Com apenas vinte anos, ele se tornou presidente de um sindicato e liderou o que talvez tenha sido o principal movimento grevista do final da década de 1960. Foi preso e torturado pela ditadura militar, e libertado –com outros presos políticos—em troca do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick em 1969.

Sua história de vida e sua trajetória política são resgatadas em “José Ibrahim – O Líder da Primeira Grande Greve que Afrontou a Ditadura”, biografia escrita pela jornalista Mazé Torquado Chotil, lançada agora no país pela editora Alameda.

Chotil, que vive na França há mais de trinta anos, está no Brasil por alguns dias, para uma série de palestras e debates de apresentação de sua obra. No início da tarde desde dois de maio, em que se completam cinco anos da morte de Ibrahim, ela esteve nos estúdios de TUTAMÉIA para conversar sobre a vida do líder sindical de Osasco.

Para destacar sua importância e a relevância do movimento que Ibrahim dirigiu, Mazé citou as palavras de outro combatente, Cid Benjamim, que integrava na época o MR-8, grupo responsável pelo sequestro do embaixador norte-0americano:

“A greve de Osasco, embora ainda tenha sido o último movimento de resistência ao golpe e não a abertura de um novo ciclo de ascenso, despertou em nós muitas esperanças de uma retomada de lutas. Quando foi discutida a lista dos presos a serem trocados pelo embaixador Charles Elbrick, seu nome foi dos primeiros a serem lembrados.”

Na entrevista, Mazé falou sobre o período dramático, sofrido, da prisão de Ibrahim, e as horas de tensão da viagem para o exílio e a liberdade –tensão que só findou quando enfim o avião que levava os presos políticos tocou em solo mexicano.

 

Contou também sobre os anos de formação do dirigente e o período em que ele esteve fora do país –passou por Cuba, Chile e Bélgica.

Destacou que Ibrahim voltou do exílio antes mesmo da anistia: foi uma tarefa política, proposta por seus advogados. Como ele era muito conhecido, sua volta poderia servir para reforçar o movimento pela anistia, que estava a ponto de ser vitorioso.

E assim fez: de volta ao Brasil, continuou as lutas pela anistia, pela democratização, participou da criação de três centrais sindicais – CUT, Força Sindical e UGT. Na política, ajudou a criar o PT, foi para o PDT e depois para o PV. Candidato três vezes, nunca se elegeu.

A biografia de Ibrahim dá continuação ao trabalho de Mazé Torquato Chotil de resgate das lutas do movimento sindical contra a ditadura. Antes deste, produziu “Trabalhadores Exilados: A Saga de Brasileiros Forçados a Partir (1964-1985)”, fruto de seu pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales.