Mais de cinquenta artistas plásticos brasileiros estão participando do leilão “Artistas Plásticas pela Democracia”, organizado pelo Movimento Cultura pela Democracia para arrecadar fundos para o Instituto Lula e a defesa do presidente preso em Curitiba.

Nomes mais do que consagrados no país e no exterior cederam obras para o leilão virtual, que começa no próximo dia 11 (saiba mais clicando AQUI). Eis alguns dos artistas participantes:  Augusto de Campos, Dudi Maia Rosa, Nuno Ramos, Rodrigo Andrade, Iran do Espírito Santo, Sergio Romagnolo, Geórgia Kyriakakis, Sérgio Sister, Rochelle Costi, Mauro Restiffe, Ana Prata, Claudio Cretti, Lúcia Koch. Uma das obras é assinada por Tomie Ohtake e foi doada por Ricardo Ohtake, filho da artista.

“Conversando com amigos, fomos discutindo o que fazer. A gente estava incomodado com a situação política do Brasil e tudo, tanto de São Paulo, da cidade, do estado e do país. Chegou uma hora em que todas as instâncias estavam muito retrógradas. Ficamos discutindo o que a gente poderia fazer para ajudar. E surgiu a ideia de leilão”, conta Sérgio Romagnolo, um dos organizadores do grupo, em entrevista ao TUTAMÉIA (clique no vídeo do alto para assistir à integra de nossa conversa).

Escultor, pintor, desenhista, professor universitário, Romagnolo disse que foi dessas primeiras conversas, inicialmente reunindo um grupo de dez, doze pessoas, que surgiu o movimento.

“A gente tinha visto os shows de música, teatro, o pessoal do cinema, os livros de apoio, então a gente imaginou que cada área podia ir fazendo seus eventos. Imaginamos esse leilão. Fomos falando com os artistas, eles foram topando, foram aceitando. A gente foi ficando muito impressionado. Temos agora mais de 50 artistas que já toparam, e não para de aumentar. Nomes importantes, artistas jovens, de todas as idades.”

Como se explica essa adesão?, perguntamos a ele.

“Não é uma ação partidária. Ela é política, mas independe de partidos”, explica o artista. “Muita gente ficou achando muito injusta essa coisa com o Lula, a prisão, e esse cerco ao instituto.  Mesmo as pessoas que vão votar em outros partidos também quiseram participar. Porque não é para a campanha do PT, não é para o Haddad, é para o instituto. A gente está vivendo um momento de exceção, um momento de injustiça, a pessoa ser condenada sem provas, assim, desse jeito, então as pessoas foram se munindo desse espírito, de combate à injustiça.”

E continua: “Em alguns momentos, a gente tem de defender o óbvio, os direitos mais elementares das pessoas, o estado de direito”.

O leilão virtual se encerra no dia 19 de outubro. No dia seguinte, o grupo vai realizar uma confraternização, aberta ao público: “A gente queria fazer o leilão, arrecadar os fundos, mas também fazer um ato político, mostrar nossa posição”, diz Romagnolo na entrevista, em que ele também conta um pouco de sua carreira e fala sobre relações entre arte e política.

A SEGUIR, TEXTO INTEGRAL DA APRESENTAÇÃO DO GRUPO E DO MANIFESTO DE CONVOCAÇÃO AO LEILÃO

Obra de Nuno Ramos doada para o leilão Artes Plásticas Pela Democracia

 

HÁ TEMPOS EM QUE É PRECISO DEFENDER O ÓBVIO.

O ESTADO DE DIREITO É ÓBVIO. MAS ESTÁ EM RISCO

Editores, artistas e intelectuais lançam o Movimento Cultura pela Democracia. Primeira iniciativa do grupo, o Leilão Artes Plásticas pela Democracia, em benefício do Instituto Lula e da defesa do ex-presidente, se realiza em outubro. Doaram obras para o leilão mais de 50 artistas, todos consagrados, inclusive internacionalmente.

Talvez você tenha vivido situações como a atual. Nos anos 1960/70, nós não tínhamos algo que parecia ser a mais lógica e a mais óbvia das certezas: a segurança de viver num país democrático.

Não havia eleições. Todos sabiam de algum conhecido, de algum amigo, de algum parente que fora detido, preso ou forçado a sair do país. Alguns foram mortos.

Foi um tempo de terror de Estado. Fomos impelidos a lutar por direitos básicos. O de falar, o de participar, o de se reunir, o de escrever, o de protestar e o de reclamar, enfim. Não havia permissão para fazermos o óbvio.

Pois o óbvio está em risco novamente. Não importa se você denomina a queda de Dilma Rousseff de golpe ou de impeachment. Ficou claro ali que a acusação não parava em pé, não havia indício, não havia prova, não havia nada.

O país piorou desde aquele fatídico abril de 2016. Você também não precisa gostar de Lula ou do PT para perceber isso. A recessão se aprofunda, o país regride e há muito mais gente sem emprego e dormindo nas ruas.

A prisão de Lula segue o mesmo caminho. Fizeram uma leitura tortuosa da Constituição, farejaram provas e só encontraram convicções. Os juízes, novos heróis da Pátria, espremem a letra da Lei para justificar essa brutalidade.

Chegaram a impedir um padre, um prêmio Nobel e uma ex-presidente de visitá-lo. O homem que está à frente em todas as sondagens de opinião, o único brasileiro de dimensão global, é um preso político colocado numa solitária.

Em 1964, uma situação que aparentava tocar apenas a alguns atingiu muita gente. E intelectuais, artistas e povo se uniram, foram às ruas. O mundo da cultura se levantou contra o arbítrio.

Vivemos um desses momentos e por isso fazemos esse chamado. É preciso de novo lutar pelo óbvio.

Como resistir? Há várias formas; uma delas participando do Leilão Artes Plásticas pela Democracia, cuja renda será destinada à sustentação da defesa do ex-presidente Lula e à manutenção de seu Instituto. Ambos estão em risco, sob um cerco “legal” que pretende inviabilizá-los.

Faça parte da resistência. Doe uma obra, participe do leilão que entrará para a história por defender o Estado de direito em nosso país. Ou simplesmente o óbvio.