Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Convido-os para que juntos desbravemos o trabalho que reúne o cantor Carlos Nava e o pianista Jonas Dantas: All of You – Canções de Cole Porter em voz e piano (independente / Tratore), o décimo-primeiro álbum de Carlos Navas. Gravado ao vivo em estúdio, lançado nos formatos físicos e digital, lá estão nove clássicos de Cole Porter (1891-1964).
Por consequência, a série de arranjos do piano renova a cada acorde uma certeza: Mr. Porter é um gênio! E é aí que Carlos Navas traz seu talento e torna o repertório de clássicos em momento da mais profunda intimidade. Ouvi-lo nos coloca ao seu lado, como que na penumbra de um cabaré enfumaçado, bebendo um drinque e saboreando momentos da mais rica relação amorosa que se dá entre a voz, o piano, as músicas e os ouvidos dos amantes da boa música, seja ela norte-americana ou brasileira.
“Easy To Love” tem intro pujante do piano. A voz de Navas vem volumosa, sonora, com graves rotundos e peremptórios. Tanto a voz quanto o piano soam plenos de suave compartilhamento harmônico. A presença equilibrada à perfeição entre eles provém de gravação e mixagem acertadas (Bruno Cardoso), e de uma bem concebida masterização (Beto Carezzatto). A qualidade da reprodução é perceptível a ouvidos nus.
“Love For Sale” vem com o piano em brejeirice explícita. A voz de Navas é emitida com a quantidade absolutamente necessária de ar para envolver as notas. Elegante, o arranjo flui.
“I Love Paris” inicia com o piano dedilhando as notas, até entregar a melodia à levada arritmo de Navas. O ritmo vem com a parte mais conhecida do clássico de Cole Porter. O piano marca o suingue com desenhos repetidos de notas graves. Navas sobe uma oitava e arrasa. Sua dinâmica é poderosa, de arrepiar.
“All of You” é um clássico jazz de Cole Porter. A levada traz à frente todos os recursos do velho e bom jazz norte-americano.
Pois bem, ouvindo o disco, lembrei-me de outro álbum de Navas, Junte Tudo Que É Seu – Canções de Custódio Mesquita em voz e piano, de 2011, quando tinha a acompanhá-lo apenas Gustavo Sarzi ao piano.
Dará bem para notar minha admiração ao recordar o que então escrevi sobre ele: “O intérprete reforça sua característica de cantar canções românticas como um visionário prestes a morrer de tanto amar, de cantar como se sua voz acalentasse os versos, embalando-os em seus braços (…) Com um jeito malicioso de cantar, ele até tenta despistar o seu verdadeiro talento. Muito embora demonstre não fazer a menor força para que tamanha inverdade salte à vista, sua voz embute o prazer do canto, insofismável maneira de comprovar que estamos, isso sim, diante de um grande intérprete”.
Fiz questão de resgatar este texto porque ele se encaixa perfeitamente no que pensei ao ouvir Carlos Navas cantando Cole Porter. O romantismo bem construído das canções revela a tranquilidade da voz do cantor para ser persuasiva. É impossível ouvi-lo sem acreditar piamente que ele nasceu para interpretar belas canções.
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