Pronunciamento da professora Maria Victoria Benevides, da Comissão Arns,

em sessão do Tribunal Permanente dos Povos

no dia 25 de maio de 2022, em São Paulo

“Bom dia a todas e todos

Em primeiro lugar, neste Salão Nobre da Faculdade de Direito, uma lembrança, com admiração, gratidão e saudade: Professor Dalmo de Abreu Dallari, Presente! Professor e diretor desta Casa – onde foi velado –  sempre o grande inspirador da Democracia e dos Direitos Humanos, membro fundador de nossa Comissão Arns.

Estou emocionada ao ver neste Salão das Arcadas lideranças de povos indígenas, da Coalizão Negra por Direitos, e da Internacional de Servidores Públicos, representando a luta dos nossos profissionais da saúde. E fico muito honrada por falar em nome da Comissão Arns.

E depois do que ouvimos ontem … o que posso acrescentar neste cenário de dor, revolta, indignação e vergonha?

Que pais é este, tido como celeiro do mundo, mas que, com milhões de famintos – que chegam a disputar comida em caminhões de lixo – e assim voltou ao Mapa da Fome?

Que país é este, tido como pulmão do mundo, mas com níveis catastróficos de devastação ambiental, com a invasão de grileiros, madeireiros e garimpo ilegal nas nossas florestas, nas terras indígenas?

Que país é este, tido como exemplo de diversidade cultural, racial e étnica, mas que humilha, exclui e mata os povos originários, os quilombolas, a população negra e periférica, os grupos LGBTQIA+, os pobres e deserdados da terra?

Que país é este, elogiado no exterior por sua excelência na pesquisa médica e na vacinação, mas que pela ação, negação, omissão e crueldade do capitão-reformado Jair Bolsonaro levou à doença e à morte de tantos milhares na pandemia – e cujo governo continua sua sanha destruidora?

Que país é este, admirado no exterior pela alegria, pela hospitalidade e cordialidade dos brasileiros, mas que ainda convivem com trabalho em situação análoga à escravidão, e com uma política de segurança que é, na realidade, uma política de ocupação, tropa de assalto e de morticínio? Dor, indignação e vergonha diante das recorrentes chacinas que merecem, do presidente da República, a homenagem que também fora dada a torturadores durante a ditadura militar.

Este país de horrores é o nosso país HOJE …, mas já foi o Brasil da democracia em construção, do impulso ao desenvolvimento, do respeito à Constituição, da cidadania ampliada, do respeito à ciência e às lutas por direitos humanos a partir do reconhecimento da dignidade de todos e de cada um.

Já fomos o Brasil da esperança. Sim, da esperança!

É esta esperança que nos move, apesar da dor, da revolta e da vergonha. Não se trata de uma dor paralisante. A Comissão Arns tem clareza sobre o seu papel: acompanhar e denunciar as violações de direitos humanos, atuar em rede com outras organizações da sociedade civil, encaminhar denúncias às autoridades pertinentes, organizar encontros e debates ­ – como esse TPP- e manter presença nos vários meios de comunicação e no apoio aos movimentos sociais e populares. Temos que expandir a consciência e a indignação contra esse governo do ódio, de mentira, de exclusão, de violência, de acirramento das desigualdades.

O Brasil que queremos, fundado nos princípios imorredouros da liberdade, da igualdade, da justiça, da fraternidade.

Viva o SUS! Viva aos profissionais da saúde!

Viva a luta dos povos indígenas! Viva a vida de nossas florestas, de nossos rios voadores!

Viva a luta das mulheres, dos negros, dos professores, dos defensores dos direitos humanos, dos movimentos como o MST, dos excluídos em geral.

Um novo Brasil é possível. Temos o dever de participar dessa construção. Em nome do presente e do futuro das novas gerações.

Estamos JUNTOS.

Longa vida ao Tribunal Permanente dos Povos!

Viva o Brasil, viva o Povo Brasileiro !”

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Com a devida autorização dos organizadores, TUTAMÉIA retransmitiu ao vivo a 50º sessão do TPP; clique no vídeo abaixo para acompanhar a íntegra da sessão de quarta-feira, dia 25 de maio de 2022 no vídeo abaixo,: