“Todas as centrais sindicais, os movimentos sociais, os partidos políticos, o conjunto do campo que se interessa pela vida precisa fazer uma chamada geral, um esforço contra a pandemia, para preservar a vida e a saúde das pessoas. Rapidamente, tínhamos de, neste mês de fevereiro, vacinar todas as crianças a que pudéssemos ter acesso, convencer as famílias a isso.”
Essa é a conclamação que faz o médico pneumologista Ubiratan de Paula Santos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e presidente do Conselho Superior da Sociologia e Política – Escola de Humanidades (FESPSP). Em entrevista ao TUTAMÉIA, ele aponta a ação criminosa do governo federal de desinformação sobre os efeitos da vacina nas crianças. Ao mesmo tempo, alerta para a insuficiência da atuação das oposições, até o momento, para combater o genocídio no país.
“É uma tarefa que eles deviam estar abraçando. Eles estão prisioneiros do calendário eleitoral, tratando exclusivamente do assunto eleições. E acho que não veem que o assunto eleições também é resolvido, de maneira melhor, se eles se envolverem”, argumenta o médico (clique no vídeo acima para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Ele continua: “Os governadores de oposição –ou não de oposição, mas que tenham sensibilidade para essa questão–, os partidos do campo democrático, os partidos progressistas, que têm reafirmado –pelo menos, no discurso—a importância da vacinação, da preservação da vida estão parados, estão paralisados. Falam muito pouco, a não ser em pequenas conversas. Não têm uma expressão das principais lideranças, de suas direções nacionais, de seus diretórios, se manifestando diariamente, ajudando a construir essa solução para o país. Isso é uma falta grave, na minha opinião.”
Tal ação, entende o médico, é fundamental especialmente neste momento, em que há uma certa confusão sobre o estágio da pandemia, ao mesmo tempo em que o governo dificulta e até atua contra a vacinação das crianças menores, de cinco a onze anos.
“É prematuro falar em queda. Nós devemos prosseguir ainda com os cuidados, exatamente porque os números cresceram no Brasil, cresceram no mundo. A letalidade é um pouco menor, mas, como há muitas pessoas infectadas, tivemos um número grande de mortes. Temos visto o aumento do número de crianças pequenas, menores de cinco anos, internadas, casos graves. Então é um desastre.”
“GOVERNO FEDERAL É CRIMINOSO”
Desastre que tem responsáveis, afirma Ubiratan de Paula Santos:
“A posição do Ministério da Saúde e do governo federal é criminosa, e ela teve mais alcance nas crianças porque os pais querem proteger seus filhos. Quando veem autoridades, o presidente, ministros, colocando em dúvida, questionando e afirmando, todos eles, que não vacinarão seus familiares, aumenta a confusão na parcela de população que não é que ela seja bolsonarista ou negacionista, são pessoas que têm dúvidas, e nós estamos sem canais amplos, reiterados, diários, para fazer esse esclarecimento. Essa explicação reiterada ajudaria a convencer os pais e acelerar a vacinação nessa faixa etária, que é fundamental.”
E reforça, sobre as mentiras propagadas: “É uma ação criminosa, e eu espero que os responsáveis, no tempo adequado, o mais rápido possível, paguem por esse crime contra o país, contra a população brasileira. É um genocídio contra a população brasileira. Não pode ficar impune.”
Uma das mentiras divulgadas é que a vacina causaria miocardite nas crianças, o que deixa o médico indignado: “O risco de miocardite, que tanto propagam, é mil vezes maior em quem pega covid do que em quem toma a vacina. O risco não é duas vezes maior, é MIL vezes. Essa é a ordem de grandeza. Além disso, os raros casos existentes de miocardite, que é uma inflamação no coração, não levaram ninguém a óbito, entre as crianças. Esse esclarecimento é muito necessário que fosse feito diariamente, várias vezes, por todos os veículos de comunicação”.
ATACAR A PANDEMIA
O resultado é a enorme disparidade do ritmo da vacinação das crianças em âmbito nacional. Na média nacional, na última segunda-feira, 7.2, quando a que a entrevista foi realizada, menos de 20% das crianças de cinco a onze anos tinha recebido a primeira dose, conforme levantamento da Globonews (veja quadro abaixo). Na maioria dos estados analisados, porém, a vacinação tinha atingido menos de dez por cento!
