Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

 

Hoje trataremos do álbum independente Cantareira, do poeta, letrista e compositor Glauco Luz. Este é o terceiro trabalho gravado por este pernambucano, residente em Brasília. Seu primeiro CD, “Muito Tudo”, foi gravado em 2009; já o segundo, “Refinaria”, com produção do baterista Di Stéffano, gravado em 2017, é um álbum duplo com participação de grandes intérpretes.

Glauco é um ótimo letrista! Com imagens bem sacadas, a emoção vem na medida certa. E com toques de bom-humor à flor da pele, a prosódia é posta a serviço da métrica das melodias de seus parceiros. O resultado são composições de gêneros diversificados, entre os quais preponderam o espírito nordestino, a mais relevante e tradicional música caipira e o samba, todos pedindo passagem, movidos a versos que assumem o ar da versatilidade da verve de Glauco.

Todos os arranjos são de Roberto Mendes e Josué Costa. E foi Costa quem entusiasmou Glauco a gravar o álbum, cuja ideia inicial seria apenas um trabalho com voz e violão. Mas, na sequência da gravação, devido a variedade de gêneros das composições, foram arregimentados outros instrumentos. E, enfim, Glauco admitiu assumir sua veia de “cantautor”, segundo ele mesmo, “Sem pretensão, mas também sem receio”. Algumas faixas do CD.

            “Cantareira” (Glauco Luz) abre a tampa. O arranjo incendeia o suingue da nordestinidade. Glauco canta o que lhe pede a alma criadora. A pisada, com Larissa Umayta (percussão), Josué Costa (violão) e Ademir Jr. (clarinete), dá conta de criar a atmosfera da qual Glauco se vale para cantar com boa voz de compositor que é: “Quero todo dia teu amor e poesia/ Chuva criadeira, barulheira, ventania (…)”

            Com os mesmos músicos da faixa anterior, com a letra tratando do drama do cotidiano, vem “Urbe” (Geraldo Brito e Glauco Luz), um samba cantado por Glauco com o cuidado de quem é atento aos fatos: “A cidade cresce/ E com ela a favela o estresse/ A cidade incha e com ela a miséria e a rixa/ Boca-de-sapo, olho de lince, pé-de-cabra/ E a malandragem não acaba (…)”.

            “Eremita Urbano” (Aurélio Melo e Glauco Luz) abre com Ademir Jr. (clarinete), logo seguido por Queijinho (acordeom), embalados por José Roberto Mendes de Morais (violão e percussão.) Logo, Glauco canta: “Eu escrevo torto/ Mesmo Em linha reta/ Não sou o anjo barroco/ Sou muito louco/ Sou quase poeta (…)”.

            “Fuxico” (Osnir e Glauco Luz), samba esperto e letra astuta, bem interpretada por Glauco: “Ela vive criticando/ Falando que eu ando esnobando Tinoco e Tonico/ Eu quando em vez, vez em quando/ Me pego cantando a Vila Isabel de Noel e Vadico. O suingue do arranjo vem do violão (Josué Costa) e da percussão (Larissa Umayta), e pega no breu com o coro e o trompete (Ademir Junior).

Enfim, Cantareira é um belo álbum de Glauco Luz, um grande letrista da mais nova MPB.

 

Nossos protetores nunca desistem de nós.

 

Ouvir o álbum:

https://open.spotify.com/intlpt/album/1kYvLjNtJmkpDqdD9Y91mB?si=KUxOLxsLRAOrCJIntbC2PQ