“Ainda vamos ter embates grandes contra o bolsonarismo”, alerta a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, em entrevista ao TUTAMÉIA em que defende a permanente mobilização pela democracia. “Nós o derrotamos na urna, não na sociedade. Precisamos construir uma força hegemônica de defesa da democracia, dos direitos, do processo legal, de visão de mundo”, diz.
A dirigente petista falou ao TUTAMÉIA minutos antes do início da votação para a eleição do novo presidente do Senado, na última quarta-feira, primeiro de fevereiro. Um momento carregado de tensão, pois tinha ocorrido um súbito crescimento do número de apoios ao candidato bolsonarista –sua “vitória”, aliás, fora registrada um dia antes no noticiário do Google, que depois alegou que a mentira havia sido fruto de erro no algoritmo.
Na entrevista, Gleisi calculou que o candidato extremista teria cerca de trinta votos –acabou recebendo 32, sendo derrotado por Rodrigo Pacheco, reeleito com 49 votos–, o que demonstra que, apesar da rejeição da sociedade à tentativa golpista de 8 de Janeiro, ainda há um núcleo de extrema direita bastante significativo no Congresso, que reverbera na sociedade.
“Isso é uma batalha que vamos ter de travar no dia a dia dentro do Congresso, no governo, na política brasileira, nos movimentos sociais. É um desafio importante para nós”, aponta ela (clique no vídeo para acompanhar a entrevista completa e se inscreve no canal TUTAMÉIA TV).
SEM ANISTIA
“Não se deve achar que, por a gente ter conseguido vencer esse processo, já esteja tudo normalizado. As coisas estão aí, eles continuam se articulando, continuam se organizando, e vão ver a melhor oportunidade para tentar de novo uma ofensiva. Então nós não podemos baixar a guarda. Essa frente ampla democrática que se criou a partir dos crimes do dia 8 tem de ser cuidada, tem de estar alerta e ela tem de, principalmente no parlamento, votar medidas para coibir isso.”
Disse ainda: “A penalização de quem cometeu os crimes é muito importante, porque ela é pedagógica. Não pode ficar ninguém sem ser punido. Com o devido processo legal, com o respeito às leis, mas tem de ser punido. Não pode ter anistia, não pode ter esse tipo de papo aí. Isso não vai ajudar a gente a vencer essa onda de autoritarismo que se instalou no Brasil”.
FORÇAS ARMADAS
Sobre a situação das Forças Armadas, Gleisi Hoffmann afirmou: “Nós sempre tivemos muito respeito pelas Forças Armadas, elas são importantes para o país, mas elas têm um papel constitucional, e é esse papel constitucional que têm de cumprir. É óbvio que as Forças Armadas foram muito politizadas nesse período todo do governo Bolsonaro. Ele levou a política para dentro dos quarteis e da Forças Armadas, e levou as Forças Armadas para dentro do governo. Isso também está sendo enfrentado para que a gente volte a ter a convivência que a Constituição determina. É um processo, não é uma coisa que vai acontecer do dia para a noite.
SALÁRIO MÍNIMO E MERCADO
A presidenta do PT falou também dos desafios de Lula no terreno da economia –“O governo tem de dar medidas concretas para a população, que respondam à vida do povo”.
Adiantou que o presidente Lula quer anunciar o novo valor do salário mínimo no Primeiro de Maio. E comentou: “Acho até que poderia ser antes, para já ajudar na recuperação econômica, porque isso tem um impacto muito grande no consumo das famílias, e a gente sabe que o consumo das famílias é o primeiro ponto para você ter impacto mais imediato na economia”.
Falou ainda de fake news, da ação da imprensa neoliberal e comentou as reações do dito “mercado” ao governo Lula: “Nós nunca nos iludimos com o mercado. Ele tem seu jogo, tem seus interesses. Muitas vezes, se vale dessas cortinas de fumaça para defender seus interesses. Nós nunca achamos que o mercado fosse atuar diferente. Ele atua na pressão. Ele quer o resultado dele. Agora, o mercado tem de entender que a proposta vitoriosa nas urnas foi a proposta de ter também responsabilidade social neste país, ter desenvolvimento econômico. E isso não se faz do jeito que o mercado quer. Nós já sabemos que as políticas neoliberais não levam a desenvolvimento, não levam à melhoria das condições de vida”.
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