Inquietude. Essa é a palavra que melhor define Tiradentes na visão de Lucas Figueiredo em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Jornalista e escritor, ele é autor de “O Tiradentes, uma Biografia de Joaquim José da Silva Xavier”.
Revolucionário, militar, mascate, fazendeiro, minerador, homem de negócios –a trajetória de Tiradentes tem múltiplas facetas. “Ele era muito habilidoso, fazia um monte de coisas ao mesmo tempo, queria tudo ao mesmo tempo. Ele ia matando tudo no peito e seguia”, diz Figueiredo.
Ao TUTAMÉIA, ele descreve várias passagens da vida de Tiradentes e da construção da rebelião que propunha uma república em pleno Brasil colônia: a influência das ideias iluministas e, especialmente da Revolução Norte-americana, a trama, a traição, a execução e o legado –recuperado, anos mais tarde, pelo movimento republicano.
PROCESSO JUDICIAL DE CARTAS MARCADAS E MANIPULADO
Figueiredo fala do processo judicial contra os revoltosos:
“Foi um projeto judicial absolutamente de cartas marcadas. Quando o processo é aberto, já se sabe qual é a sentença da rainha de Portugal. Quando a rainha abre o processo, três anos antes de sair a sentença, ela já sabe o que ela quer fazer. Enquanto o processo corre no Rio, com muitas preocupações formais, a rainha escreve uma carta para o juiz dizendo: ‘olha, a sentença é essa aqui’”.
E mais: “Não só o processo judicial é completamente de cartas marcadas, como a devassa, a investigação é completamente manipulada. Porque eles deixam de fora um monte e gente, muitos graúdos”.
Na avaliação do jornalista, “eles não queriam que aquele movimento, que era de ideias, fosse visto dentro da colônia e para as nações estrangeiras como um grande movimento. Então, tentam diminuir a importância daquele movimento”.
Perguntamos sobre a ligação desse tipo de processo e os dias de hoje. Figueiredo responde: “A gente não pode comparar as épocas, mas tem ecos que são muito perturbadores para a gente ignorar”.
Ao TUTAMÉIA, Figueiredo analisa a atualidade do personagem e do herói:
“Quando tem um momento de crise no país, existe uma tendência a se agarrar na figura do Tiradentes para tentar explicar o Brasil. Estamos vendo agora esse fracasso, as nossas contradições e as nossas fraquezas surgindo num momento de volta abrupta ao passado. Isso quando julgávamos que estávamos indo para algum lugar melhor, que a gente estava construindo uma grande nação, uma república. E a gente mais uma vez fracassa. Por isso tentar explicar esse país absurdo através de Tiradentes é tentador. Ele acaba sendo o símbolo do Brasil”.