Houve uma verdadeira guerra para impedir a continuação do crescimento da candidatura de Fernando Haddad, segundo avaliação do deputado federal Paulo Teixeira, reeleito pelo PT de São Paulo. Combinaram-se, diz ele, “notícias falsas, a manipulação da mídia, a militância partidária do Sérgio Moro e um certo segmento empresarial, interessado na retirada de direitos do povo, formando essa onda de ataques a nós”.

Fracassaram, afirma Teixeira em entrevista ao TUTAMÉIA nesta segunda-feira, 8 de outubro, dia seguinte ao primeiro turno das eleições gerais no país: “Eles conseguiram eleger vários deputados e senadores, mas essa onda não deu conta do todo: eles não conseguiram eleger o presidente da República. E agora, na minha opinião, nós temos uma oportunidade de derrotar esse cidadão, que é o símbolo do mal”.

Para aproveitar essa oportunidade será necessário, na avaliação dele, mostrar ao povo quem é Bolsonaro e quais são suas propostas, ao mesmo tempo em que os partidos e grupos defensores da democracia se unam em uma ampla frente democrática: Teixeira considera que Ciro e Boulos devem ser integrados ao comando da campanha de Haddad e que outros setores também podem e devem ser chamados à luta pela democracia, contra a desigualdade no Brasil.

“Há uma alma democrática nos outros partidos que nós não podemos desprezar, que não aceitará esse retrocesso”, afirma o deputado petista. “Ele quer retirar os direitos dos trabalhadores. Ele é o candidato antipobre, o candidato que quer tirar o registro da empregada doméstica. O que significa isso? Significa obrigar a empregada doméstica a ter trabalho análogo ao de um escravo, trabalhar de sol a sol, de domingo a domingo.”

E segue: “Eles não gostam de pobres, não gostam de mulher, não gostam de homossexual, não gostam de negro, não gostam de gente”.

DESEMPREGO

O projeto de Bolsonaro também envolve a destruição da economia nacional, diz o deputado na entrevista (confira a íntegra no vídeo acima). “Eles já disseram ontem que querem vender 200 empresas brasileiras. Eles devem querer vender a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, devem querer vender a água, as empresas de energia e consolidar a venda da Embraer. O projeto de desenvolvimento do Brasil depende dessas empresas.”

E segue: “Se privatizar, o povo brasileiro vai sofrer muito. Isso vai atingir diretamente o bolso do cidadão, na conta do gás, na conta da gasolina, na conta de água, de energia elétrica. E mais ainda: essas empresas são as responsáveis pelo desenvolvimento do Brasil. São empresas que investem, são empresas que produzem tecnologia, são empresas que desenvolvem o país. Se forem vendidas, não vão investir mais, vão transferir lucros para as suas sedes. Isso fere a soberania nacional, a autonomia nacional. O resultado é que nós vamos comprar tecnologia fora. Vai ter de comprar fora, ficando cada dia mais dependente. Vamos perder capacidade de governo.”

RECONQUISTAR VOTOS

Esse é um dos caminhos, na opinião de Teixeira, para reconquistar votos de pessoas que apoiariam o PT, mas acabaram caindo no conto do adversário.

“Ele aterrorizou os mais pobres. Começou num capítulo de mentiras do ponto de vista moral. Fez um ataque à honra e à imagem de nosso partido sem precedentes, ele nos associou a todo o tipo de maldade. Então as pessoas mais religiosas, acreditando nessas mentiras, ficaram com medo de que a gente pudesse ferir esses princípios.”

“Nós já governamos o país por 14 anos, e nunca fizemos o que eles diziam que nós poderíamos fazer. Foi um monte de calúnias. Houve omissão do TSE de não coibir esse tipo de coisa. Nas vésperas da eleição, nosso advogado, o Aragão, tirou 200 peças de notícias falsas contra o PT.”

“Então temos de buscar esses votos, o voto do nosso eleitor que, com medo, possa ter votado nele. Do cara que ficou revoltado, acreditando nas notícias falsas. Não foi um jogo leve, foi um jogo pesado, sujo, que eles fizeram. Esse eleitor é um eleitor que a gente pode recuperar.”

SEGURANÇA, DEVER DO ESTADO

Teixeira também apontou que, na questão da segurança, as propostas de Bolsonaro são irresponsáveis.

“Ele é um irresponsável quando prega, na sociedade brasileira, a solução por via armada. Ora, se nós temos 60 mil homicídios por ano no Brasil, nós vamos ter 120 mil, caso prospere uma proposta como essa de flexibilizar o estatuto do armamento.”

“O PT tem proposta para a segurança. Primeiro: não tirar direitos do povo brasileiro. Manter o décimo terceiro, manter o adicional de férias, rever a reforma trabalhista para proteger mais os trabalhadores, que estão sofrendo com a terceirização.”

“Do ponto de vista da segurança público, temos de dizer ao povo brasileiro que aquele cidadão que não tem segurança é porque não tem Estado onde ele mora. O Bolsonaro é um irresponsável quando ele retira do estado a responsabilidade de dar segurança às pessoas. O povo precisa ter polícia que faça ronda, que impeça que a criminalidade floresça naquele bairro, tem de ter delegacia que investigue, que desarticule o crime.”

