Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Apresento-lhes Max Riccio, intérprete especializado em violões e guitarras românticas. Um músico que, ao ouvirmos de pronto, percebemos do que é capaz. Estudioso, é um instrumentista apaixonado pelo violão, a tal ponto que moveu quaisquer empecilhos que viessem tolher seu intento de produzir um álbum com três compositores, mestres violonistas e expoentes da música do início do século XX: Quincas Laranjeiras, João Pernambuco e Agustín Barrios. Autores que resistiram ao passar do tempo – obras perenes.
O novo trabalho de Max Riccio – o EP Retrato Carioca (independente) – veio à tona quando ele descobriu uma foto rara, estampada na capa do EP: um retrato de 1916 ou 1917 reunindo os três grandes músicos citados acima. Encantado, Riccio debruçou-se sobre as admiráveis canções da trinca, cujo fascínio e sensibilidade o motivaram a selecionar canções desse admirável momento do violão brasileiro. O violonista gravou cinco obras dos compositores, com o requinte de utilizar uma réplica do violão Torres e encordoamento de tripa, o mais usual naquele período – vivas à música!
Perfeccionista, o trabalho de Max, natural de Natal (RN), é irrepreensível. Um CD que ilumina um momento profícuo da música popular brasileira. Do pernambucano Quincas Laranjeiras, MR gravou “Prelúdio em Ré”, “Valsa Para Violão” e “Dores d’Alma”; de João Pernambuco, natural de Jatobá (PE), MR interpretou “Sons de Carrilhões”; e do paraguaio Agustín Barrios, RM gravou “Una limosna Por El Amor de Dios (“El Último Trémulo”) – todos ele belos momentos.
Valendo-se de um cardápio de excelências composicionais, durante toda a audição os ouvintes, principalmente os mais velhos, sentem que algo lhes aperta o peito (e não é infarto… é emoção!). Numa viagem prazerosa à formidável ideia de Max Riccio, ela frutifica, refletindo o valor de reunir as cinco músicas numa mesma gravação – um álbum seminal.
A sensibilidade com que MR tange as notas é fruto do prazer: não só da técnica adquirida com o tempo, como também do amor dedicado ao violão. A partir dali, a cada acorde ou a cada tempo ou contratempo das composições, o instrumento e o instrumentista reconstroem instantes mágicos criados pelos três compositores – feras.
Dos primeiros compassos de “Sons de Carrilhões” (João Pernambuco), este escrevinhador se deixou emocionar. Da mesma forma, assim foi quando da introdução de “Valsa Pra Violão” (Quincas Laranjeiras). Recordações de um tempo guardado no infinito da memória reacendida – valor histórico. Num sentimento pujante, “Valsa Pra Violão” (Quincas Laranjeiras) garante ao ouvinte sentir-se recompensado pelo que ouviu, podendo retornar ao início e ouvir tudo de novo.
PS: Algumas informações contidas nos primeiros parágrafos vieram de Humberto Amorim, professor e pesquisador da Biblioteca Nacional.
Deixar um comentário