por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Gravado na Alemanha, tenho comigo um CD de extraordinária beleza: Guinga Invites Gabriele Mirabassi – Passos e Assovios* (Acoustic Music Records), 19º disco de Guinga e o segundo em parceria com Mirabassi.
Estou certo de que vocês já conhecem Guinga, mas ainda não escutaram Mirabassi, um virtuoso clarinetista italiano, parceiro de alguns músicos brasileiros. E o que os dois tocam é de tal forma genial que chego a cogitar não serem deste planeta.
A valsa “Passos e Assovio” (Guinga e Paulo César Pinheiro) abre o CD. O violão de Guinga toca uma linda introdução. E chega o clarinete de Gabriele Mirabassi, intenso, sentido. Assim os dois seguem em meio a uma densa harmonia. Logo Guinga improvisa num intermezzo porreta – Gabriele o observa e sente o vigor ali expresso. Mais alguns compassos e, como que revigorados por tanto encanto, clarinete e violão voltam a se superar. A sutileza da melodia puxa a emoção e a mantém alta, do primeiro ao último respiro.
“Odalisca” (Guinga e Aldir Blanc) é outra valsa. Clarinete e violão iniciam. O clarinete sola; o violão segura a harmonia. O frescor da composição atiça os sentidosmais valiosos das harmonias, e elas, as esplêndidas de Guinga, são o som de uma vida.
Nova valsa, “Igreja da Penha” (Guinga), inicia-se com o violão solando a melodia: um tema de rara beleza, marca registrada da obra de Guinga. O clarinete assume a proeza de dar ainda mais belezura ao que já era belo. Suave, a harmonia ampara alguns improvisos do clarinete, ele que brinca de fazer caber muitas notas num só compasso. Na segunda parte o solo é do violão. Logo o clarinete volta com notas ainda mais ternas e, no final, se diverte “enfileirando” notas até que a tampa se feche.
“Ellingtoniana” (Guinga) é um belo samba-canção. O violão se dá a acordes suaves. O clarinete, pedindo passagem para se achegar, vem no sapatinho – seu improviso tem um quê de sublime. E os dois vão unidos, solidários.
“Cheio de Dedos” é o choro de Guinga. Uníssonos de clarinete e violão criam a atmosfera que permeia todo o álbum: uma sonoridade de alto padrão. O clarinete improvisa. O violão o sustenta, e é com ele que o clarinete ganha confiança e se atira de cabeça em busca de mais força e magnitude. Ora vejam, como se isso fosse possível!
A toada “Tangará” é a primeira música do disco para a qual Guinga fez letra, música e cantou os versos – outras letras cantadas por ele virão à frente. Clarinete e voz vão em uníssono. O clarinete trina. O violão vibra. O intermezzo dos dois é quente. A melodia vem em vocalizes. O clarinete volta a trinar… Meu Deus, o que é isso?
Bem, essas são as minhas impressões sobre seis das doze faixas do álbum de Guinga e Mirabassi. Mas estejam certos de que o CD ainda tem muito mais do bom e do melhor de uma música instrumental que beira a perfeição.
*Pena que até agora o CD físico tenha sido lançado apenas no exterior. Mas é possível ouvi-lo em plataformas digitais como Spotify, Itunes e afins.
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