Discurso lido pelo presidente Lula na cerimônia em defesa da democracia, realizada em Brasília em 8 de janeiro de 2025, dois anos depois da ação golpista em que terroristas invadiram o Planalto, depredando obras artísticas e objetos de importância histórica, assim como instalações físicas do prédio
Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: Ainda estamos aqui.
Estamos aqui para dizer que estamos vivos, e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas do 8 de janeiro de 2023.
Estamos aqui – mulheres e homens de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias – unidos por uma causa em comum.
Estamos aqui para dizer: Ditadura nunca mais. Democracia sempre.
Estamos aqui para lembrar que, se estamos aqui, é porque a democracia venceu.
Caso contrário, muitos de nós talvez estivessem presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado e não permitiremos que aconteça outra vez.
Se hoje podemos pensar diferente e expressar livremente nossos pensamentos, ideias e desejos, é porque a democracia venceu.
Caso contrário, a única liberdade de expressão permitida seria a do ditador e de seus cúmplices – e usada para mentir, espalhar o ódio e incitar a violência contra quem pensa diferente.
Se hoje estamos aqui para renovar nossa fé no diálogo entre os opostos, na harmonia entre os Três Poderes e no cumprimento da Constituição, é porque a democracia venceu.
Caso contrário, a truculência tomaria o lugar do diálogo. Todos os Poderes seriam um só, concentrado nas mãos dos fascistas.
A Constituição seria rasgada. E os direitos humanos, suprimidos.
Se hoje podemos nos guiar pela ciência e vacinar nossas crianças, é porque a democracia venceu.
Caso contrário, doenças já erradicadas, como o sarampo e a paralisia infantil, estariam de volta.
E novas pandemias repetiriam a tragédia da Covid-19, quando centenas de milhares de pessoas morreram pela demora na compra das vacinas, e pelas fake news contra os imunizantes.
Se essas obras de arte estão aqui de volta – restauradas com esmero por homens e mulheres que a elas dedicaram mais de 1.760 horas de suas vidas – é porque a democracia venceu. Caso contrário, estariam destruídas para sempre. E tantas outras obras inestimáveis teriam o mesmo destino da tela de Di Cavalcanti, vítima do ódio daqueles que sabem que a arte e a cultura carregam a história e a memória de um povo.
A arte e a cultura que as ditaduras odeiam. A história e a memória que sempre tentam apagar.
Estamos aqui porque é preciso lembrar. Para que ninguém esqueça. Para que nunca mais aconteça.
Se hoje podemos contar histórias, e ver as histórias livremente contadas no cinema, no teatro, na música e na literatura, é porque a democracia venceu.
Caso contrário, a arte teria que ser submetida aos censores, que nos proibiram de ver, ouvir e ler tudo aquilo que julgassem subversivo.
Hoje estamos aqui para garantir que ninguém seja morto ou desaparecido em razão da causa que defende.
Estamos aqui em nome daquelas e daqueles que não podem mais estar.
Estamos aqui em nome de todas as Marias, Clarices e Eunices.
Minhas amigas e meus amigos,
Democracia para poucos não é democracia plena.
Por isso, a democracia será sempre uma obra em construção.
A democracia será plena quando todas e todos os brasileiros, sem exceção, tiverem acesso à alimentação de qualidade, saúde, educação, segurança, cultura e lazer.
Quando tiverem as mesmas oportunidades de crescer e prosperar, e os mesmos direitos de sonharem e serem felizes.
A democracia será plena quando todos e todas sejam de fato iguais perante a lei, e a pele negra não seja mais alvo da truculência dos agentes do Estado.
Quando os povos indígenas tiverem direito às suas terras, sua cultura e suas crenças.
Quando as mulheres conquistarem igualdade de direitos, e o direito de estar onde quiserem estar, sem serem julgadas, agredidas ou assassinadas.
Quando todas as religiões forem respeitadas e viverem em harmonia, porque a fé deve unir, e não colocar irmãos contra irmãos.
Quando qualquer pessoa tiver o direito de amar e ser amada por qualquer pessoa, sem sofrer qualquer tipo de preconceito, discriminação ou violência.
É essa democracia – plena e para todos e todas – que queremos construir no Brasil.
Minhas amigas e meus amigos,
A democracia precisa ser cuidada com todo carinho e vigilância, por cada uma e cada um de nós. Sempre e sempre.
Seremos implacáveis contra quaisquer tentativas de golpe.
Os responsáveis pelo 8 de janeiro estão sendo investigados e punidos. Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram.
Todos – inclusive os que planejaram o assassinato do presidente e do vice-presidente da República, e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral – terão amplo direito de defesa e presunção de inocência.
Defendemos e defenderemos sempre a liberdade de expressão, mas não seremos tolerantes com os discursos de ódio, as fake news que colocam em risco a vida das pessoas, e a incitação à violência contra o Estado de Direito.
Seremos intransigentes na defesa da democracia.
Renovaremos sempre nossa fé inabalável no diálogo, na união, na paz e no amor ao próximo.
Seguiremos trabalhando dia e noite para a construção de um Brasil mais desenvolvido e mais justo.
Porque a democracia venceu.
Muito obrigado.