Nesta eleição, a sociedade brasileira está mergulhada num caldo de indignação e revolta. Há um profundo desalento, gerado pelo desemprego alto, violência crescente, medo, denúncias de corrupção, problemas na saúde. É a avaliação de Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, em entrevista ao TUTAMÉIA.
“O medo do desemprego é altíssimo. Temos o pior presidente da história, o congresso com a pior avaliação da história. A corrupção é o pano de fundo que alimenta essa indignação, empatada com saúde. Tudo isso forma um bolo de indignação. Quando a pessoa vai ao supermercado e não consegue encher o carrinho como enchia antes e volta para casa e assiste na TV todo o noticiário, há anos, sobre corrupção, [tudo isso] gera a revolta e a indignação”, diz Paulino (acompanhe no vídeo acima).
Ele continua: “É esse caldo que faz com que as pessoas ainda escolham Lula, porque lembram das melhorias que tiveram na vida durante os governos dele e associadas muito mais a ele do que ao PT”. Na visão de Paulino, “Lula ainda é o centro dessa eleição, o centro das atenções, aquele que determina o andamento, o comportamento dessa eleição. Existe aí um caldeirão de sentimentos que eu diria que poderia ser resumido numa palavra: indignação contra tudo que está aí, que contempla tanto um lado quanto o outro. É o que há de comum aos eleitores, essa indignação. É dessa indignação, desse caldeirão que vão sair as definições dessa eleição”.
Do lado dos apoiadores de Jair Bolsonaro, Paulino observa a relevância que ocupa a questão da violência, da segurança pública, especialmente na classe média. Fala da sensação de medo, mais importante do que o dado de mais do que 60 mil homicídios no ano passado. “Qualquer proposta que surja como solução para essa ameaça acaba obtendo apoio”. Hoje, lembra ele, metade da população brasileira reconhece há facções criminosas atuando na proximidade de suas casas.
Assim, analisa, “os dois lados [o de Lula e o de Bolsonaro] acabam sendo alimentados por esse caldeirão que existe aí”.
HORÁRIO POLÍTICO E REDES SOCIAIS
Sociólogo, Mauro Paulino considera “impossível dar qualquer palpite sobre essa eleição”. Sobre a campanha eleitoral na TV, ele afirma:
“A TV ainda será o meio em que os fatos mais importantes vão se dar ou será por onde as pessoas mais vão se informar. As redes sociais, a internet são o que vai tornar esse alcance maior”.
De acordo com Paulino, 75% dos eleitores têm acesso à internet. Mas em torno de 30%, 35% se informam sobre política por meio das redes sociais. “Bolsonaro pescou nesse aquário com muita competência”, diz, acrescentando: “Aparentemente nesse aquário ele já pescou todos os peixes que podia pescar”.
O largo tempo na TV de Geraldo Alckmin pode ajudá-lo, mas não é garantia de sucesso. “Ele tem o maior tempo, com potencial de crescimento alto por conta do tempo, se bem utilizado. Um tempo mal utilizado e farto pode se tornar uma armadilha também”.
TRANSFERÊNCIA DE VOTOS
Na análise do diretor-geral do Datafolha, “a emoção ainda é o que rege a definição do voto, mais do que o cálculo, a razão. Especialmente no eleitorado de Lula”.
Para ele, “esta eleição vai depender muito do que vai acontecer com o Lula, de como o PT vai trabalhar o fato de Lula não poder participar, e em que momento vai lançar a campanha Haddad e de como vai fazer para que Haddad se torne conhecido, com credibilidade”.
E debatemos a questão da transferência de votos, no caso de Lula não participar da eleição. Falamos da importância do número 13 na urna, das estratégias para conquistar ou manter o voto petista. Lembramos da eleição de 1945 quando Getúlio Vargas, poucos dias antes da eleição, indicou seu candidato (Eurico Gaspar Dutra)–fator importantíssimo para defini-lo vencedor. Diz Paulino:
“Quando se pergunta quem foi o melhor presidente do Brasil aparece Lula em primeiro e Getúlio em segundo. Getúlio tinha um poder de transferência alto e que deu certo naquele momento. Que é algo que pode se repetir, deve se repetir em algum nível a partir do horário eleitoral gratuito”.
Ao TUTAMÉIA, Paulino esmiúça detalhes da última pesquisa Datafolha e defende a realização de um cenário com Haddad candidato, mesmo com Lula sendo o candidato oficial. O resultado, diz ele, demonstra que Haddad ainda é desconhecido, mas não deve ser o parâmetro para avaliar a capacidade de Lula de transferir –que foi medida em outro item da pesquisa.
PESQUISAS DO MERCADO FINANCEIRO
Na entrevista, Paulino conta a história do Datafolha e trata da metodologia adotada. Fala sobre o uso das pesquisas pelo mercado financeiro.
“Estou para entender esse mecanismo do mercado financeiro de especular tanto com dados que não são projetáveis para o futuro. Eles representam sempre o momento em que a pesquisa foi feita. Toda a pesquisa quando divulgada já está velha. Porque representa o momento em que ela foi feita”.
Hoje, afirma, “instituições financeiras que fazem pesquisa para divulgação, registram, mas enviam antes o resultado para os clientes o resultado. A lei eleitoral não regula o que deveria regular”. Para ele, “o TSE auxilia na especulação em torno dos resultados da pesquisa que vai ser divulgada”.
“As instituições financeiras pagam pesquisas semanais e serão divulgadas num dia fixo e que irão influenciar o mercado financeiro. Eu acho isso um absurdo e não entendo porque isso não é questionado. A imprensa deveria se ocupar desse tema: fazer pesquisa com o intuito de influenciar o mercado financeiro e dar informação privilegiada para poucos utilizando as eleições. Isso baseados no bem mais precioso da democracia que é a eleição. Eu não me conformo com isso”.
TINDER ELEITORAL
Paulino conta também sobre um serviço prestes a ser lançado: o Match Eleitoral, uma espécie de Tinder em que eleitores de São Paulo poderão buscar candidatos a deputado federal mais afinados com suas preferências.
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