MENTIRAS

“Eles fizeram as chamadas fake news, mentiras enviadas desde o exterior. Eles são uma máquina de produção de mentira. Imagina um povo desses querer governar a gente… A única coisa que eles sabem fazer bem é mentir.”

“Eles falavam que, depois da reforma trabalhista, ia ter mais emprego. Não teve. A reforma trabalhista retirou direitos e não criou emprego. O que acontece é que os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres. Essa é a verdade.”

FALA, LULA!

“Eles prenderam o Lula porque era a pessoa capaz de derrota-los. Não só prenderam o Lula ilegalmente como também impediram o Lula de falar. As TVs sempre entrevistaram pessoas privadas de sua liberdade. Então por que o Lula não pode falar? Há uma única razão: a potência do Lula. Ele seria eleito no primeiro turno. Mas foi preso, impedido de falar.”

“O que eu estou achando engraçado é alguém dizer que o presidente Lula tenha de sair de cena. Já tiraram o presidente Lula, forçado, de cena, com uma sentença totalmente sem sentido.  Na minha opinião, nós, do PT, deveríamos fazer uma campanha neste segundo turno: Fala, Lula! Deixem o Lula falar.”

“É estranho esse debate sobre esconder o Lula. Quem escondeu não fomos nós, foram eles. Ilegalmente. O que a gente tem é de pedir que o Lula fale.

“Por que não querem deixar o Lula falar?”

“Acho que o pleno do STF tem de decidir, porque no Brasil, até hoje, todo mundo que é privado de liberdade fala. Por que o Lula não pode falar? É censura? Na minha opinião, o Supremo tem de decidir.”

HADDAD

“Evidente que todo mundo quer ver o Haddad. Todo mundo que ouvir o Lula, e todo mundo quer conhecer o Haddad. E é bom que o Haddad se exponha, se mostre, fale, debata, discuta. Porque o Haddad, em comparação com o Bolsonaro, é da água para o vinho.”

“Em segundo lugar, tem de mostrar o Haddad, tem de pôr o Haddad em campo. Todo mundo quer saber se ele marca gol, se ele cabeceia, se ele defende o time, bate escanteio, bate pênalti, bate falta. É isso o que todo mundo quer saber: em outras palavras, qual a capacidade dele de governar.”

“E isso vai ser bom, porque o Bolsonaro não tem capacidade de governar sequer a casa dele. O Haddad é um grande gestor. Ele foi ministro da Educação, ele quintuplicou o investimento em educação, ele levou 4 milhões de estudantes para o ensino superior, ele criou 500 escolas técnicas no Brasil. É um sujeito bom de governo.”

CIRO, BOULOS, MÁRCIO FRANÇA

“Pretendo amanhã, na reunião da Executiva do PT, sugerir que nós convidemos o Ciro Gomes para vir para a coordenação da campanha. O Ciro é muito importante, por isso é que não houve nenhum ataque nosso a ele durante a campanha. O Ciro é um grande brasileiro, é um cidadão que, para um projeto de mudança, é imprescindível. Nós não podemos abrir mão dele.”

“Temos de chamar o Boulos também. Tem de conversar com o PSB, para ver se o partido vem formalmente para a campanha. Isso é muito importante. Eles apoiaram no primeiro turno, estivemos juntos.”

“Aqui em São Paulo também é possível. Acho que o Márcio França só foi para o segundo turno porque uma parte de nosso eleitorado votou nele, fez o voto útil, para não ficarem o Dória e o Skaf. Nós gostaríamos que eles nos apoiassem, o PSB, e nesses termos acho que nós teríamos enorme disposição de apoiá-lo no segundo turno.”

“Temos de promover um diálogo com a Rede. Mas esses diálogos têm de ser em fases. Temos de coesionar a esquerda, depois ir um pouquinho mais e chegar ao centro, o centro político.”

“Requião tem de vir, o Bresser-Pereira… Hoje eu recebi um telefonema de um setor do PSDB que quer nos apoiar, PSDB progressista, um sujeito aqui de São Paulo, quer conversar. Há uma alma democrática nos outros partidos que nós não podemos desprezar, que não aceitará esse retrocesso.”

“Essa frente pode conquistar muita gente no empresariado que pode nos apoiar, empresários que têm boa formação. A frente dará amplitude maior à campanha. Precisamos incorporar esses que venham, precisamos debater. O que está em jogo é a democracia brasileira.”

“Temos de convocar todo o povo brasileiro para impedir que o país caia no precipício, para a gente fazer um país que gere emprego para as pessoas, distribua renda, se industrialize. Ao mesmo tempo tenha uma escola pública boa. É possível. Saúde boa, segurança: tem de passar polícia onde não tem delegacia –o Estado tem de botar ordem no lugar, e não o cidadão se armando.”

“Vamos fazer uma frente democrática no Brasil, que tenha um programa de desenvolvimento e que evite o mal que representa esse cidadão, seu vice, o seu assessor econômico, eles não gostam de pobres. Portanto os pobres precisam dar uma resposta contundentes a esse cidadão.”