O FOGO QUE INCENDEIA A CARETICE
por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Baterista tarimbado, Alfredo Dias Gomes completa 25 anos de carreira e lança JAM (independente), seu nono disco. Com apenas oito faixas, todas compostas por ele – e pouco mais de 38 minutos de duração –, o disco de Alfredo conta com apenas dois instrumentistas além dele: Julio Maya (guitarra) e Marcos Bombom (contrabaixo e “baixolão”). Por ideia de Alfredo, os três tocam jazz rock, gênero que ele abraçou plenamente e pelo qual se deixou influenciar e entusiasmar.
Desde a década de 1960, mas sobretudo por volta do início do século 21, músicos de rock passaram a incluir alguns atributos do jazz em suas composições. Assim, dedicaram maior capricho a suas composições, permitindo-se inclusive a improvisos. Resumindo: jazz rock é o gênero musical que mescla, principalmente, o jazz com o roquenrrol – mas não exclusivamente com este: ajunta-se também ao funk e ao rhythm and blues.
Em JAM, Alfredo consegue a proeza de traduzir com sua bateria o espírito libertário do baterista panamenho Billy Cobham, músico que ele muito admira.
Mr. Cobham começou tocando jazz rock com Miles Davis e participou da Mahavishnu Orchestra, outra inspiração de Alfredo. Tanto ele como Billy têm técnica apurada, valem-se igualmente de todas as peças do instrumento e se amarram em extensos e ricos improvisos.
A tampa abre com o tema “The Night”. Para compô-lo, Alfredo valeu-se de um teclado (instrumento que ele usa em outras músicas do CD). O trio toca a intro, na qual destaca-se a bateria, ora nos pratos, ora nas peles. Um groove se multiplica. A guitarra sola, enquanto a bateria a ampara. O baixo ponteia. (Na verdade, se me permitem o disparate, é como se guitarra, bateria e baixo solassem ao mesmo tempo.) Volta o groove. Viradas variadas da bateria… e chega o final.
Em “High Speed”, Alfredo escancara seu entusiasmo por Billy Cobham e pela Mahavishnu Orchestra. Após a bateria chamar, vêm o teclado e a guitarra. Como na faixa de abertura, um groove se repete. Divisões apimentadas antecedem o solo do baixo. Os movimentos melódicos ressoam livres. O couro come. É o jazz rock impondo suas minúcias… meu Deus!
“Jam”, que nomeia o CD, tem o exato sentido que o título indica: uma jam session na qual o improviso de cada instrumentista foi gravado no momento mesmo de sua criação. Nada mais jazzy.
Em “Experience”, Alfredo optou por uma afinação mais aguda do que a que costuma usar nas peles de sua bateria, e, após solo voluptuoso… o fim!
“The End” fecha a tampa. No estúdio, com os três gravando ao mesmo tempo, o registro se dá com improvisos ardentes. A força da pulsação do tema aberto reforça a emoção que irrompe ouvidos adentro desde o primeiro tema.
JAM é um brilhante CD instrumental. Alfredo e o jazz rock são o fogo que incendeia a caretice. E assim, tocando com extremada competência, Alfredo Dias Gomes, Julio Maya e Marco Bombom dão seus atributos para serem saboreados pelos amantes da boa música instrumental brasileira.
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