o que fica sempre é a capacidade de luta e de agudeza intelectual e prática de Lênin. A gente respira ar fresco quando lê o mais empoeirado dos livros do Lênin”, diz a historiadora Virgínia Fontes ao TUTAMÉIA em programa especial sobre os 150 anos do nascimento do líder da Revolução Soviética (clique no vídeo acima para ver e entrevista completa).
Professora da Universidade Federal Fluminense e estudiosa da obra do revolucionário russo, Fontes diz que dois grandes marcos lhe vêm à mente quando pensa na figura de Lênin.
O primeiro, claro, é a própria Revolução Soviética. O outro é o trabalho dele sobre a questão do imperialismo, que considera uma de suas obras fundamentais.
Sobre o legado de Lênin, Virgínia Fontes destaca sua dedicação ao tema da organização revolucionária. “Organização e formação, formação de quadros e formação da base –é preciso ter claro que essas duas questões são importantíssimas para Lênin. A questão número um é a organização, e a organização se chama partido, para Lênin. Mas não era ali, necessariamente, um partido parlamentar. Ele não está falando só de um partido parlamentar. Ele está falando de uma organização que é, naquela época, e por causa do czar, clandestina, mas com uma face visível”.
“Outro ponto”, prossegue a professora “é o elo entre as direções e as bases. O exemplo do Iskra –o jornal do partido– ainda é talvez o mais interessante e o mais enriquecedor como uma metáfora concreta das múltiplas possibilidades de fazer organização popular”.
Lênin também ensina que não se pode “nunca perder o fio de o que nós estamos enfrentando. Nós não estamos enfrentando só um governo, não estamos enfrentando só um ou outro burguês, nós não estamos enfrentando só um ou outro país imperialista. Nós estamos enfrentando uma sociabilidade do capital, que é uma maneira de devastar os trabalhadores no mundo. Portanto, é com os trabalhadores que a gente precisa ir para a frente”.
Finalmente, Virgínia Fontes aponta como legado de Lênin a consciência de que “não é possível enfrentar o capitalismo sem enfrentar o estado do capital. Essa questão é mais atual do que nunca. Isso não quer dizer que se possa acabar com o estado de uma hora para outra. Mas, sem ter isso como eixo estratégico, como linha de corte, dificilmente os processos revolucionários podem amadurecer em grande extensão, em grande escala, nas melhores condições. Porque a tendência do estado é sempre repor formas de controle intelectual sobre os processos de trabalho. Portanto, é algo que precisa estar o tempo todo na mira dos revolucionários”.
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