O assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes, no Rio de Janeiro, provoca protestos, indignação e solidariedade. Militante dos movimentos negro, de direitos humanos e feminino, Marielle foi morta a tiros na quarta, 14/3, no centro da cidade. Ela fazia denúncias contra a violência policial contra os moradores de favelas no Rio e condenava a intervenção militar no Estado, definida por Temer.

Antes de ser assassinada, Marielle –a quinta vereadora mais votada do Rio, —participou de evento com mulheres negras que denunciavam violações de direitos contra os mais pobres. Em postagem recente ela escreveu: “Mais um homicídio de um jovem para a conta da PM. Matheus Melo estava sando da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”.

Nos estúdios do TUTAMÉIA, o vereador paulistano Eduardo Suplicy leu as palavras de Marielle, que tinha 38 anos e era socióloga, filha da comunidade da Maré. O texto, ele lembrou, remete às últimas estrofes de “Blowin’ in the Wind”, música-emblema de Bob Dylan, Nobel de Literatura. Suplicy (PT) recordou dos versos –que ele costuma cantar por onde anda:

“Quantas vezes precisará um homem olhar para cima até que possa ver o céu?

“Quantos ouvidos precisará o homem ter para que finalmente possa ouvir as pessoas chorarem?

“Quantas mortes precisaram acontecer até que as pessoas percebam que muitas pessoas já morreram?

“A resposta, meu amigo, está sendo soprada pelo vento”.

Suplicy, repetindo Dylan e Marielle, perguntou:

“Quantas pessoas precisarão morrer sem que se perceba que muitas pessoas já morreram? Quando é que vai acabar essa guerra?”

O vereador criticou a intervenção militar no Rio e os “desmandos das forças de segurança pública”. Disse que a intervenção assusta. Citou a revista nas mochilas de crianças pobres, “ainda que saibam que muitos narcotraficantes vivem em melhores bairros no Rio”, como Copacabana, Leblon, Leme. Pediu a governantes que coloquem “em prática o que o papa Francisco recomendou”, adotando políticas de redução de desigualdades.

A execução da vereadora provocou reação indignada no Brasil e no mundo. Os partidos que se opõe ao golpe lançaram notas, assim como centrais sindicais e entidades de direitos humanos. As homenagens se sucederam também na mídia, com multiplicação de memes, ilustrações e retratos como o produzido pelo artista plástico Fernando Carvall :

“Os tiros que ceifaram a vida de Marielle atingem todos nós que lutamos para que, nas palavras de Jesus (João 10, 10), “todos tenham vida e vida em plenitude”. A morte dos mártires comprova que em vão a injustiça busca predominar sobre a justiça. Gandhi, Luther King, Chico Mendes são apenas alguns exemplos de como os mortos comandam os vivos”, escreveu frei Betto, um dos símbolos da luta pelos direitos humanos no Brasil.

Ao longo desta quinta-feira, democratas no Brasil inteiro se reuniram em atos de protesto, exigindo a apuração do atentado terrorista, como fez o ministro da Defesa do governo Dilma, Celso Amorim:

“Para além da comoção indignada pela execução de uma mulher lutadora pelos direitos dos pobres e desvalidos, temos que exigir uma apuração ampla e transparente sobre os autores do hediondo crime. O que está em jogo é a segurança de todos, mas principalmente daqueles que dedicam suas vidas à defesa dos direitos humanos.”

Nos estúdios do TUTAMÉIA, Suplicy contou sobre outra violência contra a democracia que o Brasil assistiu ontem: a barbárie contra professores que protestavam, em São Paulo, contra a tentativa do prefeito Dória de mudar o sistema da previdência paulistana (foto acima).

A repressão deixou cinco professores foram gravemente feridos, atingidos por balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo disparadas por PMs e guardas civis. Suplicy pediu a retirada do projeto.

O vereador também declarou solidariedade ao presidente Lula e defendeu sua inocência. Disse que, no caso de uma prisão, iria, em solidariedade, com o líder para a cadeia.