por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Ao convidar Leny Andrade para gravar algumas de suas canções, Fred Falcão levou-as para que a “dama solar da música” – assim a elegi ao comentar o seu CD Alma Mia (2010) – escolhesse algumas. Leny quis todas, mesmo as que ainda seriam compostas, numa demonstração de confiança no talento do compositor Fred Falcão.

Nascia Bossa Nova – Leny Andrade canta Fred Falcão (Biscoito Fino), o quarto CD autoral desse compositor que ama Leny, que ama a bossa nova, que ama Fred, que também ama a bossa nova, que ama Fred, que ama Leny, que ama e gravou doze músicas de Falcão.

Tanto para Fred quanto para Leny, bossa nova não é um mero rótulo, é uma questão de (bom) caráter. E cada um a seu modo a reverenciou, desde o início até o apogeu, contribuindo para torná-la planetária.

De lá para cá, a bossa nova se transformou num dos gêneros musicais mais importantes do mundo, igualando-se ao jazz norte-americano e à música cubana: por isso, sempre haverá quem reconheça o refinamento harmônico e a graça de seu estilo.

Com direção artística de Fred, um pequeno time de experientes instrumentistas foi arregimentado: Jorge Helder (baixo), Lula Galvão (violão), Rafael Barata (bateria) e João Carlos Coutinho (piano, acordeom, arranjos e também produtor musical), além da participação especial do percussionista Marcelo Costa.

Fred Falcão é um compositor de muito talento e anos de estrada, mas infelizmente pouco conhecido por quem curte música brasileira de qualidade. Não sendo propriamente um cantor, expõe sua sabedoria convidando cantoras e cantores de ofício para melhor interpretá-lo.

Mas o que dizer de Leny? Bem, a carioca Leny Andrade é uma das maiores cantoras brasileiras, e seu desempenho é digno de uma grande dama da nossa música… Aqui peço licença para relembrar o que escrevi sobre Lua do Arpoador(2006), CD que ela dividiu com o violonista Romero Lubambo: “Nada sei. Apenas sinto a voz se agigantar bem à minha frente. Uma voz clara como a alma que a liberta. Voz aveludada que me fascina. Nada sei, mas sinto que todo sentimento desabrochará daquela voz (…) Às vezes dilacerada, noutras delicada, a voz soa madura, mas plena de um frescor quase juvenil. A voz que tanto me sensibilizou é de Leny Andrade”.

O álbum abre a tampa com “O Amor Pegou na Veia”, um samba suingado de Fred Falcão e Carlos Cola. O arranjo tem minúcias da guitarra, intermezzo do piano e scats vocais de Leny – uma de suas marcas registradas.

O violão toca a intro de “Maré Cheia” (FF) e segue acompanhando Leny. Até que, na segunda parte, entram batera, acordeom e baixo. O arranjo fecha com Leny glissando a última nota uma oitava acima.

Linda, arrisco mesmo a elegê-la a linda das lindas, é “Janela Aberta” (FF e Ed Wilson). Acompanhada apenas pelo piano acústico de Coutinho, que realça as belas melodia e harmonia de Fred, Leny se despedaça de tanta entrega. Meu Deus!

 E assim, a união ratifica a beleza da música de Fred Falcão pela voz de Leny Andrade.