As mais importantes centrais sindicais do país vão realizar, neste Primeiro de Maio, um Ato Nacional unitário pela libertação do presidente Lula, em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores. O anúncio foi feito por Edson Carneiro Índio, dirigente da Intersindical, em entrevista ao TUTAMÉIA; ele mesmo iria, nesta quarta-feira, fazer com outros dirigentes sindicais uma visita de solidariedade ao presidente Lula.

É mais uma demonstração, disse, do movimento que as centrais estão fazendo para a construção de unidade na luta, o que já deu bons resultados no passado: a greve geral que parou o país em 28 de abril do ano passado é um exemplo disso.

Com essa unidade, afirma Índio, o movimento sindical dá sua contribuição para a construção de um projeto de país diferente, que tenha a defesa dos direitos do trabalhador e a defesa das riquezas nacionais com pontos centrais.

Um projeto que é o oposto do plano que vem sendo implementado pelo golpismo, apontou ele ao fazer um balanço do golpe, que completou dois anos nesta quarta-feira.

A seguir, a fala de Índio sobre alguns dos pontos abordados em nossa conversa, que começou com uma homenagem ao professor Paul Singer, que morreu ontem em São Paulo aos 86 anos (não deixe de assistir ao vídeo da entrevista, que traz todos os detalhes das opiniões do dirigente sindical e também comentário da Eleonora sobre a vida de Singer e suas contribuições para o Brasil).

DOIS ANOS DE GOLPE = TRAGÉDIA PARA O BRASIL E PARA O POVO BRASILEIRO

O golpe foi instalado pelo grande capital para ensejar um governo, ainda que ilegítimo, para desmontar o Estado, para desmontar as conquistas da Constituição de 1988.

Houve inicialmente a aprovação de um projeto que permitiu a terceirização irrestrita –muito controversa, absolutamente inconstitucional. Depois houve a aprovação da reforma trabalhista, que deformou todo o conjunto de direitos estabelecidos na CLT. Tivemos a aprovação da emenda constitucional 95, que busca estancar os investimentos públicos para transferir a renda pública para o grande capital, tivemos uma agenda de privatizações, entrega dos recursos naturais, uma agenda que está em curso ainda.

Estamos vendo a tentativa de privatização do setor elétrico, o que é gravíssimo, nenhum país do mundo minimamente sério levou essa agenda a cabo.

E temos, por outro lado, uma diminuição dos espaços democráticos, uma situação que a gente quase pode caracterizar como o estabelecimento de um Estado de exceção, onde as liberdades democráticas, as garantias constitucionais estão sendo desconsideradas pelos poderes constituídos do país.

Temos uma movimentação muito estranha e preocupante nos círculos militares, que deve preocupar todos os setores democráticos.

O balanço desses dois anos de golpe é uma tragédia para o povo brasileiro, uma tragédia para a soberania nacional, uma tragédia para a imensa maioria da população. E a tarefa para os setores populares é barrar o golpe e inverter essa agenda do país. Nós precisamos de uma agenda de desenvolvimento, de igualdade social, de garantia da democracia para permitir uma vida digna ao povo brasileiro.

AÇÃO DO MOVIMENTO SINDICAL

Neste dia 28 de abril se completa um ano da greve geral, que paralisou o país. Naquele momento a gente conseguiu botar o golpismo na retaguarda e foi suficiente para impedir a aprovação da reforma da previdência, que o governo tentou até o final do ano.

A resistência à reforma trabalhista, á terceirização, ela segue no cotidiano do movimento sindical.

Há uma tentativa de avançar nas formas precárias de contratação, através da pejotização, da terceirização irrestrita, do falso trabalhadora autônomo. Os sindicatos têm tentado travar essa batalha, principalmente através do estabelecimento, nas convenções coletivas, de travas para esse processo.

O texto votado, da reforma trabalhista, é inconstitucional. Fere os princípios da dignidade humana, do princípio de não regressão social…

A batalha segue, ainda há muito para ser feito. A luta direta vem sendo empreendida. O grande capital logrou um tento, mas a luta, a resistência vai seguir, nós temos certeza de que a gente ainda vai restabelecer os direitos que foram destruídos por essa deforma trabalhista.

GREVE GERAL VITORIOSA

A unidade [das centrais sindicais] construída desde o golpe é uma unidade concreta, em cima da defesa dos direitos, foi fundamental.

