Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Ainda que tardiamente, Wagner Tiso e Victor Biglione estão lançando The Finland Concert (independente). Um disco digital que é sério candidato a figurar nos catálogos de melhores CDs instrumentais de 2021. Eu disse tardiamente? Sim, posto que ele foi gravado em 2014.
Guardado em casa por conta da pandemia, Biglione encontrou no fundo de um arquivo o áudio de um show apresentado por ele e Tiso no Martinus Concert Hall, na cidade finlandesa de Vantaa.
Desse achado surgiu o atual The Finland Concert. Valendo-se de um material considerado por eles de boa qualidade técnica, com sonoridade virtuosa e soberbamente calibrada, brilhou uma luz nos olhos dos parceiros.
Porque assim, ó: eu não estava lá, certo? Mas sei, de ouvir dizer, que os instrumentistas se entreolharam e sacaram que, já que as suas interpretações os satisfaziam, por que não as utilizar em um novo disco? Claro! E sem pestanejar, partiram pra dentro. (Neste momento, eu me intrometo para afirmar que também a mim suas atuações satisfizeram plenamente).
Assim, renascia um repertório de grande brilho, composições de grandes nomes da música brasileira: “Na cadência do samba” (Ataulpho Alves e Paulo Gesta), “Saudades da Bahia” (Dorival Caymmi), “Sonho de Um Carnaval” (Chico Buarque de Holanda), “Procissão e Expresso 2222” (Gilberto Gil), “Eu Sei Que Vou Te Amar” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), “As Rosas Não Falam” (Cartola), “Samba de Uma Nota Só” (Tom Jobim e Newton Mendonça), “Autumm Leaves” (Joseph Kosma e Jacques Prevert), “Poema finlandês” (Wagner Tiso), “Variações Sobre Doce de Coco” (Jacob do Bandolim e Hermínio B. de Carvalho).
Os caras e os seus instrumentos: ouvindo Tiso no piano acústico e Biglione nas cordas de aço do violão, só não se surpreendeu quem já conhecia suas aptidões; mas quem ainda não os ouviu tocar, caiu-lhes o queixo.
Improvisos plenos de notas ou econômicos ao usá-las, têm como marca a criatividade das harmonias. Desenhos que passeiam juntos, ora pelas mãos dos dois, ora com uníssonos de arrepiar, tamanhas são suas afinações.
O suingue é febril. Rallentandos e affrettandos são irresistíveis, bem como arrebatadora é a hora em que um ou outro solam a melodia. Íntegros, os caras têm assuntos a tratar e o fazem tocando com prazer, mostrando um ao outro do que são capazes. Nesse “papo de músico”, ganhamos nós, os ouvintes.
Assim, é impossível imaginá-los tocando só por tocar. Sente-se que, em respeito à música, eles se debruçaram tenazmente sobre o repertório, até torná-lo irretocável.
PS: Uma ficha técnica de responsa contribuiu para criação de um belo CD. Produção musical: Wagner Tiso, Victor Biglione e Ricardo Queiroz; produção executiva: Affonso Nunes; produção cultural (Finlândia): Kimo Tamivaara. Gravado no Martinus Concert Hall de Vantaa (Finlândia). Engenheiros de gravação: Esa Lindroos (Finlândia) e Ricardo Queiroz (Brasil); edição e masterização: João Thiré; projeto gráfico: Marcelinho Silva; distribuição digital: CD Baby.
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