Por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Ponho-me pronto para uma nova audição de Ciranda de Destinos (Kuarup), o
CD de Chico Teixeira. Preciso dizer-lhes sobre ele.
Como as águas de um rio guenzo deslizando por entre pedras e areias, sinto-
me apto a sentir de novo o prazer de ouvir o marulhar de suas águas que vão sem
voltar. São os sons que se desapegaram do seu deslizar macio e, hoje, emitem
lamentos miúdos, quase tímidos.
Como os sons vindos quando a lata puxa a água da cacimba, a música de
Chico Teixeira flui em seu curso. Arrebatador, como um cantor solitário, ele não
pensa em algo ou em alguém, pensa, isso sim, em entender o que a vida dá sem pedir
troco. E canta como se fenecer derivasse de momentos vividos desde mil anos atrás.
Vamos lá: a linda capa do álbum é do grande Elifas Andreato, bem como a
produção e a direção musical são de Chico Teixeira. E a tampa abre: o clarone de
Márcio Werneck, em “Bachianas Brasileiras No. 2 – O Trenzinho do Caipira” dá ao
tema de Villa-Lobos um ar de introspectiva melancolia. O som grave acompanha a
viagem do personagem. Ora com o violão, ora com a flauta de Maurício Novaes,
Teixeira expõe ao mundo o Brasil sertanejo.
Com João Oliveira se revezando no violão e na guitarra, Teixeira canta
“Correnteza” (Tom Jobim e Luis Bonfá): “A correnteza do rio/ Vai levando aquela
flor/ O meu bem já está dormindo/ Zombando do meu amor (…)”. Belo!
“Riacho de Areia” (adaptação de Frei Chico) tem participação especial de
Roberto Mendes (violão, voz e palmas) e de Renato Teixeira (voz e palmas). Nessa
escolha feliz, Chico Teixeira dá mais sabor à cantiga mineira. Com refrão curto
(“Adeus, adeus/ Dona, Adeus!”), versos bem construídos – “(…) Eu vou-me embora/
Eu morava no fundo d’água/ Não sei quando voltarei/ Eu sou canoeiro (…)” – eles
vêm numa levada cadenciada.
“Linda Morena” (Riachão) conta com a participação vocal de Almir Sater e
sua viola, ponteando até se juntar ao violão e à voz de CT. Enquanto os versos de
Riachão idealizam um amor “veinho”, a melodia vem linda! Ainda mais quando
cantada em terças com Sater.
Junto com Yamandu Costa, CT criou um dos momentos mais belos do disco:
“Negrinho do Pastoreio” (Barbosa Lessa). A voz de Yamandu se revela cantando a
triste história de um menino saudoso por seu rincão. O primeiro verso está com ele,
bem como quase todo o segundo, quando ao final Chico se junta a ele. Logo os dois
cantam juntos. Nas partes mais altas da melodia, tanto Chico quanto Yamandu saem-
se bem.
A se destacar, a louvável escolha de CT para cantar músicas que não são
apenas criações suas, fazendo brilhar o seu potencial de bom intérprete. Além das
citadas acima, outras como “Rancho Fundo” (Lamartine Babo e Ary Barroso) e “As
Rosas Não Falam”, obra-prima de Cartola, encontram novas belezas na voz
acolhedora de Chico Teixeira.
O que eu já disse sobre outro CD de Chico Teixeira, reafirmo ao tratar do
atual: Ciranda de Destinos carrega em si a boniteza do Brasil sertanejo.
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