Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Hoje trataremos do álbum Macramê (Kuarup), da cantora Natália Lepri e do violonista André Siqueira (violão, violão barítono, viola caipira e flauta contralto), com participação do percussionista André Vercelino.
O CD abre a tampa com “Elmo de São Jorge” (Gabriel Cavalcante e Roberto Dídio). O violão barítono toca a intro. Entra a voz de Natália… Antes de seguir, um registro: há tempos eu não ouvia uma voz tão consciente de sua capacidade de ir às notas com a convicção absoluta de produzir algo diferençado. O violão desenha em acordes e em baixarias de forte sonoridade. Cúmplice, a voz se posta a seu lado.
A segunda faixa é “Autorretrato” (Egberto Gismonti e Geraldo Carneiro). A viola caipira ponteia – não conhecia André Siqueira, mas logo notei que eu ouvia um dos melhores instrumentistas do Brasil, um perfeccionista com total aptidão para as cordas dos violões. Arritmo, através da voz de Natália, a música egbertiana logo se assanha.
A terceira faixa é “La Pomeña” (Gustavo Leguizamon e Manuel José Castilho). Natália se dá por completo ao violão de André. Instrumento que se faz imenso para engrandecer o duo.
A quarta faixa é… Perdoem-me, deixarei essa faixa para o final.
A quinta faixa é “Vozear” (André Siqueira). Como o oxigênio supre o mundo, os agudos de Natália preenchem o ar.
A seguir, “Galho de Goiabeira” (Raphael Rabello e Aldir Blanc). O violão puxa a brejeirice da voz de Natália.
A sétima faixa é “Los Tres Deseos de Siempre” (Carlos Henrique Aguirre). Enquanto supre o arranjo (todos de André Siqueira), o violão barítono apregoa seu som grave. A percussão é delicada. Expressiva, a voz chega para logo dividir o canto com o barítono.
A oitava é “Idade da Televisão / Sonora Garoa” (Passoca). A voz abraça a viola caipira que lampeja. O enlace entre elas é tudo de bom. Intercalado com o canto de Natália, André canta trechinhos de “Três Apitos”, de Noel.
A nona é a bela “Poeira Morena” (Nelson Ayres e Rodolfo Stroeter).
A décima é o clássico “Leilão (Hekel Tavares e Joracy Camargo).
A décima-primeira, “Voz” (Sérgio Santos e Paulinho Pinheiro), tem belos versos: “Abençoada a voz do ser que canta/ Possui a alma irmã do passarinho/ (…) Canta/ Que a força que conduz o ser que canta cria a luz”.
Na décima-segunda, “Ramo de Delírios” (Guinga e Aldir Blanc), o violão dobra as notas da melodia harmonizando bonito. Os agudos de Natália somam-se ao engenho do instrumentista.
A décima-terceira faixa é “Tamba Tajá” (Waldemar Henrique). Ouvi-la me reconduziu à minha infância – Grato, Natália! Grato, André!
Enfim a quarta faixa: “Paixão e Fé” (Tavinho Moura e Fernando Brant). Lá eu me encontrei com o futuro. Harmônicos do violão iniciam a música. Emocionante, é a síntese de um álbum que exprime esperanças só propiciadas pela Música: o mundo tem jeito – a solidariedade e a paz redimirão nossas vidas e sonhos.
Ouçam Natália Lepri e André Siqueira nessa quarta faixa seminal e percebam ali o embrião da felicidade.
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