Está em curso uma reviravolta histórica entre a China e o Vaticano. Após 70 anos de relações estagnadas, Francisco deve reconhecer bispos nomeados por chineses, o que pode viabilizar uma visita papal a Pequim.
Foi o que nos contou José Luiz Del Roio, ex-senador italiano, que acompanha de perto as articulações do Vaticano. Em entrevista a TUTAMÉIA, ele explicou o imbróglio.
Desde a revolução chinesa, estados estrangeiros não podem designar ministros religiosos em território chinês. O Vaticano –que é um Estado—apoiou sempre a contrarrevolução. Assim, até hoje, quem escolhe os bispos na China é a comunidade religiosa, com o referendo do governo chinês. Imediatamente, os bispos indicados têm sido excomungados.
Dessa maneira, os católicos chineses ficam numa situação complicada e tensa. O que está sendo acertado agora é o reconhecimento, pelo Vaticano, da forma de escolha de bispos na China. Segundo a agência Reuters, o rascunho desse acordo já está pronto e pode ser assinado dentro de poucos meses.
Del Roio avalia que os desdobramentos do acerto podem afetar Taiwan, já que o Vaticano é um dos poucos estados a reconhecer a ilha (adversária da China) como país. Para o ativista político, esse passo do Vaticano pode resultar em dois outros: rompimento com Taiwan e reconhecimento da China.
Com 1,3 milhão de habitantes, a China tem apenas 10 milhões de católicos. A questão de fundo, lembra Del Roio, é que o catolicismo está em defensivo em espera mundial. Não tem tido formas de buscar adeptos na China e na Índia _os países que possuem metade da população mundial. Enfrenta também dificuldades nos países islâmicos. Assim, o acordo em discussão pode abrir novas fronteiras para a igreja católica.
Del Roio observa que esse movimento histórico do papa também está sendo alvo de fortíssima oposição interna na cúria romana.