Os EUA não querem aliados, querem súditos. Buscam os recursos naturais na América Latina e disseminam golpes para obter governos submissos. Lula incomoda os Estados Unidos ao adotar políticas independentes. É a visão de Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz de 1980.
Ele almoçou nesta segunda-feira (2/3) em São Paulo com jornalistas, advogados e militantes de direitos humanos. Depois, se encontrou com Lula e disse que vai propor o nome do ex-presidente para o Nobel da Paz (foto Ricardo Stuckert, na pág. inicial). Antes de se reunir com Lula, no início da tarde, Esquivel falou especialmente ao TUTAMÉIA.
Disse estar preocupado com o retrocesso nas liberdades cidadãs e na democracia na América Latina. Lembrou dos golpes de Estado brancos, como o que ocorreu no Brasil com a derrubada da presidente Dilma Rousseff –e que segue com os movimentos para proibir a candidatura de Lula.
Recordou que esse movimento começou em Honduras (com a queda de Manuel Zelaya), depois aconteceu no Paraguai (deposição de Fernando Lugo) e segue em curso nas tentativas de desestabilização na Venezuela. Citou também o embargo norte-americano a Cuba como parte desse mesmo quadro.
Na análise de Esquivel, os Estados Unidos enxergam a América Latina como seu quintal, uma fonte de recursos naturais, e seu plano é sempre de dominação. Citou a reativação da 4ª frota dos EUA como indicador dessa política. E rememorou o histórico tenebroso de interferência norte-americana no continente, quando o país do Norte ajudou a estruturar ditaduras que promoveram torturas e assassinatos.
Escultor e arquiteto por formação, Esquivel vivenciou a repressão dos regimes autoritários na América do Sul. Argentino, foi preso pela ditadura em seu país. Militante pelos direitos humanos, recebeu o Nobel da Paz em 1980, quando a região ainda estava sufocada por governos despóticos. Aos 86 anos, é referência mundial no combate a injustiças.
Interlocutor do papa Francisco, ele contou ao TUTAMÉIA que o pontífice está muito preocupado com a situação no continente. “Ele é muito atento à pobreza, à fome, ao que se está vivendo. Porque uma democracia significa direitos iguais para todos, e isso não existe”.
Crítico do modelo que “privilegia o capital financeiro em relação à vida das pessoas”, ele afirmou, durante o almoço, que propostas de integração regional, de combate à fome e à pobreza não são boas para o sistema de poder. “Se há redistribuição [de renda] não há lucros”, resumiu.
Esquivel condenou o que definiu como uma “monocultura das mentes” –a ideologia dominante que propaga ideias favoráveis aos poderosos. Mesmo nesse quadro difícil, ele enfatizou que a resistência é necessária –nos campos social, cultural e político. E acrescentou que a saída para Lula estará na manifestação popular em seu apoio nas ruas.
Aos pessimistas, lembrou do poeta e dramaturgo argentino Leopoldo Marechal (1900-1970). Ele dizia que, quando parecemos perdidos em um labirinto, devemos saber buscar a saída. E a saída está em ir para cima.
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