Foi com muita satisfação que testei, ao longo do último mês, a mais recente versão do CREATION, um dos melhores calçados de corrida produzidos pela Mizuno. Ao longo da primeira década deste século, fui usuários constante desse modelo; depois, me desentendi com ele. Hoje, acho que até daria para voltarmos a ser melhores amigos, não fosse o alto preço que a Mizuno está cobrando por sua obra.

O CREATION 19 é o melhor de sua linhagem, de longa tradição, como evidencia o número da versão atual. Como disse, fui usuário constante até a versão oito; nesta década, avaliei diversos modelos do calçado.

É um calçado com ótima sustentação, que pode ser usado tranquilamente por corredores mais pesados, como eu. O amortecimento também é bom, proporcionado pelos espaços vazios entre as placas Wave de plástico duro que formam a estrutura principal do calçado.

Em contrapartida, ele está longe de ser um calçado flexível. Corredores acostumados com tênis mais “fofos” vão achar o Creation 19 “durão” –e olha que versões anteriores, se bem me lembro, foram ainda mais firmes.

Isso é questão de gosto. O problema que essa firmeza –pelo menos é a hipótese que levanto—também parece ser responsável por uma característica negativa, a pouca aderência do calçado em terrenos úmidos ou molhados mesmo.

Para meu azar –ou do tênis avaliado–, o Creation 19 chegou para testes em uma tarde de chuva, coisa normal em São Paulo. Fui logo experimentando o calçado, que é bastante confortável e serviu muito bem (falo disso logo a seguir) nos meus pés, que são altos e largos (chatos, para ser mais preciso).

Logo ao sair de casa, porém, quase levei um tombo por causa de uma derrapada com o Creation na pedra molhada.

Tratei de ficar esperto e, nos treinos seguintes, quando em terreno molhado, asfalto ou pedra, prestei atenção nisso. De fato, ele resvalou várias vezes.

Teve esse desempenho apesar de modificações feitas no solado exatamente para ganhar aderência e flexibilidade. Segundo o material de divulgação, “devido a um novo padrão na aplicação dos flex grooves – cortes flexíveis – ganha mais flexibilidade, colaborando com o conforto e a naturalidade na corrida. Pequenas esferas também foram aplicadas no centro dos padrões do solado, para gerar ainda mais tração durante o treino”.

Na minha experiência, houve resvalões. De resto, porém, o desempenho do Creation 19 foi muito bom: caminhei e corri em areão, asfalto, concreto, chão batido, sempre com bastante segurança e conforto. Mesmo em piso de pedriscos ele se saiu bem, apesar daquelas aberturas na sola, razão de uma brincadeira que fiz na década passada…

Em um texto publicado em 2008, falava que era “o pior tênis do mundo”. O problema, brincava eu, era “aquela estrutura de espaços vazios no solado, apresentada como importante elemento para o amortecimento. Pode até ser, mas, quando você pisa de jeito em dejetos caninos, a porcaria se gruda na sola e entremeia a entresola, solertemente se infiltrando naqueles tais espaços”.

Muita gente comentou ter tido experiência semelhante com o Creation e outros modelos. Há vários calçados de corrida especialmente sensíveis em relação a pisaduras em cacas e barrais, como o Springblade, da Adidas, e o Shox, da Nike, para ficar apenas em dois modelos que me vêm à cabeça.

Brincadeiras à parte, o Creation 19 é um calçado muito bom e confortável. O que usei nos testes é tamanho 12 dos EUA, 44 Brasil, e ficou bem –em geral, uso 11,5.

Já seu preço está longe de ser agradável: é listado por R$ 799,99, o que o coloca numa faixa alta dos calçados de corrida, sendo o mais caro entre os que testei neste ano. Não ajuda muito quem analisa agora o preço, mas é bom lembrar que é o mesmo valor de lista da versão 17, que analisei em 2015.

Falando em testes do ano, aproveito para fazer um balanço das avaliações. Todos os tênis analisados foram muito bons. Por suas qualidades, sem levar em consideração preço, estão todos na categoria “compráveis”.

O Nike Vomero 12, que testei logo no início do ano, foi a surpresa mais agradável. Eu sempre torci o nariz para essa linha, que considerava inútil para corrida, ainda que bom para caminhada.  A razão era o ótimo amortecimento, ótimo demais que chegava a ser fofíssimo, e o calcanhar amassava demais a borracha da sola a cada pisada mais forte ou em descidas. O modelo atual ganhou mais estrutura e firmeza e ainda oferece bom molejo. Preço quando testado: R$ 599,90.

A maior novidade, para mim, foi o Everun Ride 9, primeiro calçado da Saucony que avaliei. Sempre gostei muito dos tênis dessa companhia norte-americana, mas seu padrão não casava com o de meu pé. Esse modelo é mais largo e bem confortável, tendo como destaque o amortecimento extra na região na frente do pé, o que é muito bom (outras empresas já ofereciam calçados com essa característica, como a Brooks e a Asics). Também R$ 599.

O mais barato do lote testado foi o excelente Core Rush V3, da New Balance. Não que R$ 499,90 seja pouco, mas, relativamente aos demais, fica na faixa baixa de preço, dando a ele o melhor custo/benefício no grupo. Superconfortável, bom amortecimento e bastante segurança são algumas das características desse calçado.