Santos afirma que ainda é tempo de atacar a pandemia: “Tínhamos de aumentar, fazer um esforço coletivo da sociedade em aumentar todas as medidas para tentar de fato reduzir a transmissão da doença, o que significa reduzir a multiplicação do vírus, significa reduzir o risco de novas variantes, significa mais chances de melhor controle da pandemia como um todo.”
E aponta algumas medidas necessárias:
“Para reduzir a transmissão do vírus, é preciso reduzir a aglomeração de pessoas. Isso vale para atividades como jogos de futebol, shopping centers, nas atividades que não são essenciais para as pessoas viverem nós deveríamos fazer, nos próximos trinta dias, um esforço nacional gigantesco para jogar tudo lá para baixo e com isso reduzir a transmissão da doença e o risco de novas variantes. Inclusive as aulas.”
VOLTA ÀS AULAS
Reforça que é prematura a volta às aulas, especialmente na educação infantil e no primeiro grau: “As crianças que não estão vacinadas ainda, as pequeninhas, não tem nenhum sentido leva-las à escola. No restante das escolas, a própria USP acabou de flexibilizar e postergar o retorno às aulas presenciais. As pessoas não conhecem as escolas do Brasil! A orientação geral é de precaução. Escolas são um local de concentração de pessoas. Professores e funcionários talvez já estejam vacinados com duas ou três doses, isso é ótimo, os jovens e adolescentes, os adolescentes também. Agora, as crianças menores, que têm uma dose no máximo, acho um desastre!”
Ele afirma: “Temos de fazer um esforço concentrado. É agora. Nós temos de jogar isso para baixo. Temos de saber também eu, se nós não tivermos uma política internacional solidária, em países onde a vacinação é mais baixa, países africanos mais pobres do que o nosso, lá podem surgir novas variantes. Então nós temos de dar conta de nosso problema e, ao mesmo tempo, fazer um esforço, que não existe do governo atual, junto a todos os países para socorrer os irmãos do mundo todo, para poder evitar novas variantes em qualquer parte do mundo”.
INTERESSES DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Sem essa ação internacional conjunta, o mundo segue ameaçado pela covid mais de dois anos depois da identificação do vírus. Para o médico Ubiratan de Paula Santos, isso é também resultado de interesses globais em manter a confusão como está:
“Existe interesse de parte da indústria farmacêutica em manter esse quadro de flutuação de pandemia. Eles ficam investindo em vários antivirais, que custam oito mil, dez mil quinze mil reais, para dar no início dos sintomas… Você pega o caso da ômicron, são duzentos mil casos por dia, imagina se fosse utilizar esses antivirais em todas essas pessoas. Então há um interesse combinado dos organizadores globais da economia. Eles atuam em várias frentes.”
O resultado, aponta ele, é o seguinte: Depois de dois anos de pandemia, estamos patinando. Olha o número de casos nos Estados Unidos e na Europa, não aprendemos direitos a controlar isso. Significa que não vamos nos preparar para novas pandemias. Dois anos e meio depois, a gente não consegue resolver, ter uma estratégia melhorada. A nossa estratégia não está melhor do que no ano passado. A estratégia agora é meio que liberou geral. Então temos mais crianças infectadas, tem muita gente doente, muita gente com sintomas, não sabemos qual vai ser o impacto dessa chamada covid prolongada nem sabemos qual será o impacto futuro nessas crianças que têm covid, qual a evolução futura delas.”
Ainda sobre a indústria farmacêutica, Santos afirma:
“Eles têm obviamente interesse. Predomina o interesse econômico e ficam operando, é o lucro máximo em todas as pontas. Previne doença com vacina, mas, se tiver um pouco de doença, está aqui o antiviral. Os governos compram a peso de ouro, serve muito pouco, porque você não consegue dar para todo mundo que têm sintomas iniciais, como preconizam. O custo é proibitivo, em nenhum país do mundo isso é factível, isso é só para ricaço, mas eles tentam vender isso para o maior número de pessoas, especialmente para governos, para sistemas.”
E conclui: “Esse discurso não é dito, obviamente, não é explícito, mas é a história da indústria farmacêutica global: uma produtora de bens, de medicamentos, e uma produtora de doenças pelos efeitos colaterais que produzem muitos medicamentos”.
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