por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

E eu que acreditava conhecer bem o trabalho da cantora e compositora Jane Duboc. Qual o quê, mermão; Jane não cabe num pensamento só. Jane é um ser feito para agregar seus sonhos e vivências aos de quem ela ama; ela sabe como ninguém que música e amizade são tesouros da vida.

É por seu espírito gregário que a música a protege e a ela entoa loas – não há solidão para quem a música indica passos e compassos. Como numa sociedade comunitária, onde ninguém é mais do que ninguém, Jane reuniu onze craques/parceiros/amigos, um verdadeiro time de futebol que vestiu a camisa que traz a música do lado esquerdo do peito.

Duetos (independente) é seu novo CD. Produzido por Daniel Figueiredo, o trabalho conta com as participações especiais de Roupa Nova, Toquinho, Marina Elali, Oswaldo Montenegro, Celso Fonseca, Mafalda Minnozzi, Erika Ender e alguns outros que eu ainda citarei mais à frente. Todos grandes amigos, que foram convidados para fazerem duetos com ela.

E, prazerosamente, suas participações não deixam dúvida: eles se ajuntaram com a “missão” de garantir que Jane registrasse novamente suas músicas e sua voz de cristal. Som parido da alma, que soa como um oboré* e conclama todos a ouvi-la. Assim, além de fruto da admiração que o mundo musical tem por Jane Duboc e sua música, Duetos é um presente embalado em vozes, instrumentos e amores:ouro, incenso e mirra.

“Nada Sem Você” (Ivan Lins, Ivano Fossatti e Celso Viáfora), antes de ser incluída em Duetos, foi gravada por Viáfora e produzida pelo filho de Jane, Jay Vaquer. O piano da grande dama inicia, no arranjo composto por ela. Vêm os versos (!). À bela voz de Jane Duboc junta-se em dueto com a guitarra de Roberto Menescal. Lindo!

Em “Aquela Música” (Jay Vaquer), também com arranjo de Jane, que está ao piano (quanta sensibilidade, meu Deus), temos um dueto com Fábio Jr., numa belaparticipação. E ainda tem Carlos Malta à flauta, num lindo intermezzo. Keco Brandão aparece ao piano na segunda parte, quando o solo cabe a Fábio Jr.

Como na maioria das músicas do álbum, ela compôs o arranjo e tocou piano em “Rastro de Sangue” (Jane Duboc e Zeca Calazans). E aqui temos ainda a participação especial do baixo acústico de Jefferson Lescowich. Jane canta com Claudio Damatta – ele que é pura emoção, ampliada pelo vigor do piano e do baixo.

“The Angel” (Egberto Gismonti e Jane Duboc) vem pela voz de Bianca Gismonti, que por sua vez engrandece os versos de Jane em inglês. Seu dueto com Jane é tão delicado quanto cordial é o piano de Egberto.

A voz e os agudos de Jane Duboc comprovam que o impossível é (quase) possível. Ela imprime emoção nas sílabas de cada verso, nas levadas e nos acordes das canções. Em Duetos, uniu sua sensibilidade à de seus companheiros de música – mas só a ela caberá conservar seu canto e suas atitudes, para seguir em frente. Sempre!

* instrumento com o qual que os índios tupis conclamavam a tribo para lutar em sua defesa.