O Brasil, no dia 28 de abril do ano passado, parou. O que a gente verificou foi uma grande unidade do movimento sindical, do movimento social, mas também uma grande compreensão do povo. Houve uma mobilização que extrapolou as fronteiras do movimento sindical. E acho que esse é o caminho para a vitória.

Nós não podemos achar que basta a unidade das centrais e dos movimentos sociais, nós precisamos estabelecer uma aliança com o povo brasileiro. Naquele momento, isso ficou muito claro: havia um processo de mobilização nos bairros, nas favelas, nas periferias, participação ativa de setores progressistas da igreja católica, setores das igrejas evangélicas, houve, enfim, uma grande unidade dos setores populares e democráticos, que têm compromisso com o Brasil, e foi naquele momento fundamental para realizar aquela grande luta.

Tivemos ainda mobilizações menores no ano passado, que foram fundamentais para barrar um pouco da agenda golpista. E aquele movimento que fizemos em 28 de abril, com certeza nós vamos retomar no próximo período.

DESEMPREGO

O desemprego é ruim para os trabalhadores, mas não é tão ruim assim para o grande capital e para o rentismo.

O desemprego, no Brasil, é calculado para reduzir o poder de pressão dos sindicatos, para pressionar os trabalhadores, rebaixar os salários e aumentar o lucro.

O governo apresenta dados que não condizem com a realidade. As pesquisas identificam quem está à procura de emprego; se o desempregado já está há algum tempo sem procurar emprego, ele fica fora desses levantamentos.

Tivemos também a divulgação recente de dado mostrando que, pela primeira vez, o número de trabalhadores em pregos informais, precários, sem direitos, é maior do que o número de trabalhadores empregados com carteira assinada. Isso é inédito.

Há um desemprego imenso, mais de 12 milhões de desempregados, outros milhões que já estão no desalento, e os que conseguem encontrar um trabalho remunerado só encontram ocupações sem direitos.

Precisamos melhorar a situação do trabalho. O Brasil é campeão em acidentes do trabalho. Morrem mais de três mil pessoas por ano vítimas de acidentes do trabalho, mais de três mil pessoas!!!

Todo ano, mais de 700 mil pessoas sofrem acidente no trabalho. Uma grande parte vai carregar sequelas para o resto da vida.

CONSTRUIR UM PROJETO PARA O PAÍS

Uma grande questão que o Brasil precisa responder é a de um projeto de país em que a política econômica esteja orientada pelo pleno emprego.

Os próprios Estados Unidos, baluarte do liberalismo, na definição da política econômica, levam em consideração a variável do emprego, é uma questão fundamental. Levam em conta na formulação da política monetária, ficam estabelecidas também metas para o emprego.

Aqui não, a política é definida por meia dúzia no Copom [Comitê de Política Monetária], que, na verdade, atua como escritório de representação dos banqueiros, e não tem nenhum compromisso com o país.

Hoje precisamos trilhar o caminho da unificação, unificar na política, unificar na ação, lutando para que a gente tenha minimamente um mercado de trabalho com regulação, com o papel da Justiça do Trabalho, com o papel do sindical, papel do estado na fiscalização do cumprimento das garantias, e um processo de formação política, que é fundamental para os trabalhadores e trabalhadoras e para os sindicatos.

O movimento sindical precisa ter um projeto de país, um projeto que não pode ser corporativa, só defender os interesses das corporações, mas fundamentalmente olhando para o país, para a soberania nacional, olhando para a América Latina, para o Sul do mundo….]

Esse projeto só é possível enfrentando os privilegiados, enfrentando o capital financeiro, enfrentando o rentismo, enfrentando essa meia dúzia de bilionários que não têm compromisso com o país, com a soberania nacional e com o povo brasileiro.

UNIDADE PELA DEMOCRACIA

Nosso desafio é articular essas diversas lutas, diversas pautas, diversas formas de organização num projeto global.

Num momento em que a democracia no Brasil está sendo absolutamente desrespeitada, pisoteada, a democracia é ponto fundamental na luta política do país.

As lutas salariais, as lutas por direitos, as próprias campanhas salariais, elas têm de estar articuladas com a luta pela democracia no Brasil, pela liberdade do presidente Lula, pelo direito de o presidente Lula ser candidato, que não é um direito apenas do presidente Lula, que não é um direito apenas do PT, é um direito dos milhões de eleitores que se propõem a votar em Lula.

