Se bem me lembro, esta é a primeira vez que faço uma avaliação de calçado de corrida da New Balance. Lutei, ao longo dos testes e na produção deste texto, para ser o mais isento possível. Mas devo dizer que que tenho uma certa simpatia atávica pela empresa.
Explico: foi dessa marca o primeiro tênis de corrida “de verdade” que eu comprei, lá no final do século passado. Estava nos Estados Unidos a trabalho e, numa folga das visitas, entrevistas e conferências, me embrenhei numa enorme casa de artigos esportivos num desses gigantescos conjuntos de lojas de descontos.
Na época (e ainda hoje), era ávido leitor dos guias de tênis publicados nas revistas estrangeiras, buscava promoções e ofertas, analisava calçados pelo tipo, gênero, cor, flexibilidade, resistência etc. e tal e coisa e tal e tal e coisa. E fui testar o tal modelo da New Balance recomendado “para mim” de acordo com um guia especializado.
Testei nada. Foi calçar o bicho e me sentir nas nuvens. Até então usuário de calçados “originais”, “genuínos”, “iguaizinhos aos de fábrica”, nunca tinha experimentado tal conforto. Vem daí minha simpatia pelos modelos da marca; pretendo não deixar que esse sentimento perturbe a acuidade desta avaliação.
Durante alguns anos, fui fiel à marca, que, por sua vez, nem sempre foi fiel aos corredores –na primeira década deste milênio, investiu mais no consumidor dito “casual”, se oferecendo como tênis “de balada”.
Chegou a fazer uma campanha de merchandising calçando os personagens de uma versão modernizada da ópera “La Bohème” apresentada no Municipal aqui de São Paulo. Imagine Rodolfo cantando “Que mãozinha gelada”, e Mimi respondendo com “Me chamo Mimi e gosto de poesia”, ambos empoleirados em flamantes calçados esportivos –modelos alto esporte, como se diz nas colunas sociais (acho eu).
Nas lojas, porém, era difícil encontrar os modelos de corrida. Por essas e por outras, acabei mudando de marca –costuma usar três tênis em rodízio, nem todos da mesma fabricante. Nunca mais experimentei tênis da New Balance.
Até agora, quando a empresa parece fazer um novo esforço para conquistar o mercado brasileiro –ou, pelo menos, atrair para si fatia significativa dos compradores.
Suas armas nessa campanha de conquista são os novos modelos da linha FuelCore, apresentados como calçados de corrida indicados para quem busca mais desempenho, mais velocidade (que fique claro, porém, que é o corredor que corre…).
O modelo Cell, por exemplo, “tem sola de EVA que proporciona maior propulsão a cada passada”. O Sonic traz um “solado moldado que proporciona maior flexibilidade”. E o Rush é equipado com “contraforte modado que dá mais segurança ao calcanhar”. Tudo no dizer do material de divulgação distribuído pela assessoria de imprensa da empresa.
Recebi para testes o modelo Rush, o primeiro a estar disponível nas lojas brasileiras.
A sensação, ao calçar o tênis pela primeira vez, foi semelhante àquela experimentada no século passado. Muito conforto, uma sola de bom amortecimento sem ser molenga.
Achei que dava para sair direto para testes de corrida, sem passar por amaciamento em caminhadas.
Deu certo. No primeiro dia de avaliação, meti quinze quilômetros sem problemas. Desde então, já fiz mais de cento e cinquenta quilômetros com o calçado, que se comportou muito bem ao longo de todo o período.
Seu solado denso dá segurança –quem prefere mais flexibilidade talvez não goste. O principal, porém, é o bem estar do pé.
Trata-se de modelo relativamente leve, considerando a espessura da sola. O peso informado é de 274 gramas, quase cem gramas a menos do que o modelo que costumo usar. O drop (diferença de espessura da sola no calcanhar e na parte mais fina) é de 6 milímetros; no meu calçado costumeiro, é de dez milímetros. Não notei diferença.
Sobre o conforto, porém, é preciso deixar um aviso. Testei um calçado número 44 (tamanho 12 norte-americano) que me serviu perfeitamente, com conforto na largura e na ponta do pé, usado com ou sem palmilha.
Acontece que meu número é 11,5 (43 no Brasil; às vezes, até 42, se o calçado for largo e alto). Isso pode significar, portanto, que as proporções da forma do Rush são mais modestas do que as do padrão. Portanto, se o seu número de sempre não servir, experimente um maior…
Volto à questão da flexibilidade: nos dias de hoje, há muita propaganda baseada nesse elemento, e uma parcela do público pode ter se acostumado a tênis em que é possível fazer a ponta dobrar ao ponto de encostar no calcanhar.
Isso não acontece com o Rush. É um tênis firme, de boa sustentação e bom amortecimento. Ainda que mais leve que modelos tradicionais da linha de calçados de amortecimento, é confortável para corredores mais pesados (como eu).
Quanto ao design, é absolutamente tradicional. As cores são clássicas, basicamente tom sobre meio tom, ainda que eu tenha visto modelos de azul brilhante com verde… O que eu testei é supersóbrio, preto com cinza, solado branco. Muito elegante.
Como todos os calçados da New Balance, traz na lateral um “N” magricelo e expandido, de linhas retas e frias, que achei horrível quando foi lançado e continuo achando feio demais. Ainda mais se for comparado com o “N” gordinho e saudável usado no século passado –tão bom que é ainda visto em coleções especiais da marca.
O Rush é o “mais barato” dessa linha agora trazida ao Brasil pela New Balance –se é de dá para chamar de barato um calçado com preço de lista de R$ 499,90.
Esse valor está na mesma faixa de concorrentes da Mizuno ou da Asics. Por conta de seu maior tempo no mercado, porém, é possível encontrar modelos anteriores do Cumulus (Asics) e ProRunner (Mizuno) de coleções passadas por preços bem mais baixos.
De qualquer forma, trata-se de um calçado que, por sua qualidade e preço, tem boas condições de disputar espaço no mercado com modelos mais conhecidos dos corredores brasileiros.
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