por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Vamos ao CD de um de nossos grandes bateras: Cenários (independente), o quarto álbum solo de Di Stéffano. Ao ouvi-lo, voltei no tempo. Senti o que já sentira ao ouvir seus dois álbuns anteriores – ambos igualmente comentados por mim.
Hoje tomo a liberdade de resumir livremente alguns trechos das dicas de então: “ (…) Di Stéffano é um baterista nato. (…) Daqueles para quem não existe ruído impertinente, mas sim música vinda do corpo ou de qualquer objeto, com textura, peso ou tamanho díspares (…) Hábil improvisador, sua bateria sabe que, se tocar é preciso, harmonizar é fundamental”.
Sigo citando: “(…) A bateria de Di Stéffano está ainda mais harmonizadora, expandindo substancialmente o dom de entremear instrumentos, liberando-os para solos e improvisos. Consciente de seu talento, dividindo compassos com a mestria de um hábil improvisador, o batera sabe que, se tocar é preciso, harmonizar é fundamental (…).”
Hoje, mais uma vez, Di Stéffano confirma a sua indiscutível capacidade de harmonizar a batera com os instrumentos de harmonia.
Outras virtudes a salientar são o talento de Di Stéffano, não só como batera, mas também como arranjador e compositor. Com exceção de duas parcerias com Glauco Luz, as outras dez músicas são de sua autoria, bem como dele são os arranjos. As linhas melódicas fluem na cadência de harmonias criativas, levadas à frente por ritmos díspares que revelam a intensidade de sua veia rítmica.
E assim, a cada faixa, o som torna mais nítida a competência que tem Di Stéffano para valorizar suas composições. Nelas, a sabedoria de como ele se vale dos pratos e a consciência de como escolhe as peças de couro a serem tocadas são dignas de louvores.
À batera acrescentemos um time de grandes instrumentistas: assim é com a delicada “Porto de Esperança”. O arranjo abre compassos para o solo do sax soprano de Marcelo Martins e traz o violão acústico de Lula Galvão para o proscênio, enquanto o baixo acústico de Bruno Rejan se ajunta à batera para suingar.
Em “Meu Chegado”, o trompete de Fabinho Costa, o piano acústico de Cristóvão Bastos e o violão acústico de Lula Galvão arrepiam em altos improvisos. A batera apresenta a perícia de quem sabe a força que tem o instrumento. E ainda tem a percussão de Marco Lobo…
“Rosa e Anjo” (Di e Glauco Luz) tem Di Stéffano cantando – canta bem o cara! –, canto que ele divide com Vinícius Cantuária (o arranjo é dele). O baixo fretless de Marcelo Mariano abre. Com direito a intermezzo, a batera improvisa. Zé Nogueira vem na flauta…
Com arranjo intenso, “Pisando Leve” tem apenas a batera de Di Stéffano e o baixo acústico de Jorge Helder. Vixi!
E chega “Tá Na Mão”. Di Stéffano guardou para si um tema em que a batera é a única protagonista. Uma aula de quem conhece o instrumento e o conduz com rara lucidez.
Cenários é um CD que merece atenção. Mas não apenas isso, é um álbum que carece e deve ser ouvido por quem ama a música instrumental.
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