Na calada do dia, todo suingue traz luz
por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Falaremos hoje sobre Na Calada do Dia (Maritaca), o segundo CD do baterista e compositor Edu Ribeiro. Logo de cara, adianto: trata-se de um ótimo disco instrumental.
Interpretado pelo quinteto formado pelo próprio Edu (batera), mais Rubinho Antunes (trompete e flugelhorn), Guilherme Ribeiro (acordeom), Bruno Migotto (contrabaixo acústico) e Gian Correa (violão de sete cordas), o disco foi gravado sob o comando do engenheiro de som Thiago Baggio no estúdio Gargolândia (falam maravilhas desse estúdio, que é do músico e compositor Rafael Altério). Já a igualmente boa mixagem, a cargo de Dave Darlington e do grande violonista Chico Pinheiro, foi feita em Nova Iorque.
(Longe de mim o xenofobismo, mas o fato é que no Brasil existem alguns ótimos estúdios e também grandes técnicos capacitados para bem gravar, mixar e masterizar os CDs, que não deixam nada a desejar em relação aos lá de fora. Optando por estes, há quase sempre um considerável aumento no custo do disco e o som final diferirá bem pouco, ou quase nada, do resultado obtido aqui. Pois é: então, pra quê? Sinceramente…? Com todo respeito, eu tô “nem-seu-souza” pros estúdios norte-americanos, japoneses e europeus).
A tampa abre com “Maracatim” (Edu Ribeiro). O trompete toca e o acordeom vem com ele. O duo logo tem o reforço do baixo acústico e do sete cordas. Acentuando a marcação suingada do maracatu, a batera conduz todos até o intermezzo do acordeom. Ad libitum, o trompete improvisa até devolver pro acordeom, que logo retorna pro trompete. Agora é a vez de o baixo improvisar, enquanto a batera, com o pulso firme de Edu, agrega força ao tema. Belo início. Belas interpretações.
“Nenê” (ER e Nenê) é faixa-solo para a batera fazer misérias pelas mãos seguras de Edu Ribeiro. A variação dos toques no instrumento indica sua mestria. São quase três minutos de um tema que pode bem servir como inspiração pra moçada que está iniciando sua relação com o instrumento.
“Na Calada do Dia” (ER) é um samba ligeiro, conduzido por acordeom e batera. Logo o sete e a batera se esbaldam. Daí sobressaem o trompete e o acordeom. A batera alterna as batidas em suas peças. Volta o ritmo. Com sua volta, o trompete improvisa. O baixo segura as pontas. Suingueira total. Solo do acordeom. O sete e a batera apoiam. O tema é poderoso.
A lúdica “Brincando Com Théo” (Léa Freire) inicia com a batera – junto com ela, o flugelhorn, a flauta (especialmente tocada pela autora), o acordeom, o baixo e o sete produzem um divertimento no qual os instrumentistas brincam e brilham, enquanto o menino Théo, decerto, ficou amarradão de montão. Com uma referência à cantiga de roda “Na mão direita tem uma roseira”, a festa chega ao fim.
A tampa fecha com “Diddle Diddle” (ER), tema com pouco mais de dois minutos e compassos intensos. Neles, Edu Ribeiro improvisa e assina embaixo o seu álbum, que traz a mais fina música instrumental tocada por músicos da mais alta qualidade.
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