Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Hoje trataremos do trabalho de um dos maiores violonista brasileiros: André Siqueira. Talvez vocês ainda não tenham sequer ouvido falar dele, que dirá já tê-lo ouvido tocar. Pois bem: o compositor, violonista e arranjador André Siqueira acaba de lançar nas plataformas digitais Aura, álbum autoral em que apresenta novidades sobre técnicas de composição e execução, como polimetrias e polirritmias, que são recursos próprios do violão (embora nem sempre efetivados a contento).

Aqui está Siqueira a comprovar sua técnica e sua emoção através das cordas de seus violões. Encantou-me a versatilidade instrumental e, principalmente, o timbre resultante das cordas que ele manuseia como ourives experiente.

Aura expõe a versatilidade e a diversidade da música brasileira, diversidade que permite considerá-la a de maior completude do mundo – no caso de André, temos frevo, valsas, samba e moçambique, tocados em busca do cerne da música instrumental.

Eis algumas faixas.

“Atento ao Tempo” soa com destaque para a mão esquerda de André, cujo vigor traz ressonância e harmônicos para sua composição (todas as faixas do álbum são de autoria dele).

            “Frevo” é uma peça antiga de André, onde o gênero popular desponta ágil. Arpejos rápidos trazem a música encaixada no passo; tão perfeitos como uma letra quando vem ajustada à prosódia, respeitando a acentuação tônica.

            “Vozear” vem lentamente e bela. Melodia a consagrar a beleza de desenhos harmônicos bem encadeados.

            “Canto da Praia” é um chamamé, ritmo do sul da América Latina. Como em outros arranjos, André traz à cena a polimetria ou polirritmia: que é quando algumas concepções rítmicas diferentes se misturam, sem que sejam percebidas de cara pelo ouvinte, mas que são partes integrantes da mesma música.

            “Flor de Lótus” foi gravada com um violão barítono (afinado uma quarta abaixo do violão de seis cordas) e traz contrapontos e arpejos harmônicos. A sonoridade é distinta e a levada rítmica seduz.

“Serena”, outra peça bastante antiga de André, é uma valsa rápida, dividida em duas partes com diferentes tonalidades. Linda pela simplicidade!

            “Inhambu”: peça instrumental que, com letra de Brisa Marques, foi gravada pela cantora Silvia Borba, com participação de Mônica Salmaso. A melodia ecoa a pureza do campo. Belo momento.

“Valsa Aquariana”: dedicada ao acordeonista Toninho Ferragutti, cujo título procede de uma brincadeira sobre o signo de ambos (André, nascido no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, é aquariano como Toninho). Segundo André, a peça tem “Arpejos rápidos, campanellas e ressonâncias.

André Siqueira merece ser ouvido com a atenção que seu talento pede. Conhecê-lo significa apreciar um músico que faz da música instrumental brasileira a quintessência das tetas fartas das canções que engrandecem a nossa cultura.

           

Nossos protetores nunca desistem de nós.

 

Ouça o álbum:

https://open.spotify.com/intl-pt/album/6W1AIU83QhWf3FWvhts2lr?si=YDBAzSQaTIiPfPPdiLGTKg