A primeira vez que ouvi falar do David Capistrano da Costa foi por intermédio do meu pai, um comunista de carteirinha. Então os dois eram do Partidão. Papai na base, David na diretoria. Anos depois meu pai, já no PT, me falou de outro David Capistrano, o filho. Este médico, morto precocemente, foi prefeito de Santos e brilhou no sistema de saúde da cidade.
Mas o assunto desta crônica é o David Capistrano, pai. Antes de ser “desaparecido” – ao lado de José Roman, em março de 1974, numa viagem entre a gaúcha Uruguaiana e São Paulo – David encarnou o sonho de todos os comunistas da velha-guarda, o de ser um soldado internacional. Afinal, os injustiçados do planeta não são todos iguais?
Nascido em Boa Viagem, Ceará, em 1913, o garoto iria ver muito mais do que paisagens do sertão e ouvir além dos gritos agudos das arapongas. Assim em 1935, ele participa do Levante Comunista no Rio de Janeiro, capital federal. Aquele em que deu tudo errado, pois o povo faltou ao encontro.
David, então sargento, é expulso das Forças Armadas e levado ao famoso presídio da Ilha Grande. De onde, com outros companheiros, foge a nado. Um ano depois, David entra na Espanha, integrando as Brigadas Internacionais com o objetivo de derrotar o generalíssimo Franco. Seria mais uma batalha perdida.
O país seguinte é a França. Lá o insistente comunista participa, juntos aos partisans, da Resistência Francesa frente à ocupação nazista. Ele é pego e deportado para um campo de prisioneiros na Alemanha. Depois de liberado, retorna ao Brasil sendo imediatamente preso. Ufa! É solto com a Anistia de 1945.
Dois anos depois, é eleito deputado estadual pelo PCB. Tem uma vida parlamentar curta, uma vez que seu partido será rapidamente empurrado de volta para a ilegalidade. Com o mandato cassado, David segue editor da Folha do Povo e de A Hora – jornais ligados ao Partidão, em Pernambuco.
Por força do Golpe de 1964, pesadelo político em que os comunistas eram vistos como o feio diabo e acusados de comer criancinhas, Capistrano entra na militância clandestina. Algum tempo depois, embarca para a então Tchecoslováquia. Hoje República Tcheca e Eslováquia.
Até que o banzo bate forte. Ele volta ao Brasil. Mas por conta e obra dos militares, será para nunca mais ouvir o canto das sabiás e o vento balançando as palmeiras em flor. (texto Fernanda Pompeu, arte Fernando Carvall)
Muito legal! Obrigado pela leitura, participação e por compartilhar memória tão significativa.