Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Oi, Flávia, antes de qualquer outra coisa, peço desculpas pelo atraso no envio desta cartinha. Vou te confessar uma coisa: ainda não me acostumei a receber os álbuns digitais que me são enviados cada vez em maior número do que os velhos e bons discos físicos. Estes, tenho por hábito deixá-los em minha mesa bem defronte a mim – enquanto os digitais, costumo meio que “perdê-los” em meio aos “escombros” do computador. E foi o que infelizmente aconteceu com o seu sexto álbum digital Volitar (Candyall Music).

Eu inclusive já havia pedido desculpas a Nanda Dias pelo mau uso da modernidade… foi ela quem me enviou o teu CD. Mas eis então que, num bonito e recente dia, perambulando pelos escaninhos da memória do computador, me deparei com o danado: ouvi e gostei do que ouvi. Assim, agora aqui estou eu contando o que senti durante as audições do sumido.

Nele constatei a boa ideia que tivestes de entregar a produção musical ao DJ Fernando DeepLick, Felipe Tauil e Carlinhos Brown, a acertada iniciativa de tê-los ao lado em teu novo álbum, Flávia: um trio porreta que junto contigo assumiu a responsabilidade de consolidar a personalidade da concepção artística do trabalho. As dez composições tuas, de Brown e outros parceiros, mesclam canções com pisadas nordestinas, amplificadas com sonoridades eletrônicas pilotadas pelo DJ DeepLick.

“Rei Gonzaga” (Carlinhos Brown e André Lima) vem trazendo tua voz grave com leve reverber. Senti firmeza na bela reverência a Gonzagão, percebida quando a base eletrônica, criada por Fernando DeepLick, se ajunta à sanfona de Rui Mário, ao pandeiro e à zabumba de Felipe Tauil e ao violoncelo de Daniel Silva. Ali, naquele exato instante, tive certeza de que estava diante de uma intérprete e de um álbum de grande força criativa.

Em “Escavucando o Nada”, música inédita de Brown e André Lima, a mixagem “empurra” os graves de encontro ao peito do ouvinte. Recurso apropriado pelo poder de atrair a atenção para o seu cantar e para a instrumentação envolvente dada à música. Protegida pela atuação dos mesmos músicos presentes na faixa anterior, a partir daí tu não negas fogo… e o coro come bonito.

Uma bela canção tua, Flavinha (eita, que agora já tô eu aqui cheio de intimidade contigo… leva a mal não, moça), é “Sigo Meu Destino”. Sei não, encuquei que o tom escolhido ficou um pouco baixo pra tua voz…, Mas vida que segue e, ao fim e ao cabo, tudo soou de forma a demonstrar que tua verve composicional segue rica e forte. Que bela está a sanfona do Rui, hein!? Meu Deus!

Deixastes pro final a tua “Qual a razão?”. O arranjo de DeepLick apresenta a introdução ao teu canto, quando tu dobras a voz com um tiquinho de reverber. A beleza da letra revela a consciência de uma mulher criadora, expondo a tua natureza de cantar belezas determinantes.

Bem, Flavinha, o papel e a tinta da caneta estão acabando e eu aqui tenho que me despedir. Recebas um beijo carinhoso deste que tanto gostou do teu novo trabalho. Fui.

 

Aquiles