O seminário virtual “A caminhada… para além do caminhar…” é uma das iniciativas do projeto “Cuidando de quem cuida… do SUS”, vinculado ao Círculo SUS VIVO – Projeto Mandacaru – Rede Nordeste. O tema da caminhada nos remete ao tema do cuidado, sobretudo no contexto do SUS. O convite é para pensar e conversar a respeito dessa prática milenar.
Nesta segunda edição do evento, trazemos as perspectivas: de um geógrafo, de uma historiadora, de um agente comunitário de saúde, de um jornalista, de um cantor e de um urbanista. As caminhadas nos convidam a conhecer diferentes modos de resistir, existir e ocupar a Terra (clique no vídeo acima para ver a íntegra e se inscreva no TUTAMÉIA TV)
Os coordenadores YARA MARIA DE CARVALHO, professora na Escola de Educação Física e Esporte e na Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenadora do grupo de pesquisa Corpus – USP, e MARCELO SEMIATZH, doutor em ciências pela Universidade de São Paulo, fisioterapeuta, sócio proprietário da clínica Força Dinâmica e coautor do livro “Força Dinâmica – Postura em Movimento, sobre como caminhar, fizeram a apresentação e o encerramento do seminário, que teve a participação dos seguintes palestrantes.
MAURO CALLIARI, que falou sobre OS PARADOXOS DE ANDAR A PÉ NO BRASIL. A INVISIBILIDADE, A MOBILIDADE E A FRUIÇÃO (fala começa aos 8min16 do vídeo)
Mauro Calliari, 58, é administrador de empresas pela FGV, mestre em Urbanismo pelo Mackenzie e doutor em História do Urbanismo pela FAU-USP, com pesquisa focada em Espaços Públicos e Caminhabilidade. É é autor do livro “Espaço Público e Urbanidade em São Paulo” e do blog Caminhadas Urbanas, no Estadão, que procura trazer o ponto de vista de quem anda na cidade para a discussão das políticas públicas. É palestrante em diversas instituições, coordenador do Conselho Consultivo da Oficina Municipal, membro da ONG Cidadeapé e do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial, conselheiro no ITDP e representante eleito no Conselho Municipal de Transportes de São Paulo.
LUIZ DE CAMPOS JR, cuja palestra abordou o tema “CAMINHANDO ENTRE RIOS E RUAS (fala começa aos 30min45 )
Luiz é geógrafo com formação em Comunicação e Educação. Desde 1995, trabalha com o tema dos rios urbanos de São Paulo, realizando pesquisas, cursos, oficinas e expedições. Em 2010 criou com o arquiteto e urbanista José Bueno a iniciativa RIOS e RUAS, dedicada à sensibilização da população aos rios invisíveis, procurando transformar a percepção das pessoas a respeito das realidades urbanas e revelar a presença desejável de rios e riachos soterrados vivos sob as cidades. Dedicada a pesquisa, divulgação e sensibilização da temática dos rios urbanos, já realizou dezenas de palestras, oficina e principalmente expedições de exploração dos rios de São Paulo e diversas outras cidades por todo o Brasil.
Desenvolveu em parceria com o Estúdio Laborg a exposição Rios DesCobertos, exibida durante 2016 e 2017 em 3 unidades do SESC na cidade de São Paulo e em novas versões para as cidades de Piracicaba, Jundiaí e Campinas no ano de 2018. Foi agraciado com o 3º Prêmio Pintou Limpeza – 2014, promovido pela Rádio Eldorado e Rádio Estadão, como “Instituição de Destaque” e com o “Prêmio Responsabilidade Socioambiental” 2018 da Câmara Municipal de São Paulo.
É ativista e netweaver em diversas redes cidadãs nas áreas de mobilidade, horticultura urbana e revitalização de espaços públicos
EDNANDO DA SILVA ESTEVES, que falou sobre o tema CONHECENDO ATRAVÉS DO CAMINHAR (fala começa à 01h01min09)
Natural de São Paulo. Após seu nascimento, a família retornou pra Minas Gerais, cidade de Berilo, lugar onde morou durante algum tempo Domingos de Abreu Vieira um inconfidente, região norte nordeste de Minas Gerais, Vale do Jequitinhonha. Trabalhou no corte manual de cana de açúcar em dois estados, e na colheita de café no sul de Minas durante três anos. Veio para São Paulo em 2011, almejando um futuro melhor, e iniciou atividades na área de gastronomia, que gosta desde a infância.
