Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Hoje trataremos de Viver Gonzaguinha – Os Sambas do Morro de São Carlos (Selo Sesc), um álbum do grande Sombrinha, ele que, ao lado de Xande de Pilares, Dudu Nobre, Zeca Pagodinho, Teresa Cristina, Alcione, Almir Guineto, Marquinhos PQD, Sombra, Alcione e Péricles, dentre outros, integra a seleção brasileira do samba carioca.
Compositor, sambista, pagodeiro, violonista, banjoísta, cavaquinista e bandolinista, Montgomery Ferreira Nunis, mais conhecido como Sombrinha, é fundador do grupo Fundo de Quintal. Nascido em São Vicente-SP (1959), mudou-se para o Rio de Janeiro em 1975. Ao lançar o seu primeiro disco em 1993, quando gravou o sucesso “Amor Não é Por Aí”, ganhou o Prêmio Sharp, na categoria Revelação Masculina.
Em 1996, formou dupla com Arlindo Cruz e lançaram o álbum Da Música. Já no ano seguinte gravaram outro disco, O Samba é a Nossa Cara, cuja música-título, de Luizinho SP, fez enorme sucesso.
Devo dizer que me aprofundei no trabalho de Sombrinha através do contrabaixista João Faria. Filho de Ruy Faria, do MPB4, e de Cynara Faria, do Quarteto em Cy, Joãozinho, que já gravou e fez shows com ele (e com outros bambas do samba, como Dudu, Zeca e Diogo Nogueira), apontou-me as qualidades de Sombrinha, sambista que tem a verve carioca – não resta dúvida de que Sombrinha é um carioca de direito e de fato.
Mas voltemos a Viver Gonzaguinha. A partir do projeto, concebido e produzido por Jair Netto e Carmo Lima, catorze músicas do “Menino de São Carlos” são reinterpretadas pela picardia de Sombrinha. Segundo os produtores, o samba é um dos pilares da obra de Gonzaguinha. Dito e feito! Com participações de Martinho da Vila, Elba Ramalho, Crioulo, Larissa Luz, Vidal Assis, Yvison Pessoa e Zélia Duncan, e contando com a boa direção musical de Carlinhos 7 Cordas, o trabalho já vem rolando desde 2019.
Destaque para sucessos de Gonzaga Jr., como “Lindo Lago do Amor”* (num arranjo criativo, cantado por Sombrinha e Criolo – como canta esse cara, meu Deus); “Recado” (cantado por Sombrinha e Zélia Duncan); “Espere Por Mim, Morena” (por Sombrinha e Vidal Assis); e “O Que É o Que É” (com Sombrinha e Larissa Cruz). Há também outros cantados de forma brilhante apenas por Sombrinha, como “E Vamos à Luta”, “Com a Perna no Mundo”**, Comportamento Geral” e “Começaria Tudo Outra Vez”.
Ótimos instrumentistas brilham nos sopros, na batera, nos instrumentos de harmonia, no coro e na percussão. Mas na percussão senti falta dos instrumentos mais graves, como os surdos de marcação, de segunda e de terceira – estão presentes, mas sem tanta presença.
Contudo, louvo o disco que deu a oportunidade que Sombrinha merece para arrebentar. E ele foi fundo: seu timbre de voz, seu suingue e seus convidados deram fluidez aos sambas do grande compositor que é Luiz Gonzaga Junior.
Nossos protetores nunca desistem de nós
* https://youtu.be/udUaBocFLOQ?si=YGZ7kDrU-HXYpYKg
** https://youtu.be/H25Fws7rZCg?si=cCusVWhv