Marielle Franco foi assassinada pelo golpe comandado por interesses estratégicos externos e pela elite rentista. Ela era uma liderança popular que militava contra os golpistas e em defesa dos mais pobres, das mulheres, dos negros, dos direitos humanos. Sua execução foi política,  um ato de terrorismo de Estado, e é assim que deve ser enfrentada.

Os tiros que derrubaram Marielle atingiram o Brasil.

Desde o golpe de 2016, as instituições brasileiras estão em frangalhos. Executivo, judiciário, legislativo perderam credibilidade e se enredaram numa teia de corrupção, desmandos, ilegalidades. A quadrilha que se aboletou em Brasília saqueia o país e entrega a estrangeiros as riquezas, os empregos, o futuro. Subalterno, o governo atende às vontades dos EUA.

As desigualdades crescem; a violência aumenta; a eleição presidencial está em risco. Num lance midiático e com propósito eleitoreiro, o desgoverno decretou intervenção militar no Rio. Como no período escravocrata, tenta impor às Forças Armadas a tarefa de capitães do mato –naquela época, a recusa do Exército de perseguir e prender escravos rebelados precipitou o fim da escravidão e o início da República.

Sob essa intervenção desastrada e inconstitucional é que ocorrem as execuções de Marielle e de Anderson Gomes. O golpe deu sinal verde à sanha fascista que perambulava nos esgotos do país e que agora vivencia o poder. Todos os que articularam o golpe puxaram o gatilho.

Negra, filha da comunidade da Maré e forjada na luta popular, não deixava de denunciar os ataques à democracia. Há poucos dias, comentando o encontro entre Temer e Carmem Lúcia, Marielle escreveu: “E eu só consigo lembrar do áudio do Jucá: ‘Num grande acordo nacional, com Supremo, com tudo’. Alguém ainda tem a audácia de falar que não foi golpe?”

No Dia Internacional da Mulher, declarou: “Hoje, 8 de março, às 5h30 da manhã, as Mulheres Sem Terra ocuparam O Globo em protesto contra a mídia golpista, a favor da democracia e por uma eleição justa! Viva a luta das mulheres! Viva as trabalhadoras rurais!”.

A enorme reação popular ao crime deixa os golpistas desnorteados. Alguns balbuciam desculpas cínicas e esfarrapadas. Buscam embrulhar o terror em versão dissociada do golpe em curso, jogando esse crime político na conta da violência cotidiana.

A execução deixa claro que o país vive uma batalha de vida e de morte. Em manobras diversionistas, o inimigo tenta, com sua retórica global neoliberal, embaçar a resistência, imobilizar os brasileiros em escaninhos pré-moldados e delimitados, fomentar querelas.

É vital repelir essas maquinações e impedir que os protestos se consumam em visões estreitas e parciais da crise, que dão tempo e abrem espaço para o golpismo se recuperar.

O momento é de união para enfrentar esse crime e dar um basta ao golpe que destrói o Brasil e assassina os brasileiros. As lideranças progressistas, os dirigentes partidários, de sindicatos e movimentos populares, os candidatos precisam priorizar a resposta conjunta ao ataque.

De pronto, tal como foi feito em homenagem a Vladimir Herzog no brutal período da ditadura, urge organizar uma grandiosa e ampla celebração unitária em memória da luta de Marielle. Ocupar a Candelária, onde ela discursou no 8 de Março, e avançar para reconstruir a democracia.

 

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Arte: Fernando Carvall, especial para o TUTAMÉIA