Em 2014 prestou o Enem. Conseguiu nota para obter o Fies e cursou gastronomia, na Hotec. Atuou durante quatro anos na área, mas sempre desejou ajudar mais a comunidade onde mora, então optou por se aventurar na estratégia da saúde da família, e me apaixonei pela função que tenho desempenhado! Atua no programa Estratégia Saúde da família na comunidade de Paraisópolis há dois anos.
CARÓU OLIVEIRA, cuja palestra abordou O CORPO NA DISPUTA DA HISTÓRIA (fala começa à 01h22min38)
Historiadora formada pela FFLCH-USP. Mestranda em História Social pela UNIFESP. Educadora em espaços formais e não-formais com experiência em História, Arte Contemporânea, Arte-educação, Educação Patrimonial e Edição de livros. Já trabalhou em escolas públicas e privadas, na Bienal de artes de São Paulo, SESC, FIESP, Editora Contracorrente e Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Mediou debates no Itaú Cultural, Oficina de Cultura Oswald Andrade e outros espaços alternativos. Autora de zine e ensaios sobre gênero e política. Técnica no projeto Percursos e Memórias. Cofundadora da História da Disputa: Disputa da História.
História da Disputa: Disputa da História é um projeto de historiadoras dedicado à pesquisa, produção e difusão de conteúdo historiográfico orientado a partir da História dos vencidos, ou seja, a partir de documentos, testemunhos, memórias e dinâmicas produzidas por atores sociais geralmente ignorados pela História tradicional. Para isso, a metodologia inclui a ocupação dos espaços públicos para propor um debate com as pessoas que abarque seus conhecimentos e experiências afetivas, buscando, através dessa partilha, interferir ativamente nos usos e construções desses espaços e disputar a narrativa hegemônica que os define
SÉRGIO TULIO CALDAS falou sobre CAMINHOS DO CONHECER (fala começa à 01h49min06)
Sergio Tulio Caldas é jornalista, escritor, diretor de TV e roteirista. Ganhador do Prêmio Jabuti com o livro Com os Pés na África (Editora Moderna), ele tem pegado estrada das Américas à Ásia, passando pela África e Oriente Médio, para escrever, fazer reportagens e gravar documentários. Seu interesse pelo meio ambiente e diversidade cultural resultam em livros, reportagens e documentários. Para o canal National Geographic, entre outros veículos da TV, escreveu a série “Nos Caminhos de Che”, e roteirizou episódios de “A Verdade de Cada Um” e “Tabu/Brasil”, além de dirigir “Parques de São Paulo” – série sobre as reservas florestais do estado paulista.
No momento, está escrevendo “Terra sob Pressão/ A vida e a saúde humana na era do aquecimento global” (Moderna), fruto de viagens a ambientes tão diversos quanto a Amazônia e a Caatinga, a Mata Atlântica e o Cerrado, os Pampas e o Pantanal, os Andes e o Himalaia. Envolvem ainda os caminhos do autor, ilhas do Caribe, a Europa, os limites das zonas climáticas da Antártida.
Em seu livro mais recente Água, precisamos falar sobre isso (Moderna), Sergio Tulio descreve a delicada situação da água a partir de suas observações pessoais e pesquisas durante viagens por diversos lugares do Brasil e do mundo. Entre outras publicações, é de sua autoria Nas Fronteiras do Islã (Record), resultado de diversas idas a países muçulmanos.
Dado o caráter destes trabalhos, Sergio Tulio faz das caminhadas seu mais importante aliado para entender, com mais intimidade, o ambiente e as pessoas por onde viaja. Trabalhou para importantes veículos de comunicação do País, como o jornal O Estado de S.Paulo, revistas Veja e Os Caminhos da Terra, TVs Gazeta, SBT e Record.
A seguir, um pouco do que foi a palestre de SERGIO TULIO CALDAS.
ROTA DA SEDA E CAMINHOS DA ÁGUA
A longa jornada da humanidade – a nossa história – vem sendo construída com os pés, com as muitas andanças. Isso, desde que os primeiros hominídeos deixaram a África há cerca de 100 mil anos para cruzar os continentes. Hoje, um fenômeno se soma como mais um passo nessa escalada histórica: estamos testemunhando as inéditas ondas migratórias provocadas pelas mudanças climáticas.
Na minha apresentação, cujo tema é “caminhos do conhecer”, quero falar um pouco sobre o quanto o andar, o caminhar, se tornou a ferramenta mais necessária para minhas atividades profissionais. Da mesma forma, essa ferramenta também é indispensável para os palestrantes da roda de conversas de hoje.
É apenas por meio do caminhar que consigo observar com mais intimidade as histórias, o meio ambiente e, especialmente, as pessoas dos lugares que visito. São esses elementos que formam a fonte dos livros, documentários e reportagens que realizo. Nunca sai para andar mundo afora com o objetivo de escrever um livro, por exemplo. Mas foi o caminhar, sem a pressa dos carros ou dos aviões, que me aproximou de conhecimentos, abriu portas, possibilitou amizades e até confidências, para que eu produzisse livros, como o “Nas fronteiras do islã” (Record), “Com os pés na África” (Moderna), e o mais recente “Água – precisamos falar sobre isso” (Moderna).
Foi andando pela antiga Rota da Seda, por exemplo, que tive a oportunidade de conhecer pessoas, cidades, e até nações inteiras, que ergueram suas histórias por meio do caminhar. Culturas e etnias como a dos uigures, no norte da China, cidades como Bukhara, na Uzbequistão, o budismo que se espalhou desde a Índia para toda a Ásia e depois para o mundo inteiro. Filosofias, artes, música, religiões, idiomas foram aprendidos, trocados e assimilados. Tudo isso, por obra de peregrinos, monges, sacerdotes, aventureiros, filósofos e estudiosos das mais diversas áreas que perambulavam – a pé – por aquelas bandas da Terra.
ALE EDELSTEIN, que falou sobre CAMINHAR PARA SI MESMO. NOSSAS CAMINHADAS NECESÁRIAS
Ale Edelstein é publicitário e ator de formação, cantor litúrgico por vocação. Vocação essa que começou quando era menino e fez a “loucura” de participar de um teste para cantar no coral litúrgico da CIP. Cantou um rock e foi aprovado. O resto é história…
Assim, começou sua conexão com a religião e a espiritualidade. E, também, a vontade de comunicar por meio da música. Hoje trabalha como educador e chazan (cantor litúrgico) da Congregação Israelita Paulista- CIP. Tem dois filhos incríveis: a Isa e o Martin; um disco, também muito legal, chamado Yedid Nefesh/Amigo da Alma. E a vontade de seguir caminhando. E cantando.
A seguir, um pouco do que foi a palestra de ALE EDELSTEIN (começa em 02h18min33) .
CAMINHADA DE ABRÃAO
Em outubro de 2018 parti para uma jornada de 40 dias pelo Oriente Médio. Iniciei na Turquia (onde nasceram meus avós), depois Jordânia, Israel e Palestina.
Uma das inspirações da viagem foi um projeto chamado Caminho de Abraão, que propõe refazer a caminhada de Abraão, desde que ele recebeu o chamado para “ir para ele mesmo” (Lech Lechá em hebraico). De acordo com o relato bíblico (Gênesis cap.12) Abraão deixa sua casa, a casa de seus pais, para ir de encontro ao desconhecido.
Movido pela necessidade de tirar meus sapatos e ir “para mim mesmo”, fui. Inspirado no Patriarca, e no livro Tirando os Sapatos do Rabino Nilton Bonder.
Fui para respirar, aprender, entender, deixar-me surpreender, conectar-me com minhas origens.
Caminhei por lugares novos e desconhecidos, conheci novas culturas e pessoas.
Experimentei sair do controle e ter que lidar com os meus medos, meus pré conceitos. Tornei-me mais sensível e vulnerável, meus sapatos estavam há muito tempo moldados aos meus pés.
Uma caminhada pelo deserto foi a melhor forma de entrar em contato comigo mesmo. Desafiei-me a caminhar, olhar para meus passos, para meus sapatos, para meus incômodos, ouvir as minhas vozes e os meus silêncios. Sim, tudo ao mesmo tempo!
Mas, como diz Bonder, a realidade não é exatamente o que percebemos dentro de nossos sapatos. O verdadeiro caminho se faz das interações e não das escolhas e resoluções da vontade.
Acredito fortemente que através do encontro geramos empatia. Caminhar, com verdade e empatia, a partir do nosso interior, talvez ajude no acesso ao outro, ao adverso, e ao desconhecido.
William Uri, criador do projeto Caminho de Abraão diz que sonha ver como resultado das caminhadas, a transformação da hostilidade em hospitalidade. E do terrorismo em turismo.
Inshalá.
Axé.
Shalom.
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