“Esse presidente da República, além de ser um irresponsável, é um covarde. É um covarde! Não é porque diz que é uma gripezinha. É uma condição sádica! Não posso aceitar aquele escárnio, aquela gozação barata. E gozação barata em cima de pessoas que não têm como responder, que muitas vezes não têm como fazer a diferença entre o que é sério e o que não é sério. Num regime presidencialista, a figura do presidente da República tem uma força simbólica muito grande. Aí está repousada aquilo que chamo de covardia. É usar a estrutura do poder para pisar nas pessoas.”

As palavras são do advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que tem mais de quarenta anos de serviços prestados à Justiça e ao direito no Brasil. Em entrevista ao TUTAMÉIA, ele diz: “Vivemos uma tragédia de proporções inimagináveis. E essa tragédia é muito maior porque temos um verme comandando o país, um genocida. Vivemos a angústia de saber que não temos uma estratégia de enfrentamento do vírus. É uma covardia!”.

Especialista na questão, ele afirma que Bolsonaro cometeu e comete vários crimes: “Nós vivemos um descalabro no tratamento da maior crise sanitária de todos os tempos. Eu entendo –e tenho defendido isso nos últimos três meses – que Bolsonaro comete, sim, o crime de pandemia –no Código Penal há o crime de epidemia. O presidente da República, com a força simbólica do cargo, sendo o crime de epidemia um crime permanente, ele, sabendo que está infectado –ou mesmo antes de saber – ele, menosprezando a hipótese de enfrentamento técnico, ele desprezando as normas internacionais de enfrentamento, ele está levando uma população que o segue cegamente a cometer o crime de pandemia”.

Kakay prossegue: “Temos um presidente irresponsável, que deixa o país à deriva. Não temos ministro da Saúde. É algo inacreditável. Imagine a irresponsabilidade! Hoje nós temos crimes de responsabilidade aos borbotões. É incrível a quantidade abundante de crimes de responsabilidade [cometidos pelo presidente da República]. Podia citar dois, três aqui. Acho até que o fato de não ter o enfrentamento do vírus, o fato de não ter um ministro da Saúde é crime de responsabilidade. Crime de responsabilidade. Nós temos 95 mil mortos oficialmente. Alguém vai ter de pagar essa conta, não é possível” (clique no vídeo acima parta ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV)

O advogado destaca que as origens desse governo estão fundadas no desrespeito às leis, nos excessos cometidos pelo então juiz Sérgio Moro e a operação Lava Jato.

“Temos de ter a consciência de que esse governo genocida que aí está foi gestado nos excessos da Lava Jato. Foi exatamente o Sérgio Moro, através das pessoas que ele coordenava, da força-tarefa de Curitiba, e dos excessos, das prisões preventivas, da banalização das delações, a estrutura que montaram, fizeram a hipótese de instrumentalização do poder público [por uma candidatura] prendendo o principal concorrente desse presidente e depois mercadejando a toga ao conversar com o governo ainda como juiz, é uma coisa incrível que se possa aceitar isso.”

Essa questão, comentada na entrevista, foi tratada em profundidade no artigo “A parcialidade do Juiz Sérgio Moro como projeto político de poder e a criminalização da atividade política”, assinado por Kakay e pelo também advogado Marcelo Turbay Freiria e publicado em “O Livro das Suspeições”, obra recém-lançada pelo Grupo Prerrogativas.

Na entrevista, Kakay comenta: “Já estão muito evidenciados os excessos do Moro na Lava Jato. Esse livro tem uma repercussão enorme, porque ali está esmiuçado, há uma perfeita radiografia de toda essa suspeição, o que um juiz suspeito pode fazer. Advogados de todas as áreas fazendo o apontamento técnico da realidade do que ocorreu em Curitiba”.

O resultado é que hoje o Brasil tem “um presidente irresponsável, que deixa o país à deriva”, diz Kakay, alertando que é preciso resistir a isso, fazer o enfrentamento dessa política de desmonte, de destruição.

A oposição, no entanto, na visão do advogado, não está atuando da forma como deveria: “Nós tínhamos que ter uma extrema unidade no combate à falta de estrutura do governo na pandemia. Não dá só para criticar. Nós tínhamos de ter o Brasil unido. [Hoje estamos vivendo], de uma forma fragmentada, agora, mas [é preciso] uma fragmentação que une, uma fragmentação que faz uma espécie de caleidoscópio. Ou seja, no enfrentamento ao vírus entra todo mundo. É uma coisa necessária. Não podemos ter o Dória fazendo uma coisa, o Lula fazendo outra, o Ciro fazendo outra coisas. Faltou uma unidade no enfrentamento da não política contra o coronavírus. Acho que não temos oposição. No enfrentamento do vírus, que para mim é o essencial que estamos vivendo, nós não temos”.

É preciso, pois, buscar caminhos para construir essa oposição e essa unidade: “Para mim o mais importante agora é que nós estivéssemos unidos para fazer um enfrentamento da politização negativa que o Bolsonaro fez do vírus. Esse enfrentamento é necessário”.

E conclui: “É necessário que a gente seja, pelo menos, uma esperança de discussão para um Brasil melhor. Nós todos queremos o combate à corrupção, nós todos queremos um país melhor, mas eu quero esse combate dentro das garantias constitucionais. Se fizermos esse combate dentro das garantias constitucionais, nós teremos alguma chance de ter um país mais justo e mais solidário para todos nós”.