Aumentou em 130% o número de pessoas que está procurando emprego há um ano ou mais. O dado, do IBGE, compara o último trimestre de 2017 com o mesmo período em 2014. No ano passado, o desemprego atingiu 12,3 milhões de pessoas.

O desemprego de longa duração afeta mais os mais jovens. Do total de desempregados há um ano ou mais, 54% têm entre 14 e 29 anos de idade. Na faixa entre 14 e 19 anos, 850 mil pessoas buscam vagas nesse tempo.

De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem publicada no “Valor”, os desempregados crônicos sofrem de estigma, e as vagas geradas acabam sendo preenchidas por quem está há menos tempo desempregado.

A maior parte dessas novas vagas são voltadas para postos de baixa qualificação e salário comprimido. São lugares para faxineiros, auxiliares de escritório, repositores de mercadorias. Pessoas com qualificação acima do exigido para essas funções estão aceitando trabalhar por remunerações baixas, mostra estudo da Confederação Nacional do Comércio, publicado no “O Estado de S.Paulo”.

No REMELEXO DA NOTÍCIA de hoje comentamos esses dados e os números do outro lado da conjuntura brasileira: o aumento dos ganhos dos grandes bancos. Os quatro grandes (BB, Bradesco, Itaú e Santander) lucraram R$ 64,9 bilhões no ano passado, uma alta de 21%.

O avanço impressionante ocorreu em ano de baixa atividade econômica, queda nas taxas nominais de juros e redução nos negócios de crédito.

Reportagem publicada no “Valor” relatou a diferença  entre os resultados do setor financeiro em relação ao restante da economia. Diz o texto:

“A rentabilidade média, calculada com o patrimônio em fim de período, das instituições foi de 13,9%, contra 4,5% das empresas não financeiras”.

Um retrato da economia em números.

Comentamos também comentou a tentativa do governo de cercear as universidades. Na semana passada, o Ministério da Educação pediu investigações a respeito de curso da UnB sobre o golpe de 2016. A iniciativa do governo fere a autonomia universitária e gerou protestos da comunidade acadêmica pelo país. A Unicamp já anunciou que fará disciplina na mesma linha de análise.

Para o TUTAMÉIA, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo manifestou total indignação em sua entrevista na semana passada. Se não estão satisfeitos com essa disciplina, façam outra, argumentou o professor, lembrando que nem durante a Idade Média a autonomia universitária foi enxovalhada.

Hoje, falamos sobre o protesto que ecoou também na Universidade Federal do Amazonas. A instituição também prepara estudos sobre o golpe de 2016, que derrubou a presidente Dilma Rousseff.

O portal “Manaus de Fato” ouviu o professor César Augusto Bubolz Queirós, do departamento de história da UFAM, que tomou a iniciativa de promover a disciplina sobre o golpe em Manaus.

Reproduzimos abaixo a nota do professor, publicada no portal:

”Vivemos sob tempos sombrios. O avanço das forças conservadoras sobre o conjunto de direitos que haviam sido conquistados pelos trabalhadores se faz constante. A Reforma Trabalhista vulnerabiliza as relações de trabalho e nos impõe um retrocesso de 80 anos! A insistência do governo em realizar a Reforma da Previdência ameaça a aposentadoria de milhões de brasileiros. Tentativas de cerceamento das atividades artísticas e acadêmicas estão virando rotina. A exposição cancelada no Santander, a performance no MAM/SP, os protestos contra a visita de Judith Butler e, agora, a ameaça do MEC de proibição da disciplina ofertada pelo professor Luis Felipe Miguel, da UnB, demonstram que a democracia está em risco e que devemos reagir de forma enérgica contra essas constantes tentativas de censura e aos ataques à autonomia intelectual e às artes. Caso contrário, corremos o sério risco de ficarmos reféns de um governo que pretende silenciar as vozes dissonantes. É uma grave ameaça ao Estado de Direito e à Democracia.

“Felizmente, em várias Universidades percebemos uma rede de insatisfação com tais arbitrariedades e de solidariedade com o professor Luís Miguel, sendo que muitos professores vêm ofertando – de forma individual ou coletiva – disciplinas que têm o objetivo de discutir os acontecimentos mais recentes e, ao mesmo tempo, demonstrar que a sociedade não vai se calar diante dessas tentativas de cerceamento de suas atividades artísticas, acadêmicas e culturais. Ademais, diversas associações como a Associação Nacional de História (ANPUH) e a Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica) têm manifestado apoio ao docente e demonstrado seu repúdio à ameaça de cerceamento da autonomia acadêmica e às liberdades democráticas e constitucionais.

“Neste sentido, considerando o contexto político vivenciado pelo país e a tentativa de cerceamento da autonomia universitária, ofertarei nesse semestre uma disciplina que discutirá o tema “Golpes de Estado, autoritarismo e repressão no Brasil Republicano”, buscando abordar, por meio da bibliografia sobre o tema, os golpes de Estado e as crises institucionais vividas no país entre os anos de 1930 e 2018. O objetivo é discutir a tradição autoritária estabelecida no Brasil e demonstrar que o golpe de 2016 se insere em um contexto de disputas políticas que podem ser analisadas na esteira de outras conjunturas de nossa história recente. Assim, dividi a disciplina em tópicos, nos quais pretendo analisar o corporativismo e o legado autoritário da Era Vargas; os golpes e contragolpes no breve período democrático (1945-1964); o golpe civil-militar de 1964 e o golpe de 2016: autoritarismo, perda de direitos e reação conservadora. Analisar de forma crítica a história recente do Brasil é sempre uma oportunidade de refletir sobre nosso presente. E, nesses tempos sombrios, é necessário repensar a importância da atuação do historiador em um momento em que as sombras do passado, fortalecidas pelas mentiras e omissões do presente, teimam em espreitar nossas janelas. Para Hobsbawm, “é comum hoje governos e meios de comunicação inventarem um passado. […] É vital o historiador lutar contra a mentira. O historiador não pode inventar nada, e sim revelar o passado que controla o presente às ocultas”. É bom lembrar isso quando discursos autoritários que defendem a censura e as intervenções voltam a nos assombrar”.