“Raios e trovões!!!”. Com um sorriso maroto, assim esbraveja o dr. Victor nos estúdios de TUTAMÉIA. É Sérgio Mamberti encarnando seu célebre personagem no Castelo Rá-Tim-Bum, série infanto-juvenil da TV Cultura. O mago da ficção televisiva tem 3000 anos e é amigo das crianças e dos animais.
Ator, diretor, produtor, autor, Sérgio Mamberti está chegando aos 80 e fala de tudo nesta entrevista: lembra que via Pagu em Santos, rememora a festa que foi o fim da Segunda Guerra Mundial (e de sua desilusão com as bombas atômicas jogadas pelos EUA no Japão), conta como foi a resistência do teatro durante a ditadura militar, faz um balanço de seu trabalho no Ministério da Cultura no governo Lula –e fala de “Panorama Visto da Ponte”, peça de Arthur Miller em cartaz em São Paulo, na qual ele atua (acompanhe no vídeo acima).
Com mais de 50 anos de trabalho, Mamberti viu a peça em 1958, uma montagem estrelada por Leonardo Villar. O texto, escrito em 1955, foi feito no contexto do macarthismo, um período de “demonização das pessoas de esquerda”, destaca o ator. O enredo trata de imigração, delação, pobreza –temas atualíssimos. Autor, Miller (1915-2005) foi vítima de perseguição política nesse período nefasto da história norte-americana. Ele também escreveu o clássico “Morte de um Caixeiro Viajante”, que será encenada no Brasil no ano que vem igualmente por iniciativa de Mamberti.


ÓDIO E COERÊNCIA
Impossível não fazer relação entre aquela época nos EUA e os dias atuais no Brasil. Petista e militante pela democracia, Mamberti fala das perseguições que sofreu no período recente. “Essa coisa de ódio que não tinha e passou a permear as relações na sociedade”, declara. Ao mesmo tempo, diz, sentiu muito apoio e solidariedade.
“Eu me sinto muito resguardado pela muita coerência e pela minha visão humanista, que é muito reconhecida publicamente. Não cultivo nenhum tipo de antagonismo irracional. Respeitar a opinião de cada um é o princípio democrático”, afirma. E segue:
“Eu lutei a minha vida toda pela preservação do Estado democrático, onde a cultura tem um papel estratégico fundamental. Faço minha militança política por meio da cultura. A cultura ligada a todos os processos de construção do Estado democrático. Luto em defesa da diversidade cultural. Eu me sinto muito feliz comigo mesmo de ter conseguido me manter coerente dentro dessa postura. A cultura incomoda porque a cultura questiona”.
LUTA DE CLASSES
Mamberti rememora as ameaças que artistas recebiam também na época da ditadura militar. Fala de Vladimir Herzog, de Heleny Guariba, da repressão ao “Roda Viva”. Fala da desconstrução de políticas públicas, dos retrocessos em múltiplas áreas. Ele se emociona ao falar de Lula, da perseguição e da possibilidade de o ex-presidente participar da eleição.
“É o arbítrio. Há uma visão preconceituosa. Lula é tratado como um operário, e operário não tem direito de chegar à Presidência. É uma visão classista. É luta de classe. O mundo está precisando dessa visão universal de garantia de direitos, em que o cidadão esteja em primeiro lugar. A visão humanista deve prevalecer sobre essa visão puramente economicista”, afirma.
E ressalta:
“Essa luta que a gente está travando está totalmente relacionada com o futuro, é muito crucial. Tem uma candidatura extremamente ameaçadora a direitos. Não existe imites, há um despreparo absoluto”.
Mesmo com essa apreensão, sua mensagem é otimista:
“Vamos sair de 2018 mais fortes e olhando para o futuro com mais confiança”.
“Raios e trovões!!”