Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Prezado Carlos, venho aqui para dizer algumas palavras sobre o seu novo e 20˚ álbum, Somos Todos Estrangeiros, que tem participações especiais de Rita Benneditto, Laura Catarina e Simone Spoladore.

É, Careqa, trinta anos depois de lançar o seu primeiro disco, Os Homens São Todos Iguais, em 1993, você traz um novo trabalho com produção do Marcio Nigro, lançado pelo selo Barbearia Espiritual Discos. Isso não é mole não, viu, meu camarada?

Mas antes de escrever sobre seu novo trabalho, fui ao meu arquivo e lá encontrei algumas colunas em que comentei seis de seus discos… Foi tipo uma viagem maneira por escritos impregnados de amor pela música e por seus criadores. Pessoas de quem sou tão amigo, colega e admirador, para quem e por quem eu verdadeiramente escrevo.

Por exemplo, em 2011 eu escrevi sobre o CD Alma Boa de Lugar Nenhum, que titulei como “O cantar profano de Carlos Careqa”. Sugeri algo como que não se deveria enquadrá-lo em nenhum gênero musical reducionista, louvei a participação de Chico Buarque cantando com você a sua marcante “Minha Música”, afirmei que sua poesia, movida pela força de contrastes inusitados que tangem o inconsciente, é audaciosa, e que o frescor de sua música, movida a sangue novo, contagia.

Outro momento foi quando do meu assombro em 2013 ao ouvir Made in China, seu oitavo álbum, titulei a coluna como “O eterno buscador”. Tudo me veio ao percebê-lo como um garimpeiro de estranhezas poéticas, cuja música é profana, bem como transgressores eram seus versos e suas ideias.

E também disse, ao me referir ao minimalismo do álbum 60 Mini Songs, numa coluna de 2021 titulada “Bicho Carpinteiro”, que se tratava do trabalho de um esquadrinhador, de um irrequieto e alucinado desarrumador de convenções.

Pois então, bora de Somos Todos Estrangeiros? Como já disse, lá estão o seu escudeiro Marcio Nigro, responsável pela produção musical, arranjos, mixagem e masterização do CD, além de tocar baixo, violão, guitarra, teclado, samplers, piano e participar dos vocais, e também o acordeonista e bandeonista Thadeu Romano.

Abrindo a tampa, “Ela Falou” é candidata a abrir a próxima novela global das nove… Brincadeira, véio. Mas com aquela pisada poderosa e seu duo com a Rita Beneditto, vai que… sei lá! E que vocalises faz a Beneditto, hein? Meu Deus!

Simone Spoladore abre “16 Anos” lendo um poema. E o causo vem aceso pela melodia que você tão bem (en)canta. O resultado triunfa.

A nordestinidade volta em “Minha Amada, Meu Amado”. Laura Catarina canta com voz aguda, exalando brasilidade e dividindo a prosa com você.

A delicadeza aporta em “Falsa Dança”. O bandoneón cria a atmosfera que impera em sua música, curtinha e linda.

Musicalmente arrebatadoras, embaladas que estão pelo talento criativo dos arranjos de Marcio Nigro, suas composições fulguram em sua voz.

Tem jeito não, meu véio: escrever versos e canções é a sua missão na terra que o acolheu para viver.

Ao artista que é você, Carlos Careqa, o meu respeito.

Aquiles