A luta pela democracia, a lula por eleições livres, é uma questão fundamental das mulheres e dos homens, até porque, no nosso olhar, essas eleições devem servir para o setor democrático, o setor progressista fazer um debate com o povo e, ao final da eleição, revogar as medidas que foram adotadas pelo golpe.

A eleição, para nós, deve ser vir para isso. A eleição presidencial é muito importante porque define os rumos do país. Mas também a eleição para o Congresso precisa ser muito valorizada. Temos de eleger mulheres e homens comprometidos com a soberania nacional, com um projeto de país, com a integração latino-americana, com a integração do Sul do mundo, com a importância da valorização social do trabalho, com a importância da garantia das riquezas do país, que têm de estar a serviço do povo brasileiro. Precisamos de um Congresso comprometido com a ciência, com a tecnologia, e que o avanço tecnológico não esteja apenas a serviço do lucro, mas a serviço das pessoas.

PRIMEIRO DE MAIO LULA LIVRE

Estamos programando um Primeiro de Maio unitário nas capitais nas grandes cidades, e um Ato nacional unitário em Curitiba, com todas as centrais, em defesa da democracia e da libertação de Lula.

É uma inovação, a gravidade do momento exige isso.

Neste ano, no primeiro de maio, completam-se 75 anos da CLT, [que estabeleceu] direitos que foram surrupiados pela deforma trabalhista. Então é a defesa da democracia, defesa da liberdade para o presidente Lula, e a defesa dos direitos, da soberania nacional estarão no centro dessa manifestação unitária.

Esse texto da deforma trabalhista não é apenas a desorganização do trabalho, é um projeto de país. Ali está embutido um projeto de país subordinado, que só tem como meta ser um país exportador de produtos primários, um país absolutamente sem condições de oferecer para seu povo uma perspectiva de futuro, de igualdade social, de desenvolvimento, de dignidade para o povo brasileiro.

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ATUALIZAÇÃO

Como Índio anunciara na entrevista ao TUTAMÉIA, ele e outros representantes de diversas centrais sindicais estiveram nesta quarta-feira, 18.4, em Curitiba, no acampamento LULALIVRE. Além de prestar solidariedade ao presidente Lula, lançaram documento anunciando a realização de ato nacional unificado no próximo Primeiro de Maio, que publicamos a seguir.

Dirigentes de diversas centrais sindicais participam em Curitiba de manifestação de solidariedade ao presidente Lula

PRIMEIRO DE MAIO UNIFICADO – 2018

CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical, NCST e UGT

Os trabalhadores enfrentam enormes desafios no Brasil e no mundo para superar as desigualdades, para combater o arrocho salarial e a precarização das condições de trabalho, para barrar a insegurança na proteção social, para impedir os assassinatos e prisões de militantes e lideranças populares, para enfrentar e denunciar a discriminação social, racial e contra as mulheres, para bloquear o cerceamento da liberdade e o ataque à democracia.

A luta é o sentido da vida sindical e a unidade é a nossa decisão política.

Por isso, faremos um Ato de 1o de Maio histórico em Curitiba, nacional e unitário, coroando as inúmeras manifestações que faremos em todo o país e em sintonia com todos os trabalhadores.

Estamos juntos em Curitiba lutando por:

Nenhum direito a menos

Contra a reforma trabalhista que destrói os direitos dos trabalhadores e os sindicatos.

Emprego para todos

Política econômica para gerar empregos para 13 milhões de desempregados e para 12 milhões de subocupados.

Qualidade dos empregos (contra precarização e insegurança).

Valorização do salário mínimo

Manutenção da política de valorização do salário mínimo.

Seguridade e Previdência Social

Financiamento e gestão da seguridade e da previdência social voltados para sua sustentabilidade.

Políticas públicas

Fim da Lei do teto do gasto público.

Saúde, educação, moradia, transporte e segurança pública.

Políticas públicas de qualidade para todos.

Fortalecimento sindical

Reorganização sindical para aumentar a representatividade dos trabalhadores.

Financiamento sindical decidido pelos trabalhadores em assembleia.

Democracia e eleições livres

Justiça, sim. Perseguição, não. Liberdade para Lula!