Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Pera lá, meus queridos, isto aqui será uma cartinha ou, com licença da má palavra, uma orgia grupal? Sem brincadeira, ainda não sei. Sinto que haverá tanto amor e admiração envolvidos a cada linha que a troca de afeto poderá até mesmo ser vista como uma, digamos, esbórnia de Baco.

Mas vamos lá: cês são ‘louco’, meu? Logo de cara Paulinho escreveu, Dori musicou e cantou com Mônica o “Canto Sedutor”: “(…) Pra Deus eu peço um só favor/ Que não vá me fazer chorar”. Caramba – teve jeito não, véio, chorei. Seu violão, Dori, com o timbre ao gosto de Olodumaré, ajuntou-se ao piano de Tiago Costa e ao baixo acústico de Sidiel Vieira e juntos deram à voz de Mônica o privilégio de reafirmar ser uma rainha envolta pelo manto das águas sacras de Iemanjá. Cantando, ela se transforma na sereia que enfeitiça quem a escuta, tornando-o seu devoto inconteste. Dori, seu arranjo para as cordas da St. Petersburg Studio Orchestra, uma ótima orquestra, cria a atmosfera propícia para a introdução que desaguará no canto. E a voz e o violão se encarregam de trazer à luz a genialidade de Paulinho Pinheiro, que num jeito brasileiro da gota serena, mostra que cês não tão ali de sacanagem não – é papo reto. O piano se achega, com ele vêm o baixo acústico e as cordas. O ritmo chega leve e com ele vem você, Dori, cantando com voz grave e delicada que logo encontrará a de Salmaso para juntos pedirem o impossível: “Não vá me fazer chorar”. Meu Deus!

E o álbum girou e eu me enrosquei em suas ondas abençoadas por Oxalá nas inéditas “Raça Morena” e “A Água do Rio Doce”, nos clássicos “Velho Piano”, “Desenredo”, “Estrela de Terra” e “História Antiga”, e nas mais recentes “Vereda”, “Voz de Mágoa”, “Delicadeza”, “Quebra-Mar” e “À toa”, além dos temas instrumentais agora letrados “O Passo da Dança” e “Flauta, Sanfona e Viola”. Repertório escolhido a partir da parceria que há cinquenta anos reúne vocês, Paulinho Pinheiro e Dori Caymmi – uma obra de responsa!

Gosto de nomear os instrumentistas que refletem suas virtuosidades nos arranjos, que no caso deste CD, Canto Sedutor (Biscoito Fino), foram escritos por você, Dorivalzinho. Arregimentados pelo produtor musical Teco Cardoso (que também tocou flauta), além dos já citados Tiago Costa e Sidiel Vieira, estão Neymar Dias (viola caipira), Lulinha Alencar (acordeom), Bré Rosário (percussão), Adriana Holtz e Vana Bock (cellos).

Cês todos me fizeram crer que a vida é boa, desde que a música nos toque a alma. E assim, reabastecido de emoção, me revelo em lágrimas intangíveis. Caso alguém as entenda, seguirei minha viagem apressada, por ruas estreitas, mas sentindo na pele o suor que acompanha o arrepio pela boa surpresa. Olhos fechados, pressinto o futuro, não tão longe para este ouvidor de trabalhos de colegas que tanto se orgulha por vê-los por perto.

Me valendo de vocês, admiráveis Mônica, Dori e Paulinho, a todos e a vocês abraço e agradeço por momentos tão bons.

